twenty-one;

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-- H-hee, isso tá d-doendo... --  O tatuado choramingava com os olhinhos felinos cerrados, implorando ao namorado, este que possuía uma feição séria; porém fazia um leve carinho nos fios negros na altura do ombro do mais velho, os prendendo atrás para que não caíssem em seu rosto molhado por algumas lágrimas. - T-tira, por favor...

- Shh, não dá pra tirar agora, mas vai passar logo, amor, relaxa. - O maior se inclinou e levou o indicador até o queixo do Do, erguendo levemente o rosto do homem e depositando um beijo carinhoso em sua testa. Aos poucos, os choramingos de Hanse iam diminuindo, até ficarem praticamente inexistentes. - Passou, gatinho?

O mais velho acenou  positivo, agora com um biquinho em seus lábios. O ardor do remédio em seu joelho já havia cessado formidavelmente, mas a típica manha de Hanse ainda estava ali, pelo prazer de ser mimado pelo namorado. Heesung tinha uma paciência de Jó com o mais velho, era o único que aturava os diversos caprichos do mesmo, que além de mimado, era birrento e dramático demais, típico da família a qual pertencia. O Lee não estava no melhor dos humores com Hanse, pois sabia muito bem que se o mesmo estava com um produto - que segundo o mesmo, era de satanás - queimando sua pele segundos atrás foi por ter enxergado um pônei voador e holográfico com asas voando próximo ao chão, mas ao tentar alcançá-lo, suas pernas não muito estáveis o traíram e ele caiu com os dois joelhos no chão, e por estar de bermuda naquela fatídica noite, o baixinho se ralou todo, e ainda puxou Jungwon junto consigo, que caiu e ficou rindo do mesmo.

Falando neste último, ele estava com Jay na parte traseira da van, mordendo o lábio inferior gordinho enquanto encarava o Park que apenas olhava pra frente e permanecia com os braços cruzados, pensando no que diria para justificar o estado em que o quase namorado o encontrou mais cedo. Sabia que ele estava irritado, mas não era como se já não tivesse acostumado com essas "surpresinhas" vindo do Yang, então no final eles conversariam, Jungwon levaria um esporro do mais velho, pediria desculpas, eles se resolveriam e em um futuro não muito distante o Yang faria de novo.

- Jay-ah... - O mais novo ali chamou o Park, que direcionou apenas o olhar na direção do mesmo, sem se dar o trabalho de virar o rosto. - Me perdoa, por favor!

- Pra você dizer que foi no puro impulso e emoção do momento, que foi só uma e não vai se repetir, e depois fazer tudo de novo? Não, obrigado. - Jay voltou seu olhar para os vidros frontais da van assim que terminou de falar, ainda a tempo de ver a boca do Yang se abrir em um "O" perfeito, procurando palavras para retrucar o mais velho, porém não havia nenhuma, já que ele estava certo. O garoto então murchou, cruzando seus braços também e deixando sua postura relaxar, erguendo assim o olhar para o rosto de Jay, percebendo de supetão a ponta do narizinho avermelhada do mesmo e seus olhos vacilantes, mais úmidos que o normal.
Ah não.

- Amor, não chora! - O Yang se ergueu sob seus joelhos, levando suas mãos até o rosto do mais velho e trazendo-o delicadamente para si. - Por favor, não chora, eu faço qualquer coisa, mas não chora!

Havia apenas duas coisas que Jungwon odiava naquela vida, cujas estas eram: 1- camisinhas do governo, pois o látex duvidoso do qual era feita causava alergia em muitos, além de queimar quando entra em um atrito maior e rasgarem muito fácil (inclusive, foi assim que o mesmo veio ao mundo), e 2- ver seu garoto chorando.

O Yang entrava quase que em desespero quando via o maior prestes a chorar, procurando desesperadamente qualquer meio de fazê-lo parar , por mais que essas ocasiões fossem extremamente raras. Jungwon não sabia lidar com ninguém chorando, agia com uma indiferença absurda e ficava completamente sério nesses momentos, mas ver o garoto que amava chorando definitivamente o desestabilizava muito.

