- Eu sei, mas às vezes parece que você não sabe disso.

A resposta a pegou desprevenida. Sentou ereta, as mãos caindo em seu colo quando se voltou completamente para ele.

- Quando eu dei a entender que te odiava? Ou pensei que te odiava? - reformulou após o leve arquear de sobrancelhas vindo dele.

- Isso não importa, o que importa é que eu sei que você é incapaz de odiar alguém. - ele sorriu da expressão surpresa em seu rosto. - Eu a conheço há quase três anos, Maya Hart, acredito que sei que o ódio não faz parte da sua vida. Você é igual uma vela de aniversário.

- O quê?

- Aquelas velas que acendem e brilham, mas a luz some em segundos. - explicou. - Sua raiva vem em uma explosão, então evapora tão rápido quanto veio. Você não tem combustível para deixar queimar o ódio. Rancor talvez, mas não ódio.

- Seu eu poético retornou.

- Você adora quando eu falo assim.

- Você queria que eu adorasse. - murmurou, revirando os olhos quando o escutou rir.

- Você não gosta muito de mim, o que é até interessante porque até que eu gosto de você.

- Por que você gostaria de alguém que não te quer por perto, Lucas?

- Ah, você ainda está na negação. - podia escutar cada nota de sorriso na voz dele, ele estava adorando cada segundo daquilo. - Você sempre mantém café pronto quando volto de algum caso, só tem praticamente nós dois naquele andar e sei que outra pessoa não iria fazer isso.

Se encolheu internamente ao escutá-lo, ela não fazia isso por ele, fazia porque também gostava de café quente. E daí que o momento que ela escolhia para tomar café coincidia com a chegada dele?

- Toda vez que trabalhamos até mais tarde você pede duas sobremesas porque sabe que eu posso ficar até depois de você.

- Vai recusar comida agora?

- Nunca, Short stack. - ele riu ainda mais quando ela lhe dirigiu uma careta. - Só acho muito atencioso da sua parte quando você diz para a alguém da minha família que estou trabalhando mesmo que saiba que estou tentando respirar em algum lugar do telhado.

Ele fazia isso às vezes, quando começava a tamborilar em um ritmo desconexo na mesa, a qual ela podia ver porque as portas de suas salas ficavam de frente uma para a outra, ou andava de uma lado para o outro afrouxando a gravata e encarando a vista da janela. Toda vez que ele fazia algo asism exageradamente, ela sabia que ele precisava de um tempo e iria sumir por alguns minutos.

Então, quando ligavam e seu assistente não sabia para onde ele havia ido, quando esse dito assistente resolvia trabalhar, Lucas era muito condescendente com ele para o seu próprio bem, ela pedia para ele dizer que o Friar estava trabalhando ou falava ela mesma quando atendia a ligação, ou mandava a sua assistente atender. Elisa era um amor, ela possuía um futuro brilhante pela frente. Mas voltando ao presente...

- Certo, você percebeu. - suspirou, envergonhada sem saber o porquê.

- Não precisa ficar estranho, sabe? Tudo entre a gente.

- Então temos que ficar quites. - declarou, sentindo a animação por poder provocá-lo nascendo em seu peito. Sentou com as pernas cruzadas abaixo do corpo, um pequeno sorriso malicioso em seus lábios. - Que tal falarmos sobre o fato de você desenhar carinhas felizes no meu chocolate quente toda vez que volta da cafeteria? Ou como você abre todas as portas para que eu passe primeiro do que você...

- Vai me culpar por ser um cavalheiro?

- Ou como toda a sua família sabia quem eu era antes mesmo de eu começar a atender as suas ligações? - o leve rubor que coloriu as bochechas dele fez o sorriso em seu próprio rosto aumentar. - Sabe, sua mãe me contou algo muito interessante.

- Acho que já deu.

- Na, na, não. - o puxou pelo braço para continuar sentado. - Foi algo tão fofo. Ela me disse que você pediu para ela fazer uma torta de maçã no domingo a noite. Se bem me lembro, na manhã de segunda tinha uma caixa muito bem decorada com uma linda torta me esperando em cima da minha mesa. - riu de como ele desviou o olhar, a mão ainda presa no antebraço dele para impedi-lo de escapar. - Mas por que você fez isso?

- Riley tinha comentado que você iria visitar seu pai no fim de semana.

Se afastou dele, surpresa pela resposta sincera e pelo motivo. Sabia que não voltava bem depois de uma visita ao seu pai, só continuava a ir por conta de seu meio irmão, porém, nunca parou para pensar que Lucas percebia que algo estava diferente. Um calor conhecido, e a muito tempo não sentido, começou a se espalhar por seu peito. Pigarreando, pôs um sorriso tranquilo no rosto.

- Obrigada.

A expressão angustiada no rosto dele se dissolveu, dando lugar a uma de surpresa e alívio. Quis rir do fato dele provavelmente estar esperando que ela fosse reclamar por ele estar se intrometendo em sua vida ou pedir para que nunca mais fizesse isso. Bom, Maya não iria admitir verbalmente que estava grata pela atenção de Lucas, mas também não iria negar qualquer gesto de carinho vindo dele, principalmente se tivesse comida envolvida no meio.

- Sempre. - a palavra saiu como uma promessa de seus lábios.

O brilho em seu rosto parecia vim tanto dos raios de sol quanto de um sentimento interno, um sorriso foi compartilhado entre eles. Maya se viu respirando aliviada, como se há muito estivesse prendendo algo enorme em seu peito. Se recostou novamente na cadeira de praia, observando as nuvens escuras dando um indício no horizonte.

- Agora podemos aproveitar esse tempo em silêncio? - propôs, decidindo não colocar o óculos de sol.

Virou o rosto para o lado quando o escutou arrastar a cadeira para ficar mais perto dela. Riu suavemente após ele praticamente se jogar e inclinar o corpo em sua direção.

- Vou tentar o meu melhor.

- Acredito em você, Sundance.

Ele riu alto de sua expressão nem um pouco crédula.

- Sei que sim, raio de sol.

O riso dele se tornou ainda mais animado quando ela corou. Maya bufou, resolvendo ignorá-lo, mesmo que seu coração batesse a mil como se estivesse correndo uma marotona onde a linha de chegada se encontrava nos braços do Friar.

Love is in the airTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon