Me marca, sou todo seu Parte I

Capítulo 52

Times e meninas.

Toda partida é uma penca de tietes se atirando para cima dele. Ele? Não dá confiança nenhuma para ninguém, mas ainda assim é chato. Ele joga de capacete e com um uniforme que parece uma armadura. Como pode chamar tanta atenção assim? 
Eu já desisti de entender e de brigar. Ele não tem culpa de ser tão bonito. Embora essa nem seja a maior qualidade dele.

Enquanto você dormia eu terminei mais um semestre e vou voltar pra casa.  Merecidas férias nós teremos.

Enquanto você dormia, saiba que passei aqui todos os dias, exceto finais de semana, que é quando sua família vem. 

Eles te amam, sabia Thunder? Não sei porque você foge tanto deles e nunca fala como eles são.  Há algo que eu não saiba?
Volte logo para me contar. Sua ausência está demorando demais, e meu coração se parte cada vez que deixo você para trás. 

Enquanto você dormia eu maquiei você quando foi para o quarto. Não deixei que tirassem fotos, não achei justo. Você não estaria sorrindo e poderia não gostar, quando acordar. Eu coloquei brincos coloridos e uma vez enrolei um cachecol azul turquesa para quebrar aquele branco de hospital. Mas ao sair tive que tirar, porque era perigoso pra você. Renovei as flores todas as semanas e troquei a pilha do cuco de unicórnio. 

Enquanto você dormia eu cuidei de você como imagino que uma filha cuidaria da mãe.  Mas acho que dessa parte você não ia gostar. Com certeza vai dizer que eu poderia ser sua irmã, mas não filha.

Eu não tenho filha marmanja, Lara Jean. 

Eu quase posso ouvir você falar. 

Cobrava as enfermeiras que mudasse seu corpo de lado para que você não se machuque. Trouxe o dono do salão para vir cortar seu cabelo e fazer suas sobrancelhas.  As sextas eu lia o jornal e na quarta trazia bilhetes dos frequentadores assíduos da biblioteca. 

Enquanto você dormia, eu derramei muitas lágrimas sobre o seu leito. Eu fui forte algumas vezes e vinha tentar te trazer alegrias. Mas as vezes eu chegava aqui e sentia meu peito apertar ao te ver ainda de olhos fechados. Uma vez eu estava tão mal, precisando tanto de você que colei a cadeira na cama, e pus a sua mão sobre a minha cabeça. Ficamos assim por horas. Nesse dia não havia maquiagem, e eu não contei sobre como havia sido meu dia. 

Houve apenas o silêncio.

Enquanto você dormia.

**
Hoje é o último dia de aula de Peter e estamos todos em Stanford para a apresentação aberta de seu trabalho final de psicologia.

Sua pesquisa ficou tão boa e foi considerada tão relevante, que a professora marcou um dia para ele apresentar o trabalho para toda a universidade. Seus pais estão na plateia  orgulhosos do filho,e Kitty veio babar pelo cunhado preferido, único cunhado na verdade. Pois Margot continua sozinha, desde que Ravi terminou com ela.

-Eu não entendo porque não posso usar o cartaz que eu fiz para ele. Que saco!

-Kitty? Não estamos em um jogo de Lacrosse. Esse é um assunto muito sério, que pode ajudar a salvar vidas. Não podemos tirar a atenção disso.

Ela bufa. Mas parece entender o peso que tem falar sobre isso, para jovens que são os que mais sofrem com problemas de depressão severa. 

-Caramba. Tô nervoso, parece que é meu primeiro jogo pela universidade e eu tô enfrentando o maior time da liga. Por favor, tenham paciência comigo. 

Eu também estou nervosa. Acompanhei todo o processo de criação desse trabalho e tô me rasgando de emoção com tudo que Peter fez. 

Ele é incrível.

A forma com que se envolveu, como se preocupou em ter informações técnicas e pudesse principalmente ser útil foi tão genuína e sensível. Peter foi convidado inclusive para montar um grupo de estudos  em Psicologia sobre o assunto, mas como ele não pretende cursar essa carreira, entregou toda a sua pesquisa e passou o bastão para o professor assistente que o auxiliou. 

-Bom, vamos lá.  A minha vontade era que o título fosse: Não seja você a dar o último empurrão! Mas meu professor achou que pudesse ser grosseiro então mudamos para Seja o primeiro a estender a mão.  E...ele vai me matar por estar revelando isso a vocês.  Mas a gente não tem que passar a mão na cabeça, tem que chamar à realidade e mostrar o que precisamos fazer para salvar vidas e não ser mais um na multidão que não enxerga além do próprio umbigo.

Sua apresentação foi impecável e esclarecedora. O trabalho abordou os diversos sinais de depressão, como identificar e principalmente como ajudar as pessoas. O legal também é que ele aponta alguns comportamentos da sociedade que colaboram  para o agravamento da doença como bullying, preconceito, relacionamentos tóxicos. 

Agora Peter sai de cena, para que os especialistas possam conduzir uma campanha de conscientização de que depressão mata, mas que nós podemos cuidar uns dos outros. 

-Parabéns,Amor. Estou muito orgulhosa de você.  
Digo quando ele chega até nós. Seus pais também estão felizes com o cara divertido, sensível e amigo que Peter se tornou.  

-Achei que minhas pernas fossem se partir ao meio de tanto que tremiam. Mas depois passou, gostei de falar em público.  Eu fui bem, num fui? 

-Meu Deus Peter. A sua autoestima deveria ser engarrafada e vendida em euros.

Diz a Kitty, divertidamente, arrancando uma risada de todos. 
Sr. Kavinsky nos convida para almoçarmos todos juntos, e Susan fica visivelmente constrangida.

-Susan, vamos. Nosso filho se tornou um homem extraordinário por sua causa. Temos que celebrar juntos. O que passou, passou. Vamos escrever uma nova página.

Peter troca um sorriso com sua mãe, e agora ele se sente em paz outra vez. 

**

Voltamos para casa depois de um semestre duro, mas de muito aprendizado.  Preciso descansar e recarregar minhas energias, mas também tenho uma lista de livros para ler, relativo ao grupo de estudos que estou participando e que não deve parar durante as férias.

 Meu coração ficou na Califórnia com Thunder, na torcida por melhoras. Disse que ligaria todos os dias, mas me entristece saber que sua família só a visita aos fins de semana. 
Combinei com uma enfermeira de fazer uma ligação de vídeo quando ela estivesse de plantão, mas isso é só a cada 2 dias. Thunder nunca respondeu a meus estímulos, mas para mim é importante fazer algo que pudesse a deixar feliz.