Enquanto Amei Você, Matheus (Físico)

Capítulo 10 - Inédito

Como descrever sentimentos que antes não eram sequer pensados?

A noite anterior foi moldada pelas bordas de repletas emoções, reviravoltas e embates épicos. E eu que achava que a minha vida passava longe de ser uma novela! Virei a noite em claro, quase não fechei os olhos. Fiquei repassando os detalhes. Calma aí, Jamie. Você tem de organizar seus pensamentos, suas emoções. Afinal, você é ou não é um virginiano nato? Prós e contras, sinto ou não sinto?

— Eu não posso sentir isso agora. Qual é o seu problema?

Levanto da cama, escovo os dentes. Nem tomo café, pois a minha barriga estava se contorcendo por dentro em milhões de fragmentos de emoções. Eu ainda tinha unha para roer? Olho pela janela, Charlie estava ali parado, de óculos escuros e todo seu perfume interior encantador. Fecho as cortinas rapidamente assim que o vejo me olhando. Respiro fundo, caminhando até a porta e saio.

— Cara de paisagem, cara de paisagem...

Cochicho enquanto ando em sua direção.

Sorrio, falsos sorrisos, falsa plenitude, falsos hábitos. Eu sou um péssimo ator.

— Por que não atendeu minhas ligações? — ele perguntou assim que cheguei onde estava.

— Fui dormir cedo — menti.

— Você atualizou seu status de madrugada — ops.

— Esse é meu cedo — eu sorrio, tentando disfarçar meu tombo.

— Acreditaria em você se eu não tivesse te ligado três vezes às dez, dez e meia e onze e meia!

Melhor eu parar de mentir, está ficando constrangedora a situação. O mais engraçado de tudo, é que ele me olha calmo, muito calmo.

— Talvez nesse meio tempo eu parei para fazer um lanche...das dez, dez e meia e onze e meia.

Tentei parar e falhei miseravelmente. Eu sou um mau mentiroso que adora mentir. É tipo você querer tirar dez na prova de matemática sendo que você não estudou nada no dia anterior. Nem na semana anterior. Nem no mês.

— Cê tá me ignorando, Jamie?

Ele sorri e me encurrala no carro, pondo os braços dos dois lados, bloqueando minha passagem. Droga. E agora minha respiração não está funcionando e, droga de novo, minha barriga está queimando.

— Só queria ficar sozinho um pouco — eu falo então. Era verdade dessa vez.

Não conseguia manter meu olhar por muito tempo nos dele. Algo nele me fazia corar, me fazia ser vulnerável. Nossos rostos estão próximos e eu sinto uma vontade extraordinária de beijá-lo, mas tenho medo de levar um soco se o fizer. Estava mesmo muito afim de arruinar o nosso namoro de mentira.

— A Yolanda me ligou ontem. Quis conversar comigo sobre nós.

Tinha que ser. O clima foi por água abaixo.

— Tá, a gente pode ir para a escola agora?

Eu me desvencilhei de seus braços.

—Você quem manda, namorado.

Ele adentra no carro com um sorriso sacana no rosto.

— Essa história maluca nunca poderia ter dado tão certo.

— É...

Eu reviro os olhos e tombo para o lado no banco. Fiquei o caminho todo calado. Quando saí do carro, me deparei com Matheus vindo até mim.

— Qual é o seu problema?

Ele grita e empurra Charlie.

— Como pôde expor Jamie daquele jeito?