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A garota moveu seu corpo para ficar de costas para a parede da lanchonete, suas pernas esticadas pelo assento de couro vermelho. Apertou os dedos contra o papel, trazendo o livro aberto para mais perto de seu rosto, seus olhos movendo-se ligeiramente enquanto absorvia sedenta as palavras. Trouxe as pernas para junto de si, apoiando o livro contra os joelhos sem quebrar sua atenção.

Por mais que a história estivesse no meio, ela sentia uma grande virada de eventos prestes a acontecer, nada poderia tirar sua atenção, bem, talvez uma falsa tosse insistente e irritante conseguisse. Franziu o rosto em uma careta que claramente dizia "Vá embora!", mas pelo visto não teve o efeito desejado já que começaram a cutucar sua canela.

Soltando um bufo irritado, não desviou a atenção do livro quando grunhiu em reconhecimento a quem quer que fosse. Não era uma atitude simpática e não se sentia assim tão indiferente aos sentimentos dos outros, porém, aquela pessoa resolveu aparecer em um momento muito importante de sua vida, ela não tinha culpa de não querer falar com quem quer que fosse.

- Olha, não queria fazer isso, mas minha mãe disse que você não pode ficar se não for consumir alguma coisa.

Torceu o nariz para o tom paciente, provavelmente era o carinha loiro que trabalhava ali, alguém que ela nunca fez questão de aprender o nome.

- Pedi um milk-shake. - respondeu monotamente, passando para a próxima linha do livro.

- Você está com esse milk-shake intocado já fazem duas horas.

Suspirou impaciente, não teria como voltar a sua leitura até resolver aquela situação. Abaixou o livro, marcando a página com uma mão enquanto levantava o olhar para observar a pessoa que estava atrapalhando sua leitura.

- Então eu vou querer uma porção de batatas com um sanduíche de queijo. - informou, fechando ainda mais a expressão quando o garoto soltou um "graças a Deus" sussurrado. - Tenho direito a quatro horas.

- Como? - ele perguntou confuso.

- Meu milk-shake me deu direito a duas horas, então, cada prato vale duas horas sem interrupções.

- Não, não valem. - ele rebateu, sorrindo abertamente de seu raciocínio.

- Sua mãe demorou duas horas para me atormentar, desculpe, me incomodar pacificamente. - se corrigiu após vê-lo revirar os olhos. - Então tenho direito as minhas quatro horas.

- Você fez um pedido, teve suas duas horas, agora fez outro que também só vale duas horas.

Estreitou seus olhos, o garoto somente deu de ombros como se não pudesse fazer nada.

- Então anote só as batatas, espere cinco minutos e venha anotar meu outro pedido.

- Isso não vai dar certo, já está anotado. - bateu com a caneta na caderneta que segurava, seu lábio inferior projetado para frente em uma falsa desolação.

- Não gosto de você. - soltou emburrada, esticando novamente suas pernas e cruzando seus tornozelos.

- Que pena, porque estou gostando bastante da nossa conversa, Katniss.

- Como você sabe o meu nome?

Não lembrava de ter conversado com ele, iria se sentir péssima se realmente tivessem trocado frases extensas em algum momento. A memória dela para rostos não era assim tão boa e às vezes esquecia o nome de algumas pessoas com frequência. Mas ele, o garoto loiro com o sorriso fácil, não era alguém fácil de esquecer, além do nome no caso, ela não fazia a mínima ideia de qual era o nome dele.

- Sua frequência aqui é bastante regular. - respondeu, olhando por sobre o ombro. - Posso te dar duas horas e meia, combinado?

Encarou a dona da lanchonete, uma mulher com o semblante fechado e nariz empinado, assentiu em concordância. Com toda a certeza era melhor ter ele a interrompendo do que ser expulsa a ponta pés por aquela senhora.

- Ei. - o chamou quando ele se preparou para sair. - Qual é mesmo o seu nome?

Ele abriu um sorriso, não conseguiu disfarçar a tempo a expressão um tanto surpresa, como se não esperasse por aquela pergunta.

- Peeta. Peeta Mellark.

- Bom te conhecer, Peeta. - um pequeno sorriso apareceu em seu rosto.

- Bom te conhecer finalmente, Katniss.

O observou voltar para trás do balcão, o sorriso ainda em sua face quando retornou à sua história. Apoiando o cotovelo na mesa e a bochecha no punho fechado, sua atenção se dividiu pelo resto de suas horas entre os parágrafos emocionantes e os olhos de Peeta, que a encontravam por cima do livro de tempos em tempos.

Love is in the airWhere stories live. Discover now