Cap. 1. Um novo assassino age na cidade já marcada pelo derramamento de sangue.

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     A história a seguir se trata de uma ficção histórica, a qual alguns acontecimentos aconteceram de verdade. Porém, nem tudo foi seguido a risca de acordo como o que de fato ocorreu. TW: violência. Ótima leitura!

     "Um assassinato pode ser um ato horrível e trágico ou bondoso e exemplar, dependendo do ponto de vista de quem o analisa. Ou seja, agir como Deus e ceifar a vida de alguém, como se tivesse direito para realizar isso, é algo muito relativo. Em relação a isso, nota-se a importância de analisar o que acontece na natureza e aprofundar o entendimento sobre a principal, e provavelmente a primeira, lei natural de comportamento dos animais: sobreviver. Sobreviver é o básico, não importa o que se faça para realizar isso. O fundamental é matar primeiro para não ser morto". Trecho retirado dos papéis encontrados, dentro de um esconderijo, no cômodo de descanso do Bloody Snowman.

     Madrugada, nove de novembro de 1888. Londres, Inglaterra.

     – Que estado deplorável, santo Deus, seria essa uma das obras do próprio diabo? – O policial se benzeu depois de dizer isso.
     – Mas o que está acontecendo por aqui? Todo dia surge algum assassino lunático, já não bastava aquele mítico Jack que não gosta de prostitutas e aparece esse novo monstro agora — o detetive se aproximou mais do cadáver em processo de decomposição e com seus olhos, já sem muita saúde por conta da idade, seguiu os contornos irregulares do boneco de neve feitos por algum objeto cortante no rosto do que tinha sido uma mulher bonita e, talvez, com uma posição financeira boa — tal constatação foi feita por conta das roupas chiques e das jóias que eram pertencentes à bela dama gélida. Aquele ferimento havia sido feito depois da morte, como algo que criasse uma "identidade" para o assassino, pelo o que aparentava toda a cena do beco escuro em que os dois senhores se encontravam. A morte dessa dama e a do cadáver masculino, que estava próximo a ela, porém, foram ocasionadas por um corte profundo e extenso em seus pescoços. A mulher possuía um diferencial enorme: seus globos oculares haviam sido removidos. Aquele outro cadáver também tinha a mesma marca corporal da senhora, entretanto ele parecia ser algum pobre coitado qualquer, suas roupas estavam sujas e remendadas. Além disso, seus olhos, que expressavam fielmente o último terror que tivera ao ver a face da sua morte, estavam intocados. 
     Enojado pelo estado que aqueles indivíduos mortos se encontravam, o detetive logo cobriu o corpo da mulher de volta com o pano. Seu amigo estava ao seu lado, em respeitoso silêncio. Ele, notavelmente, tremia e estalava os seus finos dedos para esconder isso. "Bom, não o julgo. Além de toda essa situação tenebrosa, aqui está absurdamente frio", pensou o detetive, ao mesmo tempo em que notava o recomeço da queda fraca de alguns perdidos pingos de chuva.
     — Então… O que vamos fazer, senhor? — o policial perguntou após alguns segundos de silêncio.
     — Cuide de enterrar esses pobres corpos, é a única coisa que podemos fazer. Oferecer um descanso ligeiramente formal é algo para presentear eles com um ato bondoso pós-morte, algo que traga calma e bem-estar para suas almas depois de um triste sofrimento fatal. E a situação de miséria só piora, porque se passando 1 mês e alguns dias, chegará o natal e se tiverem família que festejem esse bom evento, tragicamente, sobrará um lugar na mesa esse ano. Infelizmente, em todos os outros anos seguintes também — ele tira uma caixa de cigarros do seu bolso, oferece a seu companheiro, que não aceita e agradece. "Pobre garoto-homem, há tanto ainda por vir em sua vida", o homem envelhecido pensa. Com um cigarro na boca, ele pega o isqueiro no mesmo bolso que havia tirado a caixa e acende.
    — E a investigação para descobrir o assassino? E as famílias das vítimas que não sabem da morte repentina de seus amados parentes? De que maneira faremos e divulgaremos esses lamentáveis acontecimentos? — o policial juvenil estava muito confuso, não sabia se o detetive estava sendo literal em dizer "a única coisa que podemos fazer" ou se ele iria explicar o plano para solucionar os problemas apresentados. O policial soltou no ar frio aquela fumaça que preenchia sua boca, fitou a pessoa ao seu lado e depois os corpos por alguns segundos. Por fim, ajeitou o cabelo, suas roupas e saiu caminhando tranquilamente.
       — Preciso ir, tenho muito trabalho ainda para lidar por causa daquele Jack, não posso me preocupar com casos menores e sem importância. E como eu disse anteriormente, você está encarregado de ir atrás de um enterro digno para essas pessoas. Também peço que informe a trágica notícia de que uma mulher foi morta após um assalto falho e que o assaltante, sentindo uma culpa imensa após ter realizado o assassinato não-planejado, cometeu suicídio, logo após o ato tão vil. Não se preocupe com os menores problemas, todos os meus parceiros da polícia e os amigos que mandam nos jornais, que você e todos os londrinos lêem ansiosamente pela manhã, não comentarão desse caso a parte. Sei mexer alguns pauzinhos e existem novos "indivíduos que se destacam" para animar essa terra, agora parcialmente dominada pelas trevas. Bonecos de neve são coisas infantis, boas e vão continuar sendo assim até o fim dos tempos, se depender de mim. Tenha uma boa noite e esqueça sobre isso que viu e ouviu, caro amigo. Você é ainda muito novo para querer se meter em encrencas com seus superiores.

Vermelho Sobre o Branco: os Atos de Bloody SnowmanWhere stories live. Discover now