O menor abraçou o mais velho de forma desajeitada, subindo em seu colo e deixando uma perna de cada lado do corpo de Jay sem dificuldades pelo banco espaçoso da van, afagando o cabelo em tom menta raspado nas laterais do mais velho, pedindo-o desculpas incontáveis vezes e prometendo nunca mais repetir aquilo.  O Park continuava quieto, seus olhos ardendo cada vez mais; então o mais velho fechou os olhos e suspirou fundo antes de segurar os dois braços de Jungwon, tirando-os do entorno de seu corpo e fazendo o garoto que agora tinha uma expressão assustada encará-lo com surpresa e medo ao mesmo tempo .

- Não adianta você prometer algo que não vai cumprir, Jungwon. Não é nem algo que você não possa cumprir, é algo que você não cumpre porque não quer. - As palavras de Jay, por mais que curtas, foram diretas, fazendo questão de esfregar a verdade na cara do Yang. Ele só não cumpria porque ele mesmo não queria, caso o contrário, estaria sóbrio há muito mais tempo. - Estamos nisso há quanto tempo, três anos? - o Park fingiu pensar por um momento. -  Sim, fazem exatos três anos que você me dá a mesma desculpa, dizendo que é mais forte do que você e que não consegue controlar, que os tratamentos não fazem efeito e você sempre sente nescessidade de usar novamente. Acontece que você nem ao menos tenta resistir, Jungwon. Na primeira oportunidade você põe essa porra de droga pra dentro de novo e horas depois vem me dizer que foi mais forte do que você. - A primeira lágrima escorreu pela bochecha do americano e o coração do Yang pulsava em uma frequência muito além do normal, em consequência da angústia que tomava seu âmago. Ele não queria admitir, mas cada palavrinha ali era verdade, faziam quase 5 anos que estava em tratamento para dependência química, mas sempre que ele podia dizer que estava razoavelmente "sóbrio", na primeira oportunidade que pintasse já estava consumindo qualquer tipo de droga novamente. Doía, doía saber o quão fraco era, e doía mais ainda ter de encarar os olhos tristes do mais velho a sua frente.

- Você precisa decidir o que quer. Eu já cansei de ter que te perdoar tantas vezes. Você precisa ao mínimo se esforçar pra isso, porque faz 3 anos que eu me esforço toda vez pra te perdoar, e isso tá me saturando muito. - Mais uma vez, o coração do Yang disparou. Ele definitivamente estava com medo, tinha medo de perder Jay, medo de cair nas armadilhas de seus vícios novamente, medo de não conseguir. Ao ouvir outro suspiro pesado do Park, o garoto ergueu seu olhar para o mesmo, sentindo seu coração apertar mais ainda ao vê-lo fungar com seu nariz totalmente rubro, sinal do choro que estava segurando. Ele desceu o as próprias mãos até às do Yang, que o encarava temeroso, segurando-as com carinho. - Yang Jungwon, o que você decide?

Rápidas memórias inebriaram a mente do mais novo, que ainda encarando as orbes negras do amado, lembrou do dia em que Jay o apresentou para seu grupo de amigos, o dia em que aquele garotinho recluso que ele havia conhecido nas aulas de Taekwondo no segundo no do ensino médio havia deixado de ser tão recluso assim. Das vezes em que ele precisou deixá-lo por algumas semanas para ir trabalhar com Hanse, e das incontáveis vezes em que Jay foi o buscar em inúmeros locais, fossem estes banheiros de festas, cassinos, hotéis ou até mesmo em seu apartamento, quando o garoto estava chapado demais até para lembrar o próprio nome. Lembrou da dor no olhar do Park quando isso acontecia, a mesma dor que ele estava vendo agora.

Jay já havia feito demais pelo garoto, então não restavam dúvidas.

- Eu vou ficar sóbrio, e dessa vez vai ser totalmente.

𝐈&𝐜𝐫𝐞𝐝𝐢𝐛𝐥𝐞.(hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora