Vanessa ficou furiosa, indo para cima de Jack. Mas ela não tinha poderes. Assim como eu.

- Saia de cima dele! - eu a empurrei, caindo junto com ela no chão brilhoso.

- VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE MIM! - ela gritou. Tinha muito tempo desde a última vez que ouvi sua voz. Mas ela soava mais firme, um pouco confusa e cheia de medo. 

- Não, Vanessa. Você não sabe nada sobre si mesma. - falei, e ela não fez nenhum esforço para sair debaixo de mim.

Ao nosso lado, Jack e James trocavam socos. Eu não queria ver o sangue azul os manchando. Meu coração doía ao ver Jack sendo machucado, sendo ferido. Olhei para o relógio.

00h

- Alice... - Vanessa murmurou embaixo de mim. Encarei-a e aquela luz dourada e prata estava refletindo no seu rosto. Uma luz cintilante que vinha de mim.

Meu braço.

Ele brilhava, como na festa do Taylor. Mas dessa vez, eu não sentia dor. Olhei para as pessoas que estavam amarradas, para os Hadrias que tinham sido presos.

O braço delas também estava brilhando.

Meus olhos se encheram d'agua. O rosto de Bea, assustado e maravilhado ao mesmo tempo consigo mesma. Eu pude ver o sorriso por trás da mordaça que eles colocaram nela. Todos os vermelhos estavam com suas rosas gritando em seus respectivos braços. Elas brilhavam. Meu coração se encheu de um sentimento que eu não conseguia explicar.

Levantei-me.

Meu poder corria nas minhas veias novamente, tão quente quanto antes. Finalmente podia sentir de novo, como se tivesse sido recarregada.

Ouvi os barulhos das correntes se quebrando. Os vermelhos se soltavam, com as próprias forças, ficando todos em pé, todos enfurecidos.

Os olhos de James ficavam assustados e eu podia vê-lo diminuir-se cada vez mais. Jack tinha parado de trocar socos com ele, apreciando o que estava acontecendo. Ali estava o motivo do massacre. Nós éramos muito poderosos. Era impossível para James.

Uma chama se acende no meu coração, um calor intenso se espalha nas minhas veias sem me causar nenhuma dor.

- É o fim. - sibilei. Contudo, ele já sabia.

Todos aqueles que iluminavam o salão se puseram de pé, na frente de James. Prontos para aniquilá-lo. E eu deixei.

Sei que não é muito bonito dizer isso, mas isto é porque se ele pudesse, ele mataria todos com o nosso próprio fogo. Deixei que eles extravasassem a sua própria raiva, as suas próprias dores. Estiveram fugindo por tanto tempo, mereciam isso. Ninguém pediu desculpas por ter matado a nossa família. Porque precisavam pedir desculpas agora?!

O corpo de James carbonizou e virou cinzas em menos de um minuto. Mas eu me distraí demais.

Enquanto observávamos fascinados o acontecimento, atrás de mim, Vanessa esfaqueava Beatrice.

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? - gritei assim que coloquei os olhos naquele horror. Ateei-a para longe. Seu corpo bateu na parede e caiu logo em seguida, desacordada, e eu desejei no meu íntimo, que ela tivesse batido ainda mais forte.

As chamas saíam pela minha pele. Eu não acreditava no que eu tinha acabado de presenciar.

Deitei o corpo da minha amiga nos meus braços.

- Não... NÃO! - gritei. - POR FAVOR CUREM OS MACHUCADOS DELA! FAÇAM ALGO! - todos abaixaram as cabeças. Nosso poder não alcançava isso. Meu poder não salvaria Bea. 

- NÃO! NÃO... - minhas lágrimas caíam sem que eu pudesse nem mesmo sentí-las. Não podia estar acontecendo, não desse jeito, não naquele momento...

- Ei... Está tudo bem. - ela murmurou, enquanto as lágrimas também caíam do rosto dela, escorrendo, misturando-se com o seu sangue.

Não, não estava. Nunca ficaria tudo bem.

- Me desculpa por não poder salvar você! - gritei - NÃO FAÇA ISSO COMIGO... - continuava a gritar enquanto minhas lágrimas continuavam a cair. Ela me encarava com olhos mansos, que piscavam lento. Ela segurava para não gritar a própria dor. A cena estava me quebrando. Seu corpo, completamente rasgado, cortado sem piedade alguma por uma garota orgulhosa, burra e infantil. Beatrice estava morrendo por causa de uma menina infantil.

- Você conseguiu. - falou baixinho - É... Por sua causa que vão existir mais de nós... É por você que esse povo vai se multiplicar...

- Bea, não... - implorei.

- Eu estou feliz por ter sido sua amiga. Foi muito divertido não ter uma vida comum. - sorriu. Ela sorriu com o corpo coberto de sangue. Bea estava sorrindo.

- Eu te amo muito. - enfraqueci. Não sentia meus músculos. Só a dor. A dor preenchia minha carne.

- Está tudo bem. Você é a pessoa mais importante para mim em todo o mundo. Foi... Inesquecível. - tossiu. Seus olhos não aguentavam mais. Mas ela insistia. - Eu também te amo muito, Alice... Obrigada... - Não conseguiu mais. Seus olhos se fecharam.

- NÃO. NÃO, POR FAVOR, POR FAVOR BEATRICE NÃO... - sacudi seu corpo. Mas ela não abriria mais os olhos. Minhas mãos estavam cobertas do seu sangue. Seu braço tinha a nossa rosa. A rosa que ligava nossos corações. - BEA! BEA, NÃO, NÃO... VOCÊ... NÃO, BEATRICE ACORDA, POR FAVOR NÃO BRINQUE COMIGO! - minhas lágrimas caíam sobre o rosto sereno dela. - NÃO... MEU DEUS O QUE EU FIZ... - Jack se abaixou ao meu lado e me abraçou. - A MINHA REVOLUÇÃO IDIOTA TIROU A VIDA DELA. - engasguei nas minhas próprias palavras. - JACK A BEA NÃO! - escondi meu rosto no braço dele.

Ela ficava cada vez mais gelada nos meus braços. Eu não aguentava sentir aquela dor. A qualquer momento eu me quebraria e explodiria como vidro. Não conseguia parar de chorar e gritar, como uma criança. Como se isso fosse alcançá-la e trazê-la de volta. Mas ela não vai voltar. Bea fechou seus lindos olhos para sempre. Bea sentiu tanta dor, mas engoliu ela para que eu não sofresse tanto. Beatrice dedicou tudo para que eu pudesse conseguir descobrir sobre quem eu era, mesmo quando não nos conhecíamos. E agora ela estava sangrando nos meus braços sem que eu pudesse fazer nada para ela acordar. Nada para seu coração continuar batendo. Aquele era o pior sentimento que eu já tinha experienciado.

Sophia e Kelly se aproximaram de nós. Vi as lágrimas nos olhos de Sophia. Vi Kelly tirar os óculos para fazer uma oração. Mas não vi Bea sorrir para tirar sarro daquela situação toda. Ela continuava dormindo, linda e fria nos meus braços.

[...]

Vermelhos e azuis ajudaram a desfazer a bagunça.

Poucas horas depois,  o corpo da minha Bea estava em uma caixa de vidro. Coberta por rosas vermelhas. Muita gente, que nem a conhecia, estava lá. Eu e Jack, abraçávamo-nos sem saber o que dizer um para o outro. Não havia o que dizer, minha cabeça estava cheia de coisas para serem gritadas, mas não era para ninguém em específico.

Ela não foi enterrada no mundo dos humanos. Era pouco para ela. Seu corpo foi deixado naquela dimensão, em um lugar que seria só dela, um lugar onde se fosse possível, ninguém a perturbaria. Não aguentei vê-la sendo colocada debaixo da terra, não suportava sequer a ideia de que ela não estaria entre nós amanhã. De que ela não estaria ali para me dar coragem para continuar, de que não ameaçaria Jack, 

O resto da madrugada foi melancólico. Ninguém conseguia me dizer nada e eu também não queria ouvir qualquer coisa.

[...]

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Alice [Completo]Where stories live. Discover now