Velho Amigo

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O prédio não poderia ser mais comum. Algo em torno de sete a quinze andares, não me dei ao trabalho de contar, o exterior cinza cheio de janelas pequenas e uma quantidade enorme de pessoas entrando e saindo a todo momento. Me surpreende que depois de tanto tempo trabalhando em campo como feiticeiro jujutsu, Kento Nanami conseguisse ficar preso dentro de um escritório daquela maneira.

Apesar de tentar recusar o meu convite feito logo nos primeiros horários do dia, o homem aceitou meu pedido de encontro para almoçar. Fiquei dois meses fora do país e antes disso já fazia algum tempo que não nos encontrávamos.

Esperava do outro lado da rua quando sua figura atravessou as portas de vidro, exatamente no momento que o ponteiro alcançou a marca do meio-dia, Nanami estava longe de ser aquele garoto franzino de costas curvas e cabelo comprido que conheci durante minha adolescência, agora o terno e figura imponente com certeza atraía alguns olhares mais maduros.

Acenei para ele e mesmo que estivesse com a feição sem expressões, como já era de costume, sabia que no mínimo ele queria me ver também, caso contrário não teria se dado ao trabalho descer.

-Você ainda está crescendo? Parece maior do que a última vez que te vi.

-Não é comum homens crescerem depois dos 20 anos - respondeu enquanto se aproximava - Duvido muito que tenha acontecido, deve ser uma mera questão de percepção.

-Ah, Kento! - abri os braços para que pudesse dar o cumprimentar apropriadamente - Como eu senti sua falta.

Ainda que um pouco relutante ele retribuiu meu abraço de maneira rápida, pude ouvir o homem suspirando alto enquanto fazia isso e não pude conter um sorriso.

-Animado como sempre.

-Quem me parece diferente é você - comentou indicando o caminho pelo qual deveríamos seguir. Como meu amigo é uma pessoa de rotina, deixei que escolhesse algum lugar em que ele se sentisse confortável.

-Diferente como? - rebati não entendendo o que quis dizer e me colocando a andar ao seu lado. - Não acho que eu mudei alguma coisa desde a última vez que te vi.

-Trabalhamos juntos por anos [Nome] sei dizer quando está preocupada ou escondendo algo. Então qual o problema da vez?

Fechei a boca numa linha, esse deve ser o preço de ter um melhor amigo. Duvidava que Satoru mesmo não tivesse percebido algumas mudanças no meu comportamento, ainda mais depois da pequena crise no dia anterior, mas estava esperando eu falar algo ao invés de só questionar.

-Um que parece não ter uma solução simples, como de costume. - coloquei as mãos nos bolsos soltando meus ombros, afinal ele tinha me desarmado por completo - Achei que não queria se envolver mais com jujutsu.

-Realmente não quero, mas você continua sendo minha amiga. Imagino que não seja nada ligado ao seu... Relacionamento.

Ri logo em seguida, ele dava seu melhor para tentar entender e ajudar - Apesar de ser gentileza sua se preocupar com esse aspecto da minha vida, não, não é.

Nanami não respondeu, apenas me encarou de canto de olhos antes de colocar as próprias mãos no paletó esperando que continuasse o assunto por conta própria.

-Minha... técnica parece estar atingindo uma fase um tanto quanto rebelde. - tomei cuidado com as palavras para não dar falsos entendimentos e continuei - Uma técnica absurdamente forte sempre tem alguma consequência, se Satoru não tivesse desenvolvido a reversão é capaz que ele já tivesse se autodestruído.

Esperei um grupo de adolescentes passar por nós, para voltar a fala - Parece que o tempo agora resolveu fazer algumas cobranças. Estive pesquisando algumas soluções mas nenhuma parece ter um resultado satisfatório.

-Você precisa de algo de mim, não precisa?

Claro que não demoraria para que ele percebesse. Abaixei a cabeça para a calçada encarando as pontas dos meus sapatos e parando em seguida.

-Uma confirmação, na verdade. - voltei a encarar seu rosto. Ele tinha parado e se virado para mim. - Mas não é o motivo principal pelo qual pedi esse encontro, realmente faz algum tempo que não nos vemos e você é provavelmente meu único amigo.

-Não precisa se justificar. - respondeu - Sei que não é do tipo que apenas recorre quando precisa de algo. Na verdade, acho que é a primeira vez que me pede algo sem ser em missão.

Kento girou a cabeça em direção a rua - Pode me falar o que precisa, mas primeiro tenho que cumprir meu horário de almoço. Não podemos ficar parando no caminho.

Uma vez Nanami, sempre Nanami. Continuamos andando, o assunto foi momentaneamente deixado para trás e as memórias de anos juvenis dominaram a conversa por um bom tempo. O restaurante que ele escolheu não era extravagante, pelo contrário era bem comum, aparentemente mantido por uma família e um lugar bastante frequentado por trabalhadores.

A mesa não era grande e só tinha duas cadeiras, uma de frente para outra, e o cardápio era o que se esperava de um típico restaurante japonês. Mas tinha uma aura caseira confortável.

-Como você descobriu esse lugar? - tinha algumas lanternas de papel vermelho penduradas sobre nossas cabeças servindo de decoração.

-É um restaurante antigo - Nanami tirou o paletó o colocando nas costas da cadeira - Vim uma ou duas vezes com Haibara, antes de você chegar, quando comecei a trabalhar por perto se tornou uma boa alternativa.

Um sorriso tomou meu rosto com a menção do nosso outro amigo, Yu Haibara, um dos feiticeiros mais incríveis que tive o prazer de conhecer. - Com certeza ele tentou te convencer por dias antes de realmente aceitar.

-Naturalmente.

Deixei que ele fizesse o pedido por nós dois e não demorou para que a comida chegasse, não conversamos muito durante a refeição. Apenas algumas coisas básicas, embora ele parecesse interessado na minha viagem diplomática feita pela escola,  um típico encontro de amigos. Foi apenas no final que ele retomou a pauta mais séria.

-Que tipo de confirmação precisa?

-Preciso que use a sua técnica amaldiçoada - não existia motivos para prolongar mais ainda o assunto - Como você encontra o ponto fraco das maldições preciso saber tem um ponto fraco em algo.

O homem pareceu um pouco confuso, e honestamente também estaria se estivesse em seu lugar.

-Está com você? - perguntou. - Ou pretende marcar um outro dia?

-Não - encarei seus olhos escondidos pelos óculos de lentes coloridas e disse com a voz mais séria e sincera.

-Sou eu.









N/A: HIHIHI cliffhanger de qualidade.

Meu 100or o que aconteceu com essa criatura enquanto estava na Grécia? Será que Satoru realmente sabe?

Me deixe saber vossos pensamentos.

Até semana que vem, Xx!

Kairós - (Gojo Satoru X Leitora)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora