Capítulo 24 - Os ventos mudam (Daniel)

74 20 34
                                    


Daniel olhou para o exército de monstros que os cercavam e tremeu. Mesmo tendo seu corpo inteiro coberto por chamas o frio do polo sul ainda o fazia tremer. Ou talvez o tremor estivesse mais relacionado aos gigantes de gelo e bonecos de neve com dentes de tubarão que o olhavam como se ele fosse o lanche da tarde.

O que o Jonas faria? Se ele tivesse o poder que tenho, o que ele faria?

Um dos gigantes soltou um grito de batalha e ergueu o machado acima da cabeça. Ele gritou também e jogou uma bola de fogo no meio das pernas do Jotun.

O monstro urrou de dor, deixou o machado cair e deitou em posição fetal na neve.

— QUEM É O PROXIMO? — Perguntou e preparou outra bola de fogo.

Em resposta todos os inimigos avançaram de uma vez para cima deles.

— Fiquem atrás de mim! — Thomas bateu no chão com seu escudo e jogou uma onde de poder dourado em cima dos bonecos de neve, destruindo alguns deles.

Mikaela olhou para o chão e bateu com seu bastão em pedaços de gelo quebrado do tamanho de bolas de basebol e fez cada pedaço desses voar na cabeça de um gigante. O monstro levou uma mão à frente do rosto para se defender e Daniel aproveitou a distração para jogar outra bola de fogo na virilha do homem. O Jotun se uniu ao seu irmão que ainda gemia de dor.

Em uma onda de ataque suicida dezenas de bonecos de neve se jogaram em cima da barreira de fogo até extinguir parte dela, criando uma passagem para os demais. Daniel xingou e se preparou para o pior agora que nada impedia um ataque direto.

E foi nessa hora que a ventania os atingiu.

Os ventos começaram do nada e logo formaram um enorme tornado ao redor deles que destruiu bonecos de neve e atirou gigantes contra o chão.

— Qual de vocês está fazendo isso? — Ele perguntou, mas a expressão na cara de Thomas e Mikaela lhe disse que nenhum deles sabia explicar o evento.

A figura de uma garota se formou na frente deles, uma garota feita de vento.

— Fiquem juntos e não tentem se afastar de mim! — Quione disse e disparou para o céu.

Daniel sentiu a força do vento o erguer do chão, ao seu lado Mikaela e Thomas também eram carregados e logo todos foram levados para o céu como folhas sendo arrastadas pelo vento. Tudo aconteceu muito rápido, os gigantes de gelo se tornaram pontos minúsculos no chão e Quione aumentou a velocidade com a qual viajavam até que tudo o que ele conseguia ver ao seu redor se tornou um borrão.

— Para onde está nos levando? — Conseguiu perguntar com dificuldade.

Respirar se tornou uma tarefa muito difícil de um segundo para o outro. A garota de vento nem olhou na sua direção quando respondeu:

— Para o polo Norte!

Daniel não entendeu nada e nem conseguiu pensar no assunto. Sua consciência o abandonou e ele se deixou levar pelo vento.

Quando despertou, percebeu que estava no chão porque sua cara estava quase colada na neve. Resmungando, ficou de pé e olhou ao seu redor. Thomas e Mikaela estavam ao seu lado, tão desorientados quanto ele. Alguns metros à sua frente ele conseguiu ver muralhas enormes e atrás delas o que lhe pareciam as torres de algum tipo de palácio colossal.

O palácio da estrela do norte?

— Por que nos ajudou? — Mikaela perguntou para alguém que Daniel não conseguia ver.

Então Quione se materializou à frente deles com o seu corpo esquisito feito de vento que aparecia e desaparecia constantemente.

— Tive meus motivos, humana. Mas não pretendo discuti-los com vocês. Onde está...?

A garota de vento foi interrompida por uma lança que atravessou seu peito, sem efeito algum, claro.

— Quione, me dê um bom motivo para não desintegrar você. — Noelle exigiu, ela e seu cavalo se aproximaram deles galopando pelo ar.

Quione olhou para a loira e sua montaria voadora.

— Sua lança mágica não pode me tocar, valquíria. E recomendo que meça suas palavras, afinal de contas, salvei a pele desses pirralhos e os trouxe até você intactos e bem.

Finalmente cedendo à tontura da viagem Daniel se apoiou em seus joelhos e vomitou.

— ... bom, aqueles dois ali me parecem bem. — Quione reformulou. — O garoto de fogo talvez precise de alguns remendos.

Sem se deixar afetar pela atitude petulante da oponente, Noelle voltou a falar.

— Minha lança foi apenas um modo de chamar sua atenção, Titã do vento. Não pense que não sei como lidar com você, já enfrentei coisas bem piores no passado.

Noelle pousou e se aproximou até ficar cara a cara com a titã. Daniel se agachou e pegou um punhado de neve com a qual tratou de limpar a boca. Mesmo se sentindo pior do que um saco de pancadas de uma academia de box ele tentou prestar atenção ao que acontecia. Perto dele Thomas e Mikaela também assistiam a tudo calados.

— Me dê um motivo para não desintegrar você. — A valquíria repetiu a ameaça e Daniel viu pequenos raios dançarem dentro dos olhos azuis da guerreira.

Alarmado, ele olhou para Quione.

Moça, acho bom ter mesmo um bom motivo.

Ele não ia com a cara de Quione, mas precisou admitir que para um punhado de vento ela tinha muita coragem. Em nenhum momento a garota desviou o olhar intimidador de Noelle e, para aumentar o deboche, riu na cara dela antes de responder:

— A não ser que você saiba o que a feiticeira do inverno está realmente aprontando, de onde está alimentando sua magia e tenha um plano para detê-la, eu sou sua melhor chance de vitória.

Os portões da muralha foram abertos e um pequeno exército de duendes liderados por Ylerio se aproximaram, mas quando Noelle ergueu a mão todos abaixaram suas bengalas mágicas e aguardaram.

— Muito bem. — A valquíria declarou. — Seja bem vinda ao palácio da estrela do norte, Quione. Você é nossa prisioneira até que eu diga o contrário, acho bom que o seu plano seja tão bom quanto imagina.

A lista das crianças más e a feiticeira do inverno eternoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora