Eu preciso de você

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Na manhã seguinte, bem cedo, Chloe e Beca estavam sentadas a mesa, com um copo de café forte nas mãos, olhos inchados e cabelos desalinhados, a ruiva praticamente dormindo sentada e a morena encarava o bebê na cadeirinha de papa, sem entender como Bella parecia completamente bem, como se não tivesse acordado a cada meia hora na última noite.

Beca havia colocado uma tigela de cereais na frente da criança, sem que Chloe tivesse notado pois ela teria um negócio, odiava coisas industrializadas, mas Beca não tinha mais ideias, Bella não aceitava nada que ela fazia, não queria comer a papinha mesmo com a cenoura que ela amava, não queria mamar, nem se fosse achocolatado, o que era bizarro porque para Beca, toda criança era louca por leite achocolatado e ela fez um com perfeição, mas Bella cuspia, jogava a comida no chão, empurrava a colher viajando como um aviãozinho em direção a sua boca e depois da menina sujar sua camiseta pela quarta vez, Beca apenas jogou bolinhas de cereais numa tigela e Bella se divertia comendo com a mão.

— Você não parecia essa pestinha quando eu te via pelo vídeo. - Beca falava com a criança, a olhando com estranheza como se não conhecesse aquele bebê. — Sério, você nem se mexia só ficava me encarando como se me amasse, agora eu to na sua frente e você me odeia?

O celular de Chloe vibra na mesa e ela desperta do cochilo, era o advogado, viria hoje ler o testamento de Stacie.

Uma hora depois ele toca a campainha, junto dele, Fernanda, uma assistente social fazendo uma visita supresa das que Elise mencionara no conselho tutelar.

Os três sentaram a mesa, Fernanda cuidava da pequena na sala, as mãos de Beca suavam, parecia que estava diante de um juíz decretando sua sentença, por mais que não quisesse encarar aquilo como uma prisão, a primeira noite delas foi um pesadelo, Beca temia que isso não melhorasse ou que ela não fosse o melhor para Bella. Afinal, nada no mundo a prepararia para essa situação.

— Stacie me procurou alguns meses atrás, é uma pena que estejamos aqui tão cedo, mas vemos agora que ela fez a coisa certa preparando um futuro para a filha. - O advogado começou. — Eu sinto muito pela perda de vocês. 

A meninas agradeceram, o homem colocou sobre a mesa quatro envelopes, retirou do envelope amarelo uma folha impressa, esse era o testamento. Nele dizia que a casa e tudo que havia nela, ficaria para Bella, para ela fazer o que quisesse quando tivesse maior idade, Stacie também deixara para a filha uma pequena quantia em dinheiro numa conta bancária, não era muito, mas garantiria seus primeiros anos na faculdade ou seu primeiro carro.

"Para minhas melhores amigas, Beca Mitchell e Chloe Beale, deixo meu bem mais precioso..." - O advogado continuou a leitura, Beca e Chloe se inclinam para ouvir. — "A guarda da minha amada filha Bella Conrad."

Não era um testamento longo, Stacie não tinha muitos bens materiais. Por fim ele cita os outros envelopes, um direcionado a Chloe, outro a Beca e o terceiro para Bella quando completasse 15 anos. Chloe passou a mão sobre a tinta, seu nome escrito a mão, a assinatura de Stacie perfeitamente reta e alinhada, o capricho com que a carta havia sido selada com a letra B gravada em um lacre de cera azul, o mesmo B que elas costumavam usar nos anos de Barden Bellas. No envelope de Beca havia uma instrução a mais: "Abra quando entender o motivo de eu ter escolhido vocês." Ela passou os olhos pelo envelope querendo violar o lacre e acabar com o suspense, seu coração batia forte, um misto de raiva, tristeza e culpa, raiva por ter que estar sentada ali em primeiro lugar e oficializando que sua amiga lhe deu uma criança em um testamento, tristeza por não poder fazer o tempo voltar e mudar tudo e culpa por ser tão egoísta a ponto de só pensar em sua carreira, quero dizer, olha todas as outras meninas, elas perderam Stacie mas suas vidas continuam a mesma, Beca sentia pena se si mesma por ter sido a pessoa que mais perdeu ali e isso a cegava, não a deixava entender o quanto ganhou.

Bella's lullabyWhere stories live. Discover now