1- Manipulações do Destino.

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Meus ganhos me permitiram financiar uma casa, confortável até, perto do meu trabalho. Eu não pude colocar cercas brancas como era meu sonho, mas a vizinhança era boa, uma rua totalmente residencial e calma, minha casa tinha duas arvores jovens, uma de cada lado na frente do portão, e um pequeno jardim antes da porta de entrada, como eu não tinha carro, nem planos para ter um fiz certo paisagismo amador e meu pequeno jardim tinha um caminho de pedras que levava à porta de entrada. Logo de cara me chamou a atenção um carro parado na frente da casa, mas apenas registrei isso como uma visita de algum dos vizinhos. Assim que entrei notei a camisa e os tênis de Pablo espalhados na sala, junto com uma gravata. Não que Pablo não tivesse uma gravata, mas ela estava a tanto tempo guardada que eu não me lembrava da cor. Os barulhos vindos do nosso quarto no fim do corredor me chamaram a atenção, claro que a porta não estava fechada, ninguém esperava visitas e era bem típico de Pablo ser autoconfiante o suficiente para imaginar que nunca seria pego no ato.

E então lá estavam os dois, Pablo colocava as calças (o ato já havia sido consumado) com uma certa irritação, o outro cara eu não podia ver direito, pois ele estava de costas, colocando o terno.

"Tá na hora você vazar cara, isso foi um erro, se eu soubesse que seria tão ruim assim não teria arriscado."

Apesar da situação eu tive vontade de rir, Pablo era a única pessoa que eu conhecia vã o suficiente para jogar a inabilidade sexual de uma pessoa na cara dela e trata-la como lixo depois do sexo.

"Onde está minha camis...!"

Nessa hora ele me percebeu parado no corredor, sua face perdeu toda a cor.

"Merda, você disse que ele estaria na empresa, seu retardado!" e nessas palavras ele direcionou toda a culpa para o amante. Mas quem era o amante? Como ele saberia meu horário de trabalho, então me deu o estalo e eu reconheci a gravata jogada no chão.

"Meu deus..." eu olhei em direção à voz diminuta e fina do amante do meu atual ex-namorado para ver a face do meu chefe, Don. Então tive certeza estar vivendo e uma novela mexicana com roteiro ruim.

Para explicar essa parte eu tenho que voltar uma semana na festa de boas vindas à Don na empresa, na qual levei o meu namorado, sempre tão popular entra as minhas colegas de trabalho, afinal, Pablo é realmente um deus grego. Pablo era loiro, alto, cerca de um metro e noventa, corpo esguio e cheio de músculos, como um nadador e os olhos verde esmeralda mais lindos que já foram postos em um ser humano, sem contar que o cara exalava sensualidade, pelo jeito de andar, falar, olhar. se eu fosse um pouco mais atento com certeza teria percebido o olhar que rolou entre os dois quando os apresentei e o discreto flerte que rolou entre eles durante a festa, mas eu não esperava por isso então não registrei nada disso.

Voltando ao presente lá estava a cena patética no meu quarto, Don estava praticamente se mijando de medo, enquanto Pablo colocou seu melhor sorriso comercial no rosto e veio em minha direção.

"Qualé meu amor, nem rolou nada entre eu e ele, não somos compatíveis, foi um erro meu falou? Vamos esquecer isso e seguir em frente, ok?! "

Eu levantei minha mão fazendo um sinal para pará-lo. "Eu vou sair para correr, quando voltar quero você fora da minha casa, leva o que você puder levar, amanha o Tom leva o resto para onde quer que você esteja morando."

O sorriso sumiu do rosto de Pablo, eu sabia que mencionar o nome do meu irmão Tom surtiria esse efeito. Virei-me para sair antes que a cena virasse um dramalhão e pelo canto do olho vi Don congelado ao lado da minha cama, eu teria que lidar com ele depois, mas não agora, eu estava me sentindo anestesiado e precisava respirar ar puro.

Nenhum dos dois me seguiu quando sai da casa, ambos querendo preservar a própria imagem e evitar escândalos.

Dirigi-me a reserva ecológica ali perto, que tinha uma trilha e ciclovia que os moradores dos arredores usavam para correr e fazer esportes. Qualquer um dos meus amigos saberia que eu me refugiaria ali depois de uma tragédia para colocar a cabeça em ordem, mas Pablo não. E isso me trouxe o primeiro dos banhos frios de realidade daquela noite. Eu vivi com Pablo por 4 anos, é éramos namorados desde a faculdade, quando eu tinha 17 anos, mas ele realmente nunca se importou em me conhecer.

