Silêncio. Por uns vinte segundos, nenhuma de nós duas não diz nada.
─ Merda. Sério?
─ Sério. ─ respondo. ─ E não pretendo voltar pra Seattle tão cedo.
Ela suspira.
─ O que você queria me dizer, Katie?
─ Eu só... ─ uma pausa. ─ Não sei, acho que eu percebi o quão babaca eu tenho sido nos últimos meses...
─ Anos. Nos últimos anos. ─ corrijo. ─ Você ficou com o meu ex-namorado enquanto ele ainda era meu atual, isso é mais do que ser babaca. E, além disso, você me diminuía e me humilhava publicamente por absolutamente nada, isso é muito mais do que ser babaca.
─ Eu sei, beleza? Eu sei! ─ ela fala. ─ Não tenho como me desculpar por isso, eu reconheço que errei, e errei feio. O que eu posso dizer pra me defender é que, mesmo sendo a mais velha, eu vivia na sua sombra. Não tô dizendo que a culpa foi sua, porque não foi. Mas, a cada oportunidade de poder me destacar como algo que não seja "a irmã da Tessa", eu me agarrava a isso. E o Jordan foi... Muita, muita idiotice da minha parte. Ele me disse tantas coisas, que eu deveria ter tanto destaque quanto você, coisas desse tipo, e eu acabei me cegando, sabe? Ele dizia tudo o que eu queria ouvir, o que eu precisava ouvir, e eu caí no papo dele. Não é minha culpa se o seu namorado é um babaca, era o que eu pensava. Mas agora eu sei melhor do que isso, e reconheço que fui tão horrível quanto ele.
Não respondo de imediato.
─ Tessa? Ainda tá aí?
─ Sim, ainda aqui. ─ murmuro. Depois de mais alguns segundos, finalmente digo: ─ Se você ligou com na esperança de uma absolvição rápida, é melhor desligar. Porque eu não vou te perdoar assim tão rápido.
─ Eu sei.
─ Ótimo.
Mais uma vez, ela suspira, mas agora trêmulo. Não vou cair nessa, não mais.
─ Tchau, Katie.
─ Tchau, Tessa.
E, assim, encerro a chamada.
Volto para dentro do apartamento com um peso a menos nas costas. Saber que ela – aparentemente – se arrepende, e avisar à ela que o perdão só virá com muito mais esforço do que isso foi como uma limpeza na alma. Katie é muito mais relevante para mim do que Jordan; se fosse ele me ligando, eu não hesitaria em recusar a ligação. Mas não Katie. Ela é minha irmã, apesar de tudo, mas termos um vínculo sanguíneo não vai deixar as coisas mais fáceis para o lado dela, e agora ela sