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- Você está fazendo parecer mais complicado do que é.

Diversos livros de receitas se encontravam espalhados pela pequena cozinha. A página de um site especializado em tortas brilhava na tela do celular em cima da bancada.

- Não estou! Essa escolha vai definir todo o nosso feriado.

A defesa veio junto com o som alto do baque de um livro caindo ao chão.

- Por que tanta questão de que tudo seja perfeito? Eles já a amam.

- Sim, como sua amiga, não como sua namorada.

- Venha aqui. - a puxou para perto, enrolando os braços ao redor de seus ombros enquanto a abraçava forte. - Vai dar tudo certo, sugar. - prometeu, beijando sua têmpora, um gesto carinhoso para acalmar a ambas.

- Você não pode ter certeza disso. - murmurou contra o pescoço dela, seus braços rodeando sua cintura, se prendendo à ela com muito medo de solta-la. - É a primeira vez que conheço os pais de alguém que eu amo tanto. Eu só... Só quero que tudo dê certo.

- E vai dar.

- Você não pode ter certeza disso, Parvati. Não pode. - afastou-se um pouco, somente o suficiente para encarar os olhos castanhos. - Por mais que eu queira, não vamos deixar uma cortina cor de rosa nos impedir de ver a verdade. Eles podem surtar.

Suspirando audivelmente, Parvati não conseguiu discordar da namorada. A apertou novamente entre seus braços, querendo se perder na sensação de conforto e segurança que sempre a invadia quando estava com Lilá. O cheiro suave de rosas e baunilha a envolveu, a marca registrada da presença da Brown.

Lilá sorriu contente quando sentiu os lábios de Patil em sua bochecha. Um carinho sempre recorrente. Ali, sentindo o calor que emanava do corpo dela, assim como as batidas rápidas de seu coração se mesclando ao dela, esqueceu a bancada amontoada de ingredientes para uma receita que deu errado, a pia lotada de louça suja e a sala meio decorada onde somente as luzinhas coloridas piscavam solitárias.

☆•☆•☆•☆•☆

A torta dourada e intocada se encontrava no centro da pequena mesa de jantar, cinco pratos dispostos ao redor com talheres ao lado, um vinho aberto fora colocado ao lado da sobremesa e as taças, usadas anteriormente, foram deixadas por seus usuários após a abrupta partida.

Lilá inspirou profundamente, o ar saindo de seus lábios trêmulos em uma lufada audível. Era para ser uma noite não tão incrível, mas também não tão desastrosa. Padma fora um amor, a irmã de sua namorada tentou de tudo para minimizar os comentários que saíam da boca da mãe, mas não existia maneira de suavizar os golpes.

Senhor Patil fora surpreendente, somente acenou solene quando Lilá e Parvati informaram que estavam juntas, um pequeno sorriso possivelmente orgulhoso em seu rosto quando viu a filha, tecnicamente, mais nova defender Lilá do ataque da mãe. A Brown começou a recolher os pratos, sua torta estava maravilhosa e a perda era deles por não quererem levar ao menos um pedaço.

- Ela precisa de tempo.

A voz baixa foi ouvida após o som da porta sendo fechada ecoar pelo ambiente. Lilá somente assentiu, tinha certeza de que se abrisse a boca para dizer qualquer coisa, iria desabar em um choro que iria estragar todo o resto da noite de natal.

- Querida. - escutou os passos se aproximarem apressados, braços a contornando pela cintura e a puxando contra um corpo conhecido. - Sinto muito.

Lilá sentiu o nó em sua garganta se intensificar. Queria dizer que nada era culpa dela, que não precisava se desculpar por nada porque não era responsável pela ação de outras pessoas, porém, tudo o que conseguiu fazer foi apertar as mãos que se encontravam cruzadas sobre sua barriga e inclinar a cabeça para trás a apoiando no ombro de Parvati.

No aconchego do apartamento que dividiam, se sentiam seguras e rodeadas de amor. Ficaram por algum tempo abraçadas, perdidas em seus próprios pensamentos e sentimentos, procurando uma maneira de fazer a outra sentir que não estava só. Sem perceberem já o faziam, ao somente afirmarem sua presença, não era necessária palavras, somente os gestos tão familiares.

- Ei. - Lilá chamou em uma voz baixa, quase um sussurro, girando dentro dos braços da Patil para encará-la. - Ei. - repetiu, acariciando a bochecha macia, inclinando a cabeça para ter seu nariz tocando o dela. - Estamos nessa juntas.

Parvati assentiu, com os olhos fechados, aproveitando o toque suave da pele contra a pele.

- Você não vai fugir?

Lilá riu, seu hálito batendo contra a bochecha da Patil. O som reverberando no corpo da outra como uma promessa sonora de felicidade.

- Nunca. - garantiu, juntando seus lábios calmamente.

Parvati sorriu em meio ao beijo, tendo sua ação espelhada pela Brown. Se perderam no abraço apertado e no encaixe perfeito de seus corpos, as preocupações que pesavam seus ombros diminuindo com a certeza de não estarem sós, de que nunca estariam.

Ao fim da noite, antes do relógio marcar meia-noite e o natal der seu "até logo", se emaranharam no sofá, chocolates quente em mãos e uma colcha tricotada por Lilá as cobrindo. A árvore decorada no canto da sala com pisca piscas luminosos era a única luz do ambiente, em seus rostos eram refletidas as cores assim como em seus olhos.

- Vamos ficar bem. - Parvati falou, se aconchegando ainda mais contra ela, suas mãos vazias entrelaçadas.

- Sei que sim. - Lilá garantiu confiante, sorrindo brilhantemente para ela. - Eu te amo.

- Eu sei. - ergueu o queixo de maneira falsamente petulante, rindo quando escutou a outra resmungar. - Também te amo.

- Que bom. Você dá trabalho de mais para não me amar de volta.

A Patil gargalhou alto da acusação em tom exageradamente dramático. Apesar de tudo que passaram, e do que ainda iriam passar, ter Lilá ao fim do dia era como voltar para um lar que não sabia precisar até encontrá-lo.

Love is in the airWhere stories live. Discover now