Capitulo X: Encontro

Start from the beginning
                                    

Isso era verdade.

A criança jamais havia andado tanto em sua vida.

Já deveria ser quase meio dia, quando decidiu sentar no banco de uma praça e comer alguma coisa, já que seu estômago estava reclamando pela falta de comida.

— Tenho que planejar onde vou dormir. — ela deu uma mordida. Talvez pela situação e por sua infelicidade, o biscoito estava muito mais amargo do que deveria ser. — Nos filmes os mendigos dormem no chão, mas deve ser tão desconfortável. Eu queria dormir com o papai...

Foi quando, novamente, sentiu falta de seu pai. Mesmo zangada com ele, Yuki só queria ter a certeza de dormir abraçada com ele mais uma noite.

— De qualquer forma, se sou um peso para ele, ele também é um peso para mim. — falou consigo mesma. — Sim. Ele e aquela mulher são dois pesos para mim. Eu os odeio.

Isso, obviamente, era só da boca para fora.

Yuki achava que, ao dizer isso, sua cabeça ia assimilar que não precisava deles, nem tinha que sentir saudades do pai. Era óbvio que ela amava Dabi mais que tudo no mundo, mas não ia com a cara da sua mãe.

— Pai idiota. — ela fungou, percebendo que estava chorando. — Idiota. Idiota.

Ela resmungou mais um pouco e suspirou.

Iria dormir naquele local, naquele dia. Não tinha lugar melhor, visto que, de qualquer forma, iria ficar ao ar livre.
Por isso, ela passou as horas seguintes apenas sentada e refletindo.

Só conseguia imaginar no que o seu pai estava pensando e em como ele estava. Provavelmente, deveria estar feliz por não ter que se preocupar com um peso como ela.

Mas, em seu interior, queria que ele estivesse preocupado e chorando por ela. Queria que fosse buscá-la e dizer que tudo não tinha passado de um mal entendido maluco e que eles iriam viver como sempre foram.

As horas foram se passando e logo anoiteceu.

Se antes Yukj já estava assustada, agora ela literalmente chorava e tremia de medo.

— Tudo culpa do papai. — resmungou. — Se ele me odeia tanto, por que me teve? Deveria ter me vendido para um circo. Eu seria bem mais feliz.

— Ei, garota. — um homem alto e magrelo se aproximou.

Era bem velho e tinha os dentes apodrecidos e, ao chegar perto de Yuki, ela pôde sentir o fedor do álcool.

A criança sabia muito bem que alguém assim não era nada confiável.

— Onde estão os seus pais?

Ela se levantou do banco, amaldiçoando-se por não ter feito isso antes, já que as pernas estavam rígidas por ter ficado tanto tempo sentada.

— Está perdida? — ele insistiu.

— Não é da sua conta. — ela respondeu, mal-humorada, e esperando que isso fizesse o homem ir embora.

— Deve estar irritada por estar perdida! — ele deu um sorriso satisfeito. — Vamos, eu te levo para os seus pais.
Para o seu azar, ele pegou o seu braço com força.

— Me solta! — Yuki gritou, chamando brevemente a atenção de algumas pessoas. Logo em seguida, todos na praça ignoraram a situação.

— Eu tenho alguns doces em casa. — o homem continuou a sorrir, fazendo com que Yuki chorasse de medo. — Nós podemos dar uma passadinha lá e você me explica o que faz sozinha em um local como esse.

— Não quero!

Yuki conseguiu se soltar, ao dar um chute na perna do velho. Isso não o deteu por muito tempo, já que ele avançou para cima da menina. Ela só teve uma escolha: correr, deixando para trás sua mochila e seus mantimentos.

Porém, ela não se afastou muito, já que esbarrou em alguém.

Por um momento, chegou a pensar que fosse o seu pai, já que o calor que o corpo passava era semelhante, além de que, ao se chocar com ele, Yuki sentiu a mesma sensação proteção que sentia quando estava nos braços do pai.

— Deixe esse criança em paz. — a pessoa em quem ela esbarrou falou.

Foi quando percebeu que não era seu pai, já que a voz era bem diferente, apesar de ter um tom parecido.

— Quem você pensa que é, pirralho?

— Sou um herói. — ele respondeu. — Agora, e melhor que vá para longe dela ou será detido.

Após alguns minutos, a pessoa se afastou dela.

Foi só aí que Yuki percebeu que estava abraçada com ele.

A pessoa se abaixou, ajoelhando-se e ficando na altura do rosto dela. Era um menino alto, com olhos bicolores de cinza e turquesa, com uma marca avermelhada no lado esquerdo do rosto. Seus cabelos possuíam duas cores: branca e vermelha, e vestia uma roupa completamente azul. Lembrou-se que já tinha visto ele na rua, quando estava em companhia de Yato.

— Ele já foi. — assegurou, afagando a sua cabeça. — Você está bem?

— S-sim. — Yuki fungou.

— Onde estão os seus pais? Vou levá-la a eles para que ninguém mais te incomode, certo?

Por algum motivo, nele sim ela podia confiar.

— Eles estão aqui na praça. — mentiu, sabendo que essa era a sua melhor opção.

— Então vamos. — ele se levantou, esticando a mão para Yuki. — Vou levá-la até eles.

— Não precisa. — Yuki se apressou em responder.

— Aquela mochila é sua? — ele apontou para a bolsa no banco, indo em sua direção.

O zíper estava aberto e, ao pegá-la, notou o conteúdo que estava dentro.
Levou menos de cinco segundos para ele entender tudo.

— Você está fugindo de casa. — não foi uma pergunta. — Por que?

— Não estou. — mentiu novamente. — Não estou. Só estou... bem, dando um tempo.

— Dando um tempo em quê? — ele arqueou a sobrancelha.

— Eu vou ficar bem. — ela desviou da pergunta, pegando a mochila das mãos do menino. — Não precisa se preocupar.

— Você é uma criança. — ele comentou, o óbvio. — Não vai ficar bem só. Vamos, vou te levar para a sua casa.

— Eu não quero! — Yuki gritou, irritada. — Estou de mal com o papai. Sou um peso para ele. Não quero voltar!

O garoto ficou bem pensativo, ganhando um olhar triste ao ouvir a menina.

— Então está fugindo por que brigou com o seu pai?

— Ele não gosta de mim. — lamentou-se. — Me odeia e eu odeio ele.

— O que ele te fez? — o garoto perguntou. Qualquer coisa vinda de um pai não o surpreenderia.

— Quer que eu vá morar com a minha mãe. — Yuki disse. — Mas eu nem a conheço e ela me odeia. Ele não me quer mais. Ele me odeia tanto por que sou um peso para ele. Se eu fugir de casa, não serei mais peso para ninguém.

O menino suspirou, mais tranquilo, apesar de ainda achar essa história bem estranha. Pelo menos a menina não sofreu maus tratos como ele.
— Então você está realmente fugindo.

Seu rosto ficou vermelho.

— Me explique essa história direito. — ele sentou-se no banco da praça. — Tenho que resolver como te ajudar.

— Como você se chama?

— Como eu me chamo? — ele a olhou, confuso.

— Se vamos conversar preciso saber o seu nome, mesmo que você seja um herói.

— Shoto Todoroki. — se apresentou.

— Eu sou a Yuki.

the villain's miracle [DabixChildReader]Where stories live. Discover now