02. freaky friday (blake's version)

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QUANDO BLAKE DESPERTOU, ela não havia percebido nada de errado.

Claro, houveram sinais. Por exemplo, o par de coturnos logo ao lado da sua cama, que ela tinha quase certeza de que estavam guardados — afinal, sequer se lembrava de tê-los usado recentemente. Mas, para a cabeça sonolenta e estranhamente dolorida da menina, não existia motivo para fazer daquilo um grande caso, já que ela não era uma pessoa muito organizada. Dentre todas as pequenas mudanças no cenário, nenhuma foi significativa o suficiente para fazer com que Blake notasse instantaneamente que algo estava errado.

Sua cabeça estava... devagar. Mais do que considerava típico para uma manhã normal. Blake parecia ter sido religada depois de um sonho maluco — soava idiota, ela sabia, por isso apenas balançou a cabeça antes de se colocar em pé, ignorando o que seus instintos lutavam para dizer.

Sem de fato checar o próprio celular antes, apenas desligando o despertador e verificando o horário em destaque na tela de bloqueio, Blake trocou o pijama por roupas que normalmente vestia e agarrou a mochila. Considerando sua rotina, tinha certeza de que na noite passada colocara o uniforme de Aura na bolsa, então não sentiu necessidade de conferir mais uma vez o traje. Seu raciocínio continuava lento, ao passo que sua cabeça latejava levemente, impedindo que Blake pudesse ter um instante de sossego para observar devidamente o arredor.

Ela só pensava em tomar algum remédio ou, sei lá, cabular a primeira aula na enfermaria. Quem sabe conseguiria até mesmo tirar um cochilo por lá? Aura, como sempre, se pegou em meio a devaneios enquanto percorria o corredor de sua casa, em direção às escadas.

Só que as coisas rapidamente se tornaram meio óbvias demais para serem ignoradas, puxando-a pelos pés para a realidade.

Conforme descia as escadas, ela escutou a voz da mãe e da irmã conversando à distância, mais precisamente na cozinha da casa. Blake teria continuado o caminho despretensioso até a mesa, a fim de tomar seu café da manhã e pegar o bendito remédio para dor de cabeça, mas a voz da âncora do jornal matinal atraiu sua atenção no momento em que passou pela TV. Com curiosidade, a garota se virou para o aparelho.

Na típica barra vermelha no canto inferior da televisão, em letras brancas e garrafais, havia uma manchete tendenciosa explicando de modo geral o que estava acontecendo. Blake não poderia estar mais confusa com o que via. Uma onda de protestos começara em Nova York e a razão para o tumulto era, por algum motivo, os heróis. Perplexa, a jovem buscou pelo controle remoto, aumentando o volume para compreender o que a repórter no meio da multidão dizia.

Ela tinha certeza de que nada daquilo estava acontecendo no dia anterior, quando se deitou para dormir.

Após a reconstrução do Luna Park, manifestantes se reúnem para protestar contra as últimas ações dos heróis — a repórter explicou, segurando o microfone com força enquanto tentava falar mais alto que o coro incessante da multidão que passava por ela. — A manifestação, que teve início pacífico, começou a ganhar força na tarde de ontem pela revolta dos participantes.

A mulher continuou a falar, mas Blake deixou de prestar atenção nas palavras dela. Seus olhos se fixaram em um cartaz levantado para a câmera, por um homem de expressão séria e fechada. Riscada por um enorme X vermelho, estava uma imagem do Homem-Aranha.

Harrington se sentou na ponta do sofá, em frente à televisão, tentando assimilar o que diabos estava acontecendo. O ocorrido em Coney Island foi há pouquíssimo tempo atrás! O parque estava longe de ser reconstruído totalmente, mas eles prenderam o Abutre e as coisas estavam boas mais um vez — ao menos, por enquanto. Então por que diabos aquelas pessoas estavam lá fora, carregando cartazes de represália enquanto entoavam um coro contra os heróis, contra o Homem-Aranha?

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⏰ Last updated: Jan 04, 2023 ⏰

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