— Tome seu café Dakota – tento sair de fininho quando ouço minha mãe.

Entro na sala e vejo ela sentada ao lado do meu padrasto, que está lendo seu jornal até sua atenção se voltar para mim. Tadeu me olha diferente e isso me incomoda muito, me sinto enjoada toda vez que ele está por perto.

— Tome seu leite e coma um pão, e vá direto para a escola – mamãe fala como se importasse.

Sei que ela está fazendo isso apenas por Tadeu estar a mesa.

— Sim – falo sentando e pegando o pão.

— Como está indo a escola? – Tadeu fala com sua voz rouca.

— Está indo bem – falo neutra, não querendo muita conversa.

— E tem muitos amigos? – ele pergunta curioso.

— Não

— Que isso filha, tenho certeza que tem bastante amigos – mamãe fala.

Realmente não menti, não tenho amigos já que eu sou a garota estrangeira. As meninas não gostam de mim e os meninos ficam o tempo todo querendo me tocar. E isso me deixa muita irritada.

— Tenho que ir, estou atrasada – falo pegando minha mochila.

— Eu te levo – Tadeu fala fazendo meu coração disparar e não do jeito bom.

— Não precisa se incomodar, a escola é aqui perto – falo tentando sair da sala.

— Eu disse que vou te levar – ele fala sem deixar que eu responda.

Beija os lábios de minha mãe e sai, eu tenho o acompanha até seu carro. Quando entramos ele logo da partida. Minha mãe tem 40 anos, loira dos olhos azuis. Tadeu é bem mais novo que ela, 29 anos, loiro dos olhos verdes.

— Sabe, agora que somos uma família teremos algumas regras para serem seguidas – ele fala neutro enquanto dirige.

— R-regras? – nunca tivéssemos regras em casa.

— Sim, mas isso vamos conversar depois. Por agora quero que saiba que está proibida de conversar com qualquer garoto – ele fala como se fosse uma coisa normal.

— Não entendo – falo confusa.

— Quando chegar a hora certa, vai entender – ele fala parando em frente à minha escola.

— Obrigada pela carona – falo pegando minha mochila.

— Se cuida, flor – ele fala tocando a minha perna e deslizando seus dedos sobre ela.

Aquilo me deixar muita assustada e acabo saindo praticamente correndo do carro, entro na escola perdida. Não sei o que aconteceu naquele carro mas tenho certeza que foi errado. Com o passar do tempo as coisas foram ficando ainda pior, quando completei meus 14 anos minha mãe me espanca todos os dias. Me dizia se eu fizesse algum barulho seria ainda pior, então aprendi a ficar em silêncio. Não esboçava barulho algum, nem ao chorar fazia barulho, um total silêncio.

— Vadia senta aqui – mamãe fala assim que coloco sua comida na mesa.

Me sento perto dela e Tadeu está em minha frente, ele sempre neutro.

— Hoje a noite receberemos uma visita, ele é muito importante para a nossa família. Então quero que se comporte e não abra essa boca para nada – ela fala já me fazendo levantar e ir para o porão.

— Se sobrar alguma comida você pode vir comer, se não coma o resto que sobrar do nosso prato – Tadeu fala maldoso.

Apenas balanço minha cabeça e volta para o porão, lá eu choro em silêncio. Eu odeio a minha vida, e sempre fico me perguntando o por que do meu pai me deixar aqui. Levanto da cama para fazer o jantar para a visita e quando termino desço para me arrumar. Visto um vestido xadrez que vai até minhas cochas, deixo o cabelo solto. Meu cabelo é preto ondulado, puxando ao meu pai. Tenho os olhos puxados e sou muito branca, tenho muito corpo e sei disso.

Adônis Morris - Série Hellish Demons Where stories live. Discover now