Pablo só se importava com Pablo, o sexo era ótimo por esse mesmo motivo, pessoas egoístas geralmente são criativas na cama e durante 4 anos Pablo deu um show nela. Mas a convivência era difícil, eu o conhecera quando me mudei para a republica na faculdade, Pablo era um dos moradores lá, cursando administração, em poucos meses tínhamos um relacionamento sério e a um ano atrás consegui finalmente comprar uma casa. Meu biótipo é bem comum, um metro e setenta e cinco de altura, cabelos pretos e olhos azuis e um bom corpo, mas nada de extraordinário que pudesse justificar o interesse de alguém como Pablo então ao longo dos anos eu me convenci que era amor, e medida que avançava parque adentro a realidade da situação começava a me esmagar. E se essa não fosse a primeira vez? E se ele estivesse fazendo isso a muito tempo, em nossa própria cama?

Perdido em pensamento eu não vi quando a neblina do crepúsculo tomou conta da paisagem, deixando tudo ao meu redor um pouco mais surreal, a reserva era um pedaço de mata atlântica, mas ao longo da ciclovia haviam sido plantados pinheiros que agora eram gigantescos, apesar da ocasional lâmpada elétrica o resto do caminho começava a escurecer rápido.

Eu só prestei atenção no mundo ao meu redor quando um som vindo das árvores me chamou a atenção, algo grande passou por mim dentro da mata ao meu lado, logo a frente mais barulho, eu interrompi meu passo e escutei atentamente, eu não era o alvo ali, mas havia uma caçada em andamento na mata ao meu redor, olhei ao meu redor, não havia ninguém, a fina garoa que caia agora havia espantado os esportistas e só então percebi que minha roupa estava ensopada com ela, os sons pararam e decidi seguir em frente, mais a frente havia uma saída com acesso a um ponto de taxi e eu pegaria um para a casa de algum amigo meu provavelmente minha amiga de infância Julia, pelo menos por aquela noite, até certeza de que não veria Pablo nem tão cedo. Um ganido ao meu lado me chamou a atenção, parecia ser de um cão e me transmitiu pura dor, fiquei imóvel esperando por outro sinal e quando o segundo gemido veio eu consegui localizar a fonte e adentrei a mata, só então eu percebi que essa parte da reserva era uma encosta, o lado da mata que eu entrei era uma subida, isso não era visível da ciclovia que cortava a reserva por causa da mata densa, estava bem escuro ao meu redor já e tive que usar o visor do meu celular para me dar alguma luz, uns 20 metros mata adentro eu localizei o cachorro caído no pé de uma arvore, parecia ser um malamute (eu passei um tempo olhando um guia de raças de cachorro na sala de espera em algum consultório, então sabia diferenciar um malamute de um husk, kudos para mim) estava com a pata traseira seriamente ferida e pelos sinais ao redor aparentemente veio rolando morro abaixo fugindo de seu perseguidor ou enganado por sua presa. Assim que me aproximei ele ergueu a cabeça em minha direção, em alerta.

"Calma rapaz, eu estou aqui para te ajudar." Ergui minhas mãos com as palmas viras para e frente e inclinei um pouco meu corpo, para ele ver que não tinha intenção de ataca-lo "Sou um amigo, ok, posso chegar mais perto?" ele obviamente não respondeu, mas deitou a cabeça, deveria estar tentando alcançar a pata ferida. Eu me aproximei vagarosamente e estendi a mão na sua frente, ele me cheirou e então para meu alivio lambeu minha mão, eu passei ela pelos seus macios pelos acima da cabeça, era um cão bem cuidado, com certeza tinha um dono por ai, mas não possuía coleira. A ferida ainda sangrava, ele teria que ir ao veterinário urgente, por sorte eu conhecia um que me atenderia a esse horário, só tinha que tirar o malamute dali e leva-lo até o ponto de taxi. "Garotão, agora eu vou ter que te levantar e te carregar para cuidarmos dessa sua ferida, isso não vai ser agradável para mim nem para você, mas vou ser cuidados, por favor, não arranque meu pescoço fora com esses dentes ok?"

Com cuidado eu o levantei, calculei que em pé deveria ter por volta de setenta centímetros e não pesava mais de quarenta quilos, eu aguentaria carrega-lo por algum tempo, eu tinha eu fazer esse esforço ou o pobre cachorro sangraria até a morte naquele lugar, exceto por um grunhido de dor ocasional ele não esboçou nenhuma outra reação para meu alivio. Foi uma longa caminhada para sair da floresta, para nossa sorte meu senso de direção é ótimo, então não nos perdemos, quando alcancei a ciclovia a noite já estava pesada sobre nós, o que dificultou o caminho foi o peso do cachorro, porém em alguns minutos eu alcancei a ponto de taxi do lado de fora da reserva, um pouco de dinheiro a mais e a desculpa que meu cachorro tinha se machucado na mata foi o suficiente para convencer o taxista.

NOTA:

ESQUECE-ME DE CONTA, LOGO NO INICIO DO CONTO, MAS A HISTÓRIA DE Evan É DIVIDIDA EM TRÊS PARTES (OU EM TRÊS LIVROS)SENDO ESSA 1°PARTE.

Evan e o Rei- 1° LivroWhere stories live. Discover now