Capítulo 6

48 2 2
                                    

                                                                                   Capítulo 6
                                                                                      Pétalas

Sem chão,sem saber o que fazer,Ricardo decidiu se afastar um pouco dos trabalhos,afim de colocar as idéias em ordem.Tudo na sua vida iria mudar daquele momento em diante,teria que trabalhar pra ajudar em casa,não teria mais tempo pra fazer as coisas que sempre fazia.Teria de ser o pilar de apoio de sua mãe que estava arrasada. Foi ao centro de sua cidade, distribuiu alguns currículos e foi chamado para uma entrevista em uma loja de peças automotivas, onde foi contratado. 
   No inicio ainda estava um pouco perdido em meio a tantas coisas, mas aos poucos e com bastante esforço foi pegando logo o jeito do novo emprego e até gostando do que estava fazendo. Foi aprendendo bastante sobre as peças, funções e etc, porém sabia que era com outras coisas que deveria se preocupar também, já chegava a hora que ele deveria retornar aos trabalhos no centro, porém sua perda recente causava-lhe certa insegurança sobre retornar as suas obrigações. Ainda sentia-se muito inseguro pra continuar. Resolveu então procurar Richard, para conversar com ele e tentar ouvir um conselho que pudesse indicar um rumo a seguir.
 Chegando à casa do seu velho amigo, se encontrou com os pais dele em frente a casa dele e os mesmos deram-lhe as condolências por sua perda. O Pai de Richard tomou a liberdade de conversar um pouco com ele, contar a história dele que era um pouco parecida com a de Ricardo. Contou-lhe que veio do interior de Minas Gerais, trabalhava com seu pai e seus irmãos nas plantações. Seu pai era um homem muito enérgico e fez todos os filhos trabalharem desde muito cedo para ajudarem nas contas de casa. Certo dia ele começou a sentir-se mal e foi levado as pressas para o hospital mais próximo, porém, no caminho para o hospital veio a falecer devido a um infarto. Ele e seus irmãos então tiveram que se desdobrar para poderem sustentar a casa, ainda com irmãos pequenos para cuidar e a mãe que não podia trabalhar pois tinha que ficar cuidando dos irmãos menores. Explicou-lhe das dificuldades e o que lhe fez mudar-se para São Paulo, buscando uma nova vida e abandonar todo aquele sofrimento que tivera. Disse que os amigos foram de muita importância pra ele nesse momento, pois foram quem o ajudou a superar a perda dele e muitas vezes, até quem lhe ofereceu um prato de comida e um agasalho no frio.  
Logo após esta conversa Richard chegou e foi atende-lo, convidando-o para entrar.
Ricardo então desabafou com seu amigo:
-"É, Richard, agora não sei mais o que fazer, e nem como fazer cara. Sei que tenho que voltar aos trabalhos no centro, mas tenho medo de que algo aconteça, de não estar com o meu psicológico preparado para continuar."

- "Olha cara, acho que você está se preocupando de mais com essas coisas Rick, digo, intendo o que você está passando, mas a vida continua cara. Aposto que seu pai que estava gostando tanto dos trabalhos no centro antes de falecer não iria gostar de te ver assim, desanimado e sem vontade de continuar. "

-"É Richard, mas meu medo é..."
 Nesse momento, subitamente aconteceu-lhe algo que a muito não ocorria, estava ele novamente em Acre, ao lado de Pedro, vestido mais uma vez com sua paramenta templaria, andando por uma trilha, próxima a um castelo.

-" Pedro, ou melhor, Beira Mar, o que estou fazendo aqui? Estava conversando com o Richard agora e de repente, de novo essas visões...Porque disso agora, era uma conversa importante."
-"Ricardo Ricardo, tenho um local pra te mostrar..."
Num instante, todo aquele ambiente foi se transformando, foi se modificando em um local sombrio, um local semelhante a um pântano, com um cheiro fétido e uma especie de penumbra, as arvores um pouco retorcidas, havia pouca luz. Gritos de pessoas ecoavam por entre lamentações e sussurros de socorro. Palavras de baixo calão se confundiam com murmúrios de socorro, pessoas trajando todos os tipos de vestes, algumas vezes disformes começaram a aparecer por entre as arvores. Um local muito sombrio que em que Ricardo mal tinha acabado de entrar e já estava querendo sair.
-"Beira Mar que lugar é esse? O que estou fazendo aqui?"
Ao lado direito dele estava Beira Mar, ao lado esquerdo, outro ser, um Homem, aparentando uns 30 anos, com barba por fazer, roupas brancas também, porém diferentes, assemelhando-se a roupas de um antigo confederado. Suas vestes que eram brancas, ao mesmo tempo, confundiam-se com preto em diversas mudanças de emanações energéticas, porém sabia que ele tinha uma vibração muito boa e estranhamente conhecida. 
-"HAHAHAHA. Este é meu aparelho Beira Mar?- gargalhava o homem- Este menino? Não parece lá grandes coisas.
-"Sim, este é seu médium, e não fale assim, pois você já o acompanha a muitos anos..."
-"HAHAHA é verdade, o acompanho sim, e já tem muitos Luares... É um bom menino mas tem que aprender certas coisas..."
-"Mas o que está acontecendo aqui? Eu Exijo saber o que é tudo isso! Quem é você cara, que tanto ri de mim dessa maneira? Eu não queria estar aqui e quero voltar para onde eu estava, chega disso!"
-"Hahaha, eu moço, sou seu Exu. Me chamo Sete Liras. Primeiro acalme-se e fale baixo, você não está em nenhum local de bagunças. Este é o Umbraal, local por onde as almas passam para concluir seu estágio evolutivo, começar ou passar um período espiando as más ações que fizeram em vida. Tudo que se colhe se planta moço, Não há como plantar ervas daninhas e colher rosas."

-"Eu sei o que é o Umbraal, mas porque estou aqui Sete Liras, porque disso tudo?"
-"Olha Moço, isso é para você ter noção do seu trabalho. Cada pessoa que você atende, que você ajuda, que você está de corpo presente dando a chance de um de seus guias trabalharem em sua matéria é uma alma que você afasta dos campos mais baixos, como esse. Você é um instrumento de algo muito maior que você pode pensar, assim como eu, e seus outros guias. Eu faço meu papel de exu, diferente do seu Beira Mar que te passa a mão na cabeça, te mostro como as coisas são. Exu é exu moço, não é ruim e não faz o mal pra ninguém, mas ainda sim é exu, e tem sua própria maneira de resolver as coisas."

-"Viu Ricardo, essa é a importância de um médium umbandista, vai muito alem de uma mera incorporação. Você é muito mais do que apenas um garoto perdido, você tem uma missão e por mais que sua perda tenha sido difícil, está chegando a hora de retornar para ela."
-"Entendo, mas, mas e meu pai? E se eu não...conseguir me concentrar?"
-"HAHAHA, ocê sabe mais que tudo incorporar e trabalhar aparelho, se levante e deixe de besteira. Seu pai está sendo assistido, e eu sou um dos que está olhando por ele, agora pare de se preocupar, e se lembre que você tem algo a fazer. Está vendo estas minhas vestes,já viu que mudam de cor não é? As vezes é necessário eu me adaptar a vibração do ambiente pra poder fazer algum trabalho por estas bandas, principalmente resgate. Continuo com meu tipo de ser, do bem, da luz, mas as vezes eu tenho que mudar pra chegar aqui. É o que você tem que fazer, se acostumar as mudanças da vida, e aprender a usa-las pra ajudar ainda mais as pessoas. Você foi escolhido para ser um médium de umbanda, tem responsabilidade sobre isso."

-"Sim Ricardo, é essa a lição que eu queria lhe ensinar hoje."

 Na mesma velocidade que tinha sido atirado nessa realidade, já estava de volta a conversa com Richard...
 -"O que foi Ricardo? Você está bem? Ficou calado por um segundo..."
-"Sim Richard, acho que já tive o conselho que eu precisava."


Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 02, 2020 ⏰

Adiciona esta história à tua Biblioteca para receberes notificações de novos capítulos!

Uma história a Beira MarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora