Capítulo 32 - narração

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    — Talvez. Mas você não vai vazar agora, né?

   Eu nego com a cabeça, sem saber direito se isso quer dizer que vou ficar ou que estou indo embora. JJ parece escolher a resposta que prefere, porque só assente com a cabeça enquanto solta a fumaça em formas circulares.

   — Então, pô, se tu não precisa ir embora agora, dá tempo da gente ficar mais sóbrio.

   Algo dentro de mim gosta de fato que sua resposta favorita é a que eu continue aqui, apesar de sermos a única companhia um do outro. O loiro me passa o baseado de novo, e dessa vez eu sorrio divertida quando aceito, olhando o pequeno cigarro aceso com desconfiança.

   — Acho que pra ficar sóbrio, vamos ter que parar de fumar o quanto antes.

   Só para consolidar a ironia, eu trago outra vezes.

   Não sei se foi a minha fala ou eu ter fumado em seguida, mas JJ ri como se eu tivesse falado algo muito engraçado. Acho que a onda está começando a bater para mim também, porque não consigo parar de focar nos olhos quase fechados e na covinha tão funda que parece que cabe uma bolinha de gude.

   Okay, que mentirosa. Como se eu precisasse de alguma droga para ficar completamente hipnotizada por ele.

   — Maybank? — Eu chamo.

   As orbes azuis se viram para mim, mostrando que o menino me dá toda a sua atenção. Isso faz algo em meu estômago se agitar. Eu me forço a continuar falando mesmo assim:

   — Ainda me odeia?

   Ele revira os olhos, soltando uma risada que quase diz "isso é sério?". Não sei se isso é algo bom ou ruim, então mordo o lábio inferior. Felizmente, a maconha e a bebida acalmam meus nervos de algum jeito, e JJ não me tortura por muito tempo.

   — Nunca te odiei, Kiara.

   Ele se estica e rouba o baseado, que já queimava sozinho, da minha mão, tragando como se precisasse disso para esta conversa. Não que eu pretenda continuar o assunto por muito tempo.

   Bom, eu não pretendia continuar quando perguntei. Minha intenção era chamá-lo para a sala de John B, assistir qualquer filme de natal comigo. Mas, depois dessa resposta, acho que quero saber mais.

   JJ deve perceber minha curiosidade silenciosa, ou só precisa botar o sentimento para fora, porque ele continua sem que eu responda:

   — Eu só, sei lá, cara. Odiei quando foi embora. Mas... não odiava você.

   Ele traz seus olhos até os meus de novo, como se quisesse assistir a minha reação. Não foi das melhores. Eu só assinto com a cabeça, murmurando um:

   — Eu entendo.

   Foi a resposta errada. Eu sabia disso antes mesmo de falar. Sei que é uma conversa difícil para ele, e que é mais difícil ainda falar sobre como se sente, e o loiro provavelmente espera que eu faça o mesmo.

   Mas ele só nega e murmura um palavrão.

   — Não entende. Porra. Eu fiquei puto quando descobri que tinha ido embora. Mais puto ainda por ter esperado uma mensagem sua depois disso e tudo piorou quando nunca recebi.

   Ele para e traga de novo. Estou prestes a roubar o baseado de sua mão, porque essa conversa definitivamente é mais difícil do que eu imaginava para mim também.

   — E ainda assim não me odiou?

   Tem um sorriso resignado em seu rosto quando ele responde.

   — É, não odiei. Mas senti muita raiva.

   Agora eu sorrio, como se sua raiva fosse algo bom e não algo que eu devesse querer manter longe de mim com todas as minhas forças.

   Eu me levanto e paro na frente da rede, esticando a mão para o ajudar a se levantar. Não que ele precise, mas só para deixar claro minha intenção. E só então respondo:

   — Uma parte muito egoísta de mim prefere que tenha sentido raiva, do que se esquecido de mim.

   Sua resposta é rápida.

   — Uma parte muito egoísta de mim espera que você tenha sentido muito a minha falta.

   — Eu senti. Todos os dias. Às vezes, Rafe tinha que me botar para dormir igual criança porque eu não conseguia parar de chorar.

    O sorriso que se abriu em seu rosto não me surpreendeu nenhum pouco. Na verdade, acho que contei isso exatamente para tirar essa reação dele. E deu certo, o que só prova o que já pontuei várias vezes hoje: não mudamos nada. Ainda somos um casal completamente egoísta e meio esquisito, mas que se entende muito bem. E eu amo isso.

   Não que sejamos um casal, é claro.

   — Ótimo.

   Eu continuo parada com a mão estendida e, só então, ele encara minhas unhas pintadas com a sobrancelha arqueada. Não espero por uma pergunta sua antes de explicar o que quero.

   — Assiste um filme comigo.

   Ele faz uma careta.

   — De Natal?

   Não preciso nem concordar porque tenho certeza que tudo em minha expressão já me entrega. JJ parece odiar a ideia com tudo de si. Mas, ainda assim, ele segura minha mão, joga a bituca do baseado no chão e o apaga com o pé antes de se levantar.

   Nenhum dos dois faz menção de desentrelaçar as mãos no curto caminho até dentro do Castelo outra vez. E permanecemos em silêncio, fingindo que essa aproximação repentina não é nada além de normal, enquanto eu pego o controle e tento escolher um entre todos os filmes de natal que eu amo.

   É só quando o filme está prestes a começar que sinto o olhar de JJ sobre mim de novo. Eu o olho de volta, querendo saber se ele tem algo para falar ou só está estranhando a situação. Acerto na primeira opção.

   — Não vamos nos entender até que me conte o porque foi, tu tá ligada, né?

   Eu assinto com a cabeça.

   — Eu vou contar. Outro dia.

   JJ parece pensar por alguns segundos, como se quisesse falar algo. Mas só concorda e passa a língua nos lábios antes de olhar para a tela da TV.

Christmas wishes and Mistletoe kissesWhere stories live. Discover now