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- Você poderia, sei lá, ir para outro lugar. - apontou em um tom cortante, baixando os óculos de sol para cobrir seus olhos.

- O seu esforço para se ver livre de mim às vezes é até fofo. - a risada leve após a fala a irritou ainda mais.

- Sossego, só isso que eu queria. - resmungou, segurando um bufo quando uma sombra bloqueou seu banho de sol. - Você está fazendo de propósito, Hopalong.

- O que foi agora?

Ignorou a voz arrastada e o sotaque do sul sempre fazia algo dentro dela vibrar. Segurou um bufo impaciente, continuando com sua acusação entredentes.

- Essa praia é imensamente espaçosa e você veio colocar sua cadeira logo na minha frente. E não diga que não foi proposital.

- Não vou dizer porque não foi.

Franziu o cenho quando o viu se levantar e retirar a cadeira da sua frente, torcendo o nariz quando ele a colocou ao seu lado. Resolveu ignorá-lo, mas como o mundo não era seu para ter o que quisesse, obviamente seu plano não deu certo.

- Então, o que você está fazendo aqui sozinha?

- Você também está sozinho, Guarda Rick. - apontou de forma seca, não se dando o trabalho de abrir os olhos.

O cheiro da maresia, o vento costante e os raios de sol esquentando sua pele possuíam um poder tranquilizador que quase a fazia esquecer do mundo. Quase, porque o inconveniente ao seu lado tinha que aparecer e, como sempre, não saber o significado de silêncio.

- Quis um pouco de paz. - ele continuou, não entendo a sua óbvia falta de entusiasmo para a conversa. - Meu último caso, como você sabe, deu um pouquinho errado. Nunca achei que ia ser processado por um cliente, ainda mais por atentado ao pudor. Mas como eu ia imaginar que a Amélia que estava me ligando não era a minha namorada e sim a minha cliente?

- Olhando antes de atender a chamada, gênio.

- Mas sabe o que é mais engraçado? - fingiu não ouvir a pergunta, continuando mesmo assim. - Você estava ao meu lado e me passou a ligação, Short stack.

Retirou o óculos quando escutou a acusação velada e o apelido ridículo, estreitando os olhos ao virar para encará-lo.

- O que você está querendo dizer? E já falei para você não me chamar assim.

- Que você fez de propósito. - respondeu despreocupado, sorrindo para ela antes de se virar para o mar revolto. - Sei que você pensa que me odeia, mas não acredito que foi tudo premeditado. Você viu a oportunidade e aproveitou.

- Você faria o mesmo. - acusou, cruzando seus braços abaixo do peito.

- Ah, mas aí eu teria que saber como você atenderia a ligação do seu ex...

- Como você sabe que nós terminamos?

- E torcer para a sua saudação não ter mudado. - prosseguiu inalterado. - Só que um, você nunca atende qualquer ligação de forma constrangedora e dois, você nunca atendia uma ligação dele se eu estivesse por perto. - virou o rosto para ela, seus olhos em um tom mais claro por conta da luz. - Estou certo?

Torceu a boca, errado ele não estava. A risada que ele soltou quando ela virou a cara era estranhamente calma. Quis voltar para a sua contemplação da natureza e todas aquelas coisas, mas algo que ele havia dito estava martelando no fundo de sua mente a fazendo se sentir incomodada.

- Por que você disse que eu acho que te odeio? - a pergunta saiu antes que pudesse controlar. Não quis saber a reação dele, sua atenção ainda voltada para as ondas que quebravam na areia com uma força extra. - Eu só não gosto dessa sua positividade e da mania irritante que você tem de se dar bem com todo mundo. Mas nunca, sabe, te odiei nem pensei que te odiava.

Love is in the airWhere stories live. Discover now