Verde

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Bonjour! ♥🦋

Será que os irmãos de Amélie darão uma trégua após o susto? Vão abrir mão do orgulho? E Marta? Como ela lidará com o capacitismo e com a maldade presente na sociedade?

O capacitismo vem camuflado como a compaixão, mas machuca. É lobo em pele de cordeiro.

Link do Autismo e Realidade para quem quiser saber mais sobre o assunto:
https://autismoerealidade.org.br/2020/07/09/capacitismo-o-que-e-e-o-que-fazer/

Boa leitura!

- Mia Bitencourt

"Capacitismo: o que é e o que fazer?

A base do pensamento capacitista é de que há um padrão corporal - inclusive neurológico - ideal. Desta forma, quem não pode se enquadrar neste padrão não está habilitado para participar plenamente das atividades sociais. - Autismo e Realidade."

O verde da árvore de natal que estava posta ao centro da sala, decorações colocadas em seus devidos lugares, o aroma da comida dissipando-se no ar, luzes cintilantes que machucavam os olhos.

Falando em olhos, as esmeraldas que tinha no pescoço combinavam com às que tinha no rosto. Amélie havia ganhado alta, era véspera de natal, usaria verde naquela noite, talvez fosse a cor mais apropriada ou apenas uma cor que ele amava que ela usasse. Estava arrumando-se impecavelmente para si, mas queria despertar um olhar específico.

Ela cuidava de cada detalhe, o pó de arroz, o batom rosé, as maçãs do rosto eram corais, os olhos acentuados em tons de dourado, cada detalhe impecavelmente calculado. Ela sorria com o próprio reflexo, estava satisfeita.

"La vie est belle" leu no rótulo do perfume. Notas florais, frutadas, sensualidade dissolvida em alguns mls de perfume. Talvez a vida fosse bela mesmo, estaria reunida com todos os seus pedaços, entretanto, estaria na casa que jurou nunca mais botar os pés.

"É por ela, só por ela." Tentava se convencer. Era hipócrita o suficiente para dizer que era pela filha, pela caçula, até podia ser, mas não era o único motivo. Queria estar com Clara, queria reviver os tempos que outrora eram uma família. Queria ficar com ele por alguns minutos, incontáveis minutos, quem sabe uma vida inteira, uma noite ou duas horas. A infinidade dos minutos estava no olhar de ônix do homem que tanto amava mas que jurava a si mesma nunca mais tocar.

- Mamãe! Estou igual você! - Falava Amélie animada. Ela rodopiava com o vestido esmeralda que usava.

Marta sorriu, a filha estava magicamente melhor, quando contaram sobre o natal em família a menina melhorou. Ganhou alta um pouco antes da primeira hora da tarde, não chorou, não teve crises, tampouco reclamou. Era como a mãe, só sossegava quando conseguia o que queria e as vezes era traída pelos próprios sentimentos que a faziam desesperar.

- Está linda, meu amor. - Respondeu dando os últimos ajustes na presilha de seu cabelo.

- Eu sou linda, mamãe. - Sorria convencida. Como podia ser tão parecida com ela?

- Venha cá. - A chamou. - Uma dama precisa de um batom para ficar impecável.

Amava tanto aquele olhinhos verdes brilhando, Amélie não fazia contato visual, estava sempre com o olhar perambulando em pontos diferentes. Sempre trataram esse traço como curiosidade, os sinais eram tantos, podiam ter notado antes.

- Olha pra mamãe, filha. - Marta pediu. Era complicado estabelecer um contato visual com a mãe e com qualquer outra pessoa. - Ficou linda.

- Igual você, mamãe? - Indagou.

- Igual a mim. - Era doida por aquela menina. Sua joia, sua esmeralda lapidada com perfeição. - Vamos? - Amélie assentiu.

Desceram as escadas, encontraram Pedro, Amanda, Eduarda e Lucas. Todos impecáveis, os Mendonça e Albuquerque eram impecáveis. Era assim que tinham que ser, era assim que seriam.

ColorsWhere stories live. Discover now