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Hoje o dia está como todos os outros, nublado. É isso que dá morar em uma cidade grande como São Paulo: dificilmente o céu está aberto e azul. O lado bom é que aqui tem muitas coisas para fazer, museus, lojas e patinação no gelo.
Esses dias minha mãe falou para eu tentar coisas novas, já que estava muito deprimida, quero dizer, continuo. Então eu decidi fazer patinação no gelo. É, eu sei! De tantas coisas eu fui escolher logo isso. Ainda mais eu, sedentária e nada flexível.
Mas dizem que sempre é bom tentar algo novo, então aqui estou eu com meu copo de café com leite e meus documentos de inscrição na frente do Palácio de Gelo, o estabelecimento de patinação no gelo que me inscrevi.
Meu coração está apertado, inseguro.

"Vamos lá, eu consigo!"

Subi os inúmeros degraus com as pernas meio bambas e logo quando entrei no estabelecimento vi um guardinha e tentei conversar com ele.
Ele estava encostado numa parede logo na entrada. Ele deve ter em torno de 50 e 60 anos, por que seus cabelos são grisalhos e sua pele já é um pouquinho enrugada.

- Com licença, meu senhor - eu cutuquei seu ombro. - Sou Luiza e estou aqui para minha primeira aula de patinação.

Ele se espanta com o meu toque.

- Oh, mocinha! - ele se vira para mim. - Sim, sim. Poderia me dar esses papéis, que presumo que sejam os da inscrição? Vou entregar eles para a recepção.

- Oh, claro! - eu entreguei os papéis a ele.

Depois de entregar os papéis para uma jovem mulher na recepção, ela indicou o lugar que deveria ir para o senhor. Ele acenava positivamente para ela, compreendendo o caminho até lá.
Depois ele agradeceu e veio ao meu encontro, pedindo.

- Siga-me, senhorita.

Nós andamos por um longo tempo, por causa de seus passos lentos. Normalmente não tenho paciência para aturar uma pessoa andando devagar em minha frente, mas como eu já disse, ele parece ser mais velho. Se não fosse por isso, passava por cima.
Ele abriu finalmente uma porta no fim do longo corredor que caminhamos que dá para a pista de gelo. Ela é tão gigante que as pessoas que estão nelas parecem minúsculas como formigas - corredoras ainda por cima.
Mas o senhor continuou a andar reto e nem olhando para a esquerda, onde está a pista. Comecei a ficar confusa.

"Eu não deveria entrar na pista como todos os outros?"

Mas eu não notei que eu nem estava usando meu patins até o senhor dizer.

- Aqui dentro fica o vestiário feminino. Eu não posso avançar daqui, então - ele me entregou uma chave - encontre seu armário e se prepare.

Eu observo o número da chave, 52.

- Depois - ele continuou -, venha para as arquibancadas e espere os iniciantes serem chamados.

Ele sorriu gentilmente e foi embora. Acho que ele é realmente um homem de poucas palavras.
Logo, empurrei a porta e entrei. Há, do lado esquerdo, armários no estilo estadunidense. Muito chique. E do lado direito, um banheiro feminino,
Eu peguei novamente a chave e saí procurando meu armário me sentindo toda perdida. Tem tantos armários aqui, que tem até uma parede que divide o lado esquerdo em dois. E é lá que eu achei meu armário e mais uma garota com um colã branco e uma calça legging preta sentada no chão, que consegui sentir só pelo olhar que é frio. Do seu lado está (possivelmente) seu patins.
Eu me apressei para tentar não chamar sua atenção, mas acabei me atrapalhando toda; deixei escapar meu copo de café no chão. O líquido logo se espalhou pelo chão, fazendo uma sujeira danada. Eu dei um leve gritinho de lamentação com a mão cobrindo minha boca, após perceber a sujeira que acabei de fazer.
A garota, no entanto, se levantou do chão e saiu sem mais nem menos. Eu comecei a sentir minhas bochechas queimando de vergonha, mas ela voltou com um pano de chão e sorriu, assim, me aliviando.

- É nova, né? - sua voz soa gentil.

Ela secou o chão em torno de meio minuto.

- Não vai me responder? - ela retrucou se levantando e dobrando o pano encharcado de café.

- Oh, me desculpe - eu lamentei ligeiramente. - Sou sim.

Ela sorriu novamente e agora pude notar melhor sua aparência robusta, seus cabelos e olhos castanhos e sua pele morena clara. Ela é linda.

- Entendi. Sou Júlia - ela esticou a mão para me cumprimentar.

- Luiza - eu a cumprimentei.

Ficamos um tempo segurando a mão uma da outra e sorrindo, até que alguém bateu à porta e a chamou. Júlia soltou minha mão e me entregou o pano.

- Eu tenho que ir - ela se explicou enquanto ia embora do vestiário. - Até depois?

- Okay, até - eu acenei.

Neste momento, recebi uma mensagem de Ana, minha amiga mais próxima. Ela e eu estudamos juntas quando pequenas, no jardim de infância.
Ela me mandou uma mensagem preocupada, mas disfarçada de deboche: Cuidado pra não fazer merda com sua perna que eu quebrei!
Essa é uma ótima história para ser contada! Quando estávamos voltando da educação física do jardim de infância, ela propôs passarmos por cima da cerquinha para não precisar andar até o portão principal que ficava muito longe. Ela foi primeiro e deu tudo certo, mas, na minha vez eu perdi o equilíbrio e cai em cima da minha perna direita e, assim, eu quebrei minha perna nos meus cinco anos.
Depois disso, nos afastamos. Foi bem triste... minha mãe me colocou para de tarde depois de eu explicar o que aconteceu.
Ainda me recordo de suas palavras quando ouviu meu relato:

"Meu Deus! Vou colocar você pra tarde. Se ela conseguiu quebrar sua perna, ela consegue fazer algo pior!"

Obs: Hoje eu começo a rir quando me lembro disso tudo.

Ela me colocou para a tarde e nunca mais vi Ana, até o meu primeiro ano do ensino médio, no ano passado para ser mais exata.
A partir de então, voltamos a ser amigas. Desabafo que há ainda algo estranho entre nós, mas fizemos promessas para enfrentar isso.
Eu respondi.

"Se eu pudesse, dava agora minha perna na tua cara. Se cuida. Tô indo."

Ela retruca com uma figurinha de uma pessoa ganhando um chute na cara e caindo no chão, e adiciona.

"Querida como um coice de mula 🐐"

Eu mandei um áudio rindo e depois uma mensagem.

"Isso é uma cabra e não uma mula. Só podia ter hipermetropia"

Ela mandou um áudio debochando de mim na mesma intensidade.

"E você que é míope. Não enxerga direito e tira foto pelo celular para enxergar bem as paisagens"

Eu desliguei meu celular revirando os olhos e franzindo a testa.

"Isso já é muito exposed para só um capítulo"

Alguém de repente entrou no ambiente e chamou meu nome.

- Luiza? Luiza? - uma mulher me convocou.

- Sim? Estou aqui - eu informei

A mulher não veio ao meu encontro, mas me contou.

- Consegue se preparar em cinco minutos? Eu sei que chegou agora pouco, mas a professora não espera.

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Meu Mundo é Mais Colorido com VocêWhere stories live. Discover now