2 - Hemmings

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[19/02/2013 - terça-feira]

Eu encarava o garoto a minha frente, que como da ultima vez tinha os braços cruzados e o rosto sério, mas dessa vez ele aceitou se sentar, eu não me animo muito com isso, Michael não parece ser do tipo de paciente que me da brechas para isso.

- Certo, eu ja sei que você não gosta de mim e nem de estar aqui, boa parte das pessoas não gostam, mas elas vêm até mim porque sentem precisam, nem eu mesmo gosto de como esse lugar se parece, mas você sabe por que está aqui? - Michael soltou uma risada sarcástica e me encarou com uma segurança que as pessoas que passam por essa sala não costumam ter. Normalmente não me olham nos olhos, se encolhem na minha cadeira e choram apenas de lembrar o motivo por estarem ali.

- Claro que eu sei. As pessoas pensam que eu sou um maluco que vou me jogar de uma ponte a qualquer momento mesmo eu nunca tendo tentado me matar, sequer pensado nisso, não quero tentar nada contra minha vida... E depois o maluco sou eu. -Tentei sorrir para o garoto.

- Não acho que você seja um maluco. - Lhe garanti e por um instante ele pareceu perder toda sua pose de um adolescente invencível e intocável.

- Estranho, pessoas como você costumam pensar isso. - O tom do mais novo era rude, não que isso me afete, coisas do tipo acontecem com certa frequência.

- Eu não sei o que seus outros médicos pensavam, mas eu acho que está em seu perfeito juizo. Não acho que esse seja seu problema. - eu me mantive sério e pela primeira vez meu novo paciente não rebateu com uma resposta rude, na verdade ele nem mesmo abriu a boca, apenas desviou os olhos.

- Eu não sei o que esta fazendo aqui. - Michael confessou se apoiando na mesa.

- Não entendo o que quer dizer. - Me encostei na cadeira o encarando confuso.

- Você tem o que? 20 anos? 22 no máximo. O que diabos você entende dessas coisas? Quer dizer, eu não acho que nenhum de vocês possa realmente ajudar alguém, nenhum nunca me ajudou, mas afinal de contas, como pode saber o que cura a dor de outra pessoa? Você não viveu o suficiente para saber. - Michael parece ser um garoto doce e curioso e eu acho graça quando sem querer ele deixa que isso apareça por trás de toda sua pose.

- Eu sou formado Michael, estudei muito pra conseguir meu diploma, eu tenho 28 anos. - Expliquei vendo o garoto a minha frente voltar a ficar calado. - Parece que as aparências enganam.

- Você não passa de um idiota. - E pela segunda vez Michael se levanta e sai da minha sala da forma mais rude que consegue.

Eu não vejo o que pode fazer com que Michael se comporte dessa maneira, digo, ele não deveria, não que eu dite o certo e o errado, o que ele deveria ou não fazer, eu só estou dizendo que, eu posso ver um garoto amável na minha frente toda vez que ele entra na minha sala, mas em poucos segundos ele passa a me atacar com palavras rudes que eu sei que não são sinceras e muito menos típicas dele, e eu quero descobrir que tipo de insegurança o torna tão agressivo.

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