Capítulo 10

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O sol já se preparava para recolher quando Lara caminhava em direção ao Forte de São João Baptista da Foz. Um vermelho alaranjado pintava o céu e os pontos escuros que sobrevoavam sobre a sua cabeça, eram de pequenas gaivotas que tão livremente percorriam o seu destino. Como Lara as invejava. Os seus olhos refletiam um medo ansioso de não conseguir afastar Enzo tal como Maria a tinha aconselhado. O seu corpo oscilava desde que abandonou o apartamento para este tão inesperado encontro. As ondas suaves e silenciosas do mar acalmavam o tão agitado pensamento da mulher ansiosa.

O medo pesou e Lara sentou-se. As suas pernas cansadas cederam ao peso que carregava e Maria não estava lá para a levantar. Não. Desta vez, teria de o fazer sozinha. Em pensamentos divagantes desorganizou tudo o que Maria tinha arrumado. As dúvidas começaram a emergir. Aquelas dúvidas. Aquelas dúvidas que desassossegam a alma por serem tão pequenas mas que por serem tão persistentes se tornam grandes e pesadas. Este era o peso que carregava. Sabia que Enzo pertencia ao passado mas ainda não sabia o que o presente tinha reservado para ela. Por sua vez, Duarte pertencia ao presente e não sabia se o futuro tinha algum plano para os dois.

Serena por acostumada a pensamentos tumultuosos, ouviu o céu falar com ela. Quem tinha asas ria-se. E as gaivotas riem-se sempre. Talvez, tivessem também os seus problemas mas nada que as fizesse deixar de rir. E voar. Levavam assim a vida. Entre a calmaria do mar e a agitação da cidade. Por vezes, o oposto. Entre a calmaria da cidade e a agitação do mar. Mas escolhiam sempre rir. Por algum motivo, esta reflexão arrancou-lhe um sorriso fazendo lembrar os momentos com Maria. Levantou-se com essa força e caminhou os poucos metros que faltavam para o ponto de encontro.

Ao chegar ao Forte, Lara viu um homem alto de ombros descontraídos com a sua elegância peculiar e extremamente atraente. Era Enzo que já a esperava. Inconscientemente, as pernas de Lara desta vez não pararam, apressaram-se a ganhar vida até ao seu encontro. Assim que chegou perto dele, não pensou em Duarte. Não pensou em Maria. O turbilhão de pensamentos desapareceu e a sua mente esvaziou. Naquele momento, só existia Enzo e por alguma razão, gôndolas e casas coloridas.

Mia Bella!

Os braços fortes e compridos deste homem envolveram o corpo dela. Por momentos, Lara deixou-se ficar sem reação e com os braços ainda pendentes.

― Tive tantas saudades tuas, Bella!

Como se tivesse dito as palavras mágicas para um truque barato de ilusionismo, os braços de Lara ergueram-se para abraçar de volta. Puxou-o um pouco mais para si, sentindo o corpo caloroso e convidativo a que já se entregou. Um breve suspiro conteve-a, e enfraqueceu o aperto que trazia Enzo para perto.

― O que se passa mia Bella? Não pareces entusiasmada por me ver.

Os dois corpos afastaram-se para se observar mutuamente. Os olhos falaram-se com sinceridade.

― Talvez, entusiasmada, não seja a palavra certa. Surpreendida.

― Então, não gostaste da surpresa?

― Enzo, eu não sei bem o que dizer. Foi muito inesperado. Aliás, eu nem sei se acredito que estás aqui.

Enzo agarrou-a pelas mãos, trazendo-a carinhosamente para perto de si. Sem resistência, como uma folha a esvoaçar ao sabor do vento. Sem rumo ou destino. Lara entregou-se ao movimento. O italiano procurou palavras de encantar, encontrou-as e entregou-as a Lara.

― Melhor. Estamos aqui. Juntos.

Lara suspendeu a respiração num arrepio incerto pelas palavras que tanto a agradavam como a tentavam acorrentar ao passado. Tentou superar este conflito interno pela razão e não pelas emoções que começavam a aflorar.

AINDA NÃO É DESTAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora