Capítulo 4 - narração

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   Jogo o meu celular em cima da cama para me impedir de continuar reclamando sobre algo que eu já deveria estar acostumada

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Jogo o meu celular em cima da cama para me impedir de continuar reclamando sobre algo que eu já deveria estar acostumada. O aparelho quica uma, duas, três vezes antes de cair no chão com um barulho que me faz ter certeza que ele desviou do tapete felpudo que tenho do outro lado só para poder ter mais chance de quebrar.

Eu resmungo alto e deixo meu corpo cair em cima da cama.

A risada de Rafe soa logo em seguida, como se ele tivesse acompanhando a minha cena patética desde o início. Seu corpo afunda no colchão ao meu lado.

— Como o seu humor pode mudar tão rápido?

Eu resmungo outra vez.

— Eu não sei.

Rafe dá mais uma risada antes de tirar meu cabelo do meu rosto.

— Fala, o que houve? Sei que não foi a conversa com minha irmã porque vocês pareciam bem pelo Twitter.

Olho para ele a tempo de vê-lo estremecer de forma teatral, provavelmente lembrando do assunto que conversamos. Apesar do meu humor de merda, eu consigo dar uma risada.

— Você podia ir comigo amanhã — eu começo, mesmo já sabendo a resposta — Pra Outer Banks.

Rafe não faz questão de esconder a careta que representa tudo que a ideia traz para ele. No fundo, eu entendo de verdade. Sou especialista em problemas com os pais. Mas eu queria meu melhor amigo comigo essa semana.

— Não mesmo. Foi mal, Kie, peça outra coisa que eu faço. Isso não. Agora conta o que houve de uma vez.

Eu reviro os olhos. Não pela recusa, apesar de estar consideravelmente contrariada por isso. Mas porque agora chegou o momento em que ele vai me fazer falar sobre o meu mau humor e eu definitivamente queria esquecer disso até que tudo melhorasse.

Ainda assim, eu o encaro antes de começar:

— Adivinha? Meus pais não vão poder ir — eu fecho os olhos e respiro fundo antes de continuar — A nova filial do The Wreck deu problema e eles vão fazer de tudo pra estarem comigo na ceia, e blá, blá, blá.

Volto a olhar para Rafe, apesar de estar praticamente falando sozinha quando resolvo continuar falando antes que ele possa assimilar o que eu disse antes:

— Sabe de uma coisa? Eu duvido que eles apareçam lá. Ou no ano novo. Ou no meu aniversário, em maio do ano que vem.

Rafe dá um tapa leve na minha testa para me fazer frear, e eu quase o agradeço por isso. É claro que desabafar é realmente um alívio, mas já estava ficando patético. Mais do que o normal.

— Ei, calma aí, Estrelinha — o apelido me faz apertar os olhos na sua direção, o que o faz rir ainda mais — Você parece prestes a explodir e, na verdade, é meio engraçado.

Eu resmungo pelo que deve ser a décima vez desde que ele entrou no quarto.

— Eu te odeio muito.

Ele ri como se não acreditasse nisso nem por um segundo.

— Então é melhor achar outro colega de apartamento.

Posso senti-lo se levantando e sentando ao meu lado e, mesmo sem olhar para ele diretamente, sei que ele ainda está sorrindo para mim.

— Quer um pretzel grande e cheio de açúcar com canela?

Faço uma careta, sabendo que ele está me oferecendo minha comida favorita para ver se melhora meu humor azedo. Infelizmente, acho bem difícil de acontecer porque só a ideia faz meu estômago revirar, então nego com a cabeça.

Posso escutar seu suspiro baixo quando vê seu plano falhando.

— Nenhuma chance de você ir e me fazer companhia durante a semana?

Ele ri com minha insistência. Mesmo sem dizer nada, posso sentir que ele me chama de criança mimada na sua mente. É como ele sempre me chama quando eu fico desse jeito.

— Kie, mesmo se eu fosse pra OBX amanhã, você estaria sozinha em casa. Meu pai está a um passo de me oferecer ações na imobiliária se eu aceitar ficar na casa dele depois da ceia.

Eu arqueio a sobrancelha na direção dele, me sentando também para poder ficar na altura dele. Não deu certo, é claro. Até mesmo sentado ele é bem mais alto que eu.

— É por isso que não quer ir?

— Sim.

Ele não faz menção de responder outra vez quando se levanta, mas eu continuo falando, com um sorriso que deixa claro que estou brincando.

— E seria tão ruim assim umas ações na empresa do papai?

Eu consigo arrancar um sorriso do rosto dele, o que é extremamente satisfatório. Mesmo que ele quase não demonstre mau humor falando disso, sei que essa relação com o pai é um constante desafio.

Rafe não responde e está quase na porta quando eu o chamo. Ele se apoia no batente e olha para mim.

— Sabe que Sarah vai ficar muito triste se você não for, não é?

Seu olhar encontra o chão por alguns segundos antes que ele assinta com a cabeça. Outra parte complicada da relação com o pai dele - pelo menos antigamente, quando Rafe achou tudo tão complicado que só se sentiu melhor quando fugiu para o continente -, ele teve que abrir mão de grande parte dos momentos com suas irmãs.

Ele não responde outra vez, e agora eu o deixo sair do quarto sem falar mais nada.

Christmas wishes and Mistletoe kissesWhere stories live. Discover now