Além do sofrimento que você (nós) conheceu

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Trabalhar no escritório do Rokudaime, junto com Shikamaru, dava uma dor de cabeça que Naruto só sentiu na época que estava na academia ninja. Contudo, ele se esforçava ao máximo para entender todas aquelas planilhas e documentos que precisava preencher.

Nos meses seguintes, Naruto trabalhou apenas no escritório, conseguiu compreender melhor a divisão de equipes, as disputas entre Clãs, a diplomacia entre os países e entre uma reunião e outra, ele descansava sentado no balcão do Ichiraku ramen, aproveitando a refeição, na maioria das vezes sozinho.

Naruto terminou a quinta tigela de ramen e pagou a conta, despedindo-se em seguida com um aceno de mão. Ele caminhou pela vila antes de voltar para casa. Não estava a fim de chegar em seu apartamento naquele momento.

Durante o percurso aleatório que fez, recebeu cumprimentos e alguns presentes como sorvetes, doces e qualquer coisa que os moradores possuíam e achassem de valor. Naruto agradecia e os recebia com carinho, já havia cansado de dizer que não precisava, mas era como falar e ninguém ouvir.

Então, um dia, Sakura disse que era a forma deles agradecerem pelo o que ele fez protegendo a Vila, a ponto de quase sacrificar a própria vida. E cada membro daquela Vila era mais valiosa do que qualquer presente que eles pudessem oferecer.

Sempre com um sorriso nos lábios, Naruto desejava boa noite e continuava seu caminho, até que chegou no prédio em que morava; era inevitável o suspiro desanimado ao abrir a porta, encontrando a luz fraca da rua a iluminar o chão do cômodo.

Não faltava convites para passeios, festas, noite de bebedeiras, uma companhia mais íntima se quisesse, de homens ou mulheres. Só que nada de fato o animava a ponto dele se abrir para qualquer experiência que não fosse o trabalho. Kakashi vinha cobrando que ele tirasse uma folga, e mesmo em suas folgas, Naruto preferia treinar a ter que fazer qualquer outra atividade.

Sentia ainda a traição de Sasuke queimar seu peito. Sim, pois deixá-lo sozinho em um dos esconderijos de Orochimaru no meio da madrugada, era pior do que ter tentado enfiar a espada em seu estômago. Eles eram dois homens adultos, e deviam agir como tal!

Era revoltante recordar as horas que passaram juntos, entregando-se para ele de todas as formas possíveis e receber como troca o mais puro vazio e desinteresse do Uchiha. Toda vez que se lembrava disso, sentia vontade de socar a cara dele. Ah! Se tivesse oportunidade para isso...

Logo depois que deixou os presentes em cima da mesa, Naruto se virou e saiu, desceu as escadas e correu em alta velocidade até uma zona de treinamento distante, criando alguns clones. Não precisava dizer a eles o que fazer, apenas iniciou uma longa briga entre si, onde queimavam com fúria o chakra até que Naruto caiu deitado, restando apenas ele no campo destruído. Com os pensamentos desordenados, a frustração apertava em seu âmago, como uma espada afiada.

"Garoto..." a voz da raposa parecia irritada. "A gente pode acabar com isso."

"Não enche." Naruto abriu os olhos e encarou a raposa de frente.

"Quanto mais você se reprime, mais eu me ferro, então dá um jeito nisso, ou eu mesmo vou chutar sua bunda tão longe que você vai parar no outro continente." Ela rosnou, fazendo Naruto rir baixo.

Ele dormiu no campo e no outro dia acordou com bicadas em sua testa. Abriu os olhos e viu a cara de um pássaro que começou a berrar aquilo que ele chamava de canto.

— Porra, sai daqui! Eu ainda não morri seu urubu maldito. — Mesmo sabendo que aquele era um falcão, Naruto o expulsou balançando os braços de forma irritada.

O bicho sobrevoou por sobre a sua cabeça, enquanto ele se levantava e andava de volta para a vila. O falcão deu um voo rasante, enfiando as garras nos cabelos loiros. Naruto gritou com os fios sendo puxados e soltou um rasengan na direção dele, mas o pássaro era muito ágil, além de irritante, conseguiu se esquivar e voltou a atacá-lo de forma violenta.

Black WingsWhere stories live. Discover now