2- A Fronteira Entre o Real e o Imaginário

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DD, abreviação para doutor Dexter, estava me esperando na porta de entrada da clínica, já eram oito da noite e a clínica estava a muito fechada, provavelmente ele voltou de casa para me atender depois que eu liguei do taxi.

"Desculpa DD, mas eu não sabia para onde leva-lo."

"Deixa disso Evan, sabe que é só chamar e eu venho." Ele se apressou em me ajudar a carregar o cachorro, mas assim que ele se aproximou recebeu um rosnado de aviso.

"Calma rapaz, ele é amigo, está aqui para nos ajudar, shh." Acalmei o animal passando as mãos em sua cabeça, logo abaixo das orelhas, isso parecia acalma-lo.

Algum tempo depois estávamos dentro da clinica, enquanto DD limpava as feridas do cachorro encima de uma mesa de metal, eu observava em silencio o trabalho de DD e como seus músculos trabalhavam por baixo da camisa branca e da calça de denim creme. Eu havia conhecido DD logo que cheguei na cidade para começar meu curso na faculdade, uma amizade rápida e um elo nos uniu, nos uniu tanto que ele tirou minha virgindade e baseado em minha pouca experiência foi um dos melhores sexos que já existiu. DD tinha por volta de um metro e oitenta, uns cinco centímetros maior do que eu, pele cor de chocolate e a cabeça raspada, uma face que exalava bondade e integridade, realmente teria sido meu namorado se eu não tivesse conhecido Pablo um dia depois e me apaixonado irremediavelmente por ele, o que na época pareceu ser reciproco. Mesmo assim eu e DD mantivemos uma amizade firme, não muito constante, mas sempre muito divertida e sincera.

Pensar em Pablo me fez suspirar alto e isso atraiu a atenção de DD ( o cachorro não tirou os olhos de mim nem por um minuto ). Ele estava terminando de enfaixar a perna do cachorro quando me lançou um olhar curioso.

"Você está ensopado da chuva hein?"

"Sim, eu... sai para espairecer um pouco."

"Hmm, sei. Cabeça cheia né?"

Eu tive que sorrir por causa da ironia. "Sim, cheia de chifres." E então cai na gargalhada, o cachorro fez um som abafado e suas orelhas pontudas apontaram para trás enquanto dava uma piscada longa e dolorosa.

DD parou o que estava fazendo e me encarou, mas permaneceu em silencio.

"O que foi?" eu rapidamente me controlei e encarei com pessimismo aquele silencio dele, eu não era idiota, não tanto, assistia muitos filmes e em vários deles eu tinha visto aquela expressão, pena? Simpatia? "Não, você não vai me dizer isso."

Ele simplesmente ergueu as mãos para o alto em sinal de defesa.

Meu mundo afundava cada vez mais. "Sério? Então eu sou realmente o ultimo a saber?"

Ele então cruzou os braços e encostou-se à mesa de metal, o cachorro calmamente observava a interação.

"Eu suponho então que essa não foi a única vez? E nem que ele era discreto em relação a isso, não é?"

DD suspirou, visivelmente embaraçado e eu me odiei por estar nessa situação, por ter permitido que entrasse alguém na minha vida que me fizesse sentir tão lixo quanto Pablo me fazia sentir naquele momento. "olha Evan, não fique com raiva, eu só não achei que deveria contar, sei lá, isso é complicado."

"Eu entendo, é meu relacionamento, entendo sua situação, eu nem sei o que faria no seu lugar, não te culpo por não ter me dito nada."

Ele me olhou por uns momentos em silencio. " você é realmente incrível Evan, o Pablo não te merece, saiba que todos seus amigos te admiram muito."

"Obrigado." Eu não tinha mais nada para falar, ao meu redor eu só via ruínas.

"Evan, você alguma vez já imaginou como teria sido se..." DD veio se aproximando de mim a passos lentos, mas mesmo assim algo alarmou o cachorro, que começou a rosnar ameaçadoramente assustando DD. "Wow, parece que seu cachorro é realmente possessivo!"

Evan e o Rei- 1° LivroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora