-Mas será que eles dão sinais, antes que aconteça? Quem tá por perto tem que fazer alguma coisa. Eles não pedem ajuda? É muito triste isso. 

-Eu não sei. Eu nunca lidei com depressão assim tão de perto. 

Lembro que Peter também ficou impressionado ao fim de Romeu e Julieta. Ele não se conformava, e eu achava romântico.  

-A menina que perde a irmã.  Caramba, era a melhor amiga dela, é como se fosse uma parte dela que tivesse ido embora. Dá pra acreditar? 

Eu fico em silêncio.  Pensando na minha própria vida. Acho que Peter percebe, porque me olha com pena agora.

-Como foi pra você? Você já me disse algumas vezes,  mas como você superou a perda da sua mãe? Se é que você superou.

-Ah Peter. Eu era tão nova. Quando somos crianças a gente encara melhor as perdas.  Eu acho.

-Mas você não sente dor? Nem um pouquinho?

-Sinto. Na minha primeira menstruação, na minha formatura, nas vezes em que terminamos, quando a Gen deixou de ser minha amiga. Em muitos momentos sinto falta dela. E penso que meus filhos não a conhecerão. É tão bom ter avó.

-Nossos filhos!
Ele me corrige e conseguimos sorrir mesmo com a seriedade do assunto. 

-Se eu olho pra frente, eu tenho esperança.  Meu pai tá do meu lado agora. Mas se eu olho pra trás, machuca, sabe? Eu penso que o Lacrosse salvou a minha vida. Assim como eu acredito que sua família quem salvou a sua.

-Sim. Nós tivemos apoio e um sonho para se agarrar. 
De fato eu não sei o que teria sido de mim e minhas irmãs se não fosse o papai. E até mesmo o fato de termos uma a outra.
Fico emocionada com a sensibilidade de Peter. 

-Outra coisa que me chamou muito a atenção é a perseguição que ele sofre. Ninguém estende a mão, só julgam o cara. A gente não faz ideia de como as palavras que dissemos podem ferir alguém. Todo mundo que falou dele carrega um pouco de culpa nas costas.

-Por isso é importante toda essa questão do bullying.  Não é mi-mi-mi. A conscientização é importante. 

Quando voltei para a escola depois da morte da minha mãe, notei os olhares de pena das outras crianças. Não necessariamente pena, muito mais curiosidade. Será que ela chora o tempo todo? Ela tá sorrindo, como pode sorrir se a mãe morreu? Quem vai cuidar dela? Ela não vai mais participar das feiras. Quem vai fazer o bolo?

Eu tinha que enfrentar coisas assim o tempo inteiro. Uma vez eu não fiz o dever de casa por um motivo qualquer, coisa comum de criança.  Quando a professora perguntou, um outro aluno gritou: e porque a mãe dela morreu professora. Era isso que eu era: a menina que a mãe morreu. Como se esse título pudesse me beneficiar em algum momento da vida.

Com Peter não deve ser diferente. Mas com ele, a cobrança vinha de si mesmo. Pelo que vejo, por muito tempo ele se culpou pelo abandono do próprio pai. Peter tem problemas de insegurança, de se enxergar um cara incrível. Mesmo com Sr. Kavinsky hoje dando todo carinho e atenção a ele, seu erro no passado deixou marcas profundas.

-A gente tem que estar atento Covey. Se alguém tivesse olhado pra aquele menino com empatia, poderiam tê-lo ajudado. 

-Foi exatamente o que ele fez com a menina. A compreendeu e ajudou. Só não salvou a si mesmo.

-Pois é.  Isso não pode acontecer. É nosso dever enquanto sociedade cuidar uns dos outros. 

-O que você quer dizer?

-Não sei. No momento eu tô um pouco confuso. Mas eu sinto que tenho que ajudar de alguma forma. 
 
Se tem um cara com o coração maior do que o de Peter eu não conheço. Se tem alguém mais sensível e altruísta do que ele,  está por aí em um mundo desconhecido. Ele é demais, e sei que de alguma forma, ele vai levar isso adiante. 

Me marca, sou todo seu Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora