XXIII

428 68 64
                                    

Me deitei ao lado de Gemma após aquela pequena e profunda conversa que tivemos, ela chorava um pouco enquanto me dizia que não gostava quando eu falava que poderia não estar mais aqui algum dia. era difícil vê-la naquele estado e eu me culpei por ter feito isso. Fiz um pouco de esforço para não chorar na frente dela, queria passar um pouco de confiança, mesmo que fosse um pouco difícil naquele momento. Fiquei fazendo um carinho e abracei minha irmã até que ela fosse dominada pelo sono, só assim pude realmente raciocinar tudo que havia acabado de acontecer.

Percebo que havia me despedido sem nenhuma intenção de fazer isso, foi natural. Eu estava antecipando as coisas e era assustador pensar que nada conseguiria me manter aqui durante os oito meses restantes. Deixo algumas lágrimas escorrerem por meu rosto, às vezes eu gostaria de saber se todas essas coisas estavam acontecendo como um sinal para que eu acabasse com tudo logo.

Eu sabia o que precisava fazer naquele momento, então tomo muito cuidado ao levantar da cama, não queria acordar Gemma novamente. Pego minha mochila e caminho na ponta dos pés até o banheiro, a última coisa que eu precisaria era que alguém me visse.

Alerta de gatilho: Automutilação, insegurança e palavras que podem servir como gatilho para algumas pessoas. Peço que não leia caso ache que isso possa engatilhar você, priorize sua saúde mental.
Deixarei sinalizado quando o gatilho terminar.

Após trancar a porta do banheiro, retiro meu moletom e minha calça antes de me olhar no espelho. Eu sentia nojo de mim mesmo. Era horrível ver todos os meus cortes e o quão magro eu estava. Não conseguia me reconhecer no reflexo do espelho, onde eu estava? Quero descobrir para onde eu fui, quando eu me perdi? Quando foi que tudo deu errado? Como eu não percebi?

Todas essas perguntas me davam dor de cabeça, eu não tinha a mínima ideia de quem eu era e talvez isso fosse resultado de todas as vezes que eu mudei para tentar agradar as pessoas ao meu redor, perdi minha essência de uma forma tão natural. Me sentia um lixo por não me conhecer.

Eu merecia piorar, merecia me punir e merecia morrer. Eu me permiti chegar nesse estado, então eu deveria sofrer.

Olho para nos meus olhos através do reflexo no espelho, sinto raiva de mim mesmo, não entendo como eu pude ser tão egoísta e estúpido por não ter pedido ajuda para ninguém, não passo de um filho da puta arrogante e eu merecia me machucar por isso. E assim eu fiz, peguei uma lâmina - a mesma que carregava comigo para todos os lugares - de dentro da minha mochila e a posiciono sobre minha coxa, me sentia como um escravo da minha própria mente.

Passo a lâmina de forma profunda e lenta sobre a minha pele, podendo sentir meu sangue escorrendo por minha perna, eu me segurava para não gritar. Era bom sentir meus pensamentos ficarem silenciosos enquanto eu me cortava, isso era um alívio tão grande para mim. Faço mais dois cortes em minhas coxas, não sei ao certo o motivo de ter feito esses, não reclamei, eu os merecia de qualquer forma.

Parte de mim se sentia confusa em saber como eu me tornei dependente dos cortes, nunca sabia como me sentir depois de fazê-los... Eu deveria me sentir aliviado ou culpado? Talvez uma mistura dos dois.

Fim do gatilho.

***

Levei um susto quando saí do banheiro.

Jay estava na porta do quarto onde Gemma estava dormindo e eu entrei em desespero por estar andando de forma estranha. O tecido da calça fazia meus cortes arderem muito mais. Também estava com minha mochila em minha mão, não tinha como escondê-la.

— Harry! Estava preocupada, escutei alguns barulhos de choro e você não estava aqui quando eu cheguei...

— Me desculpa, Jay. — Ela olhou para a minha mochila.

La di die [larry stylinson]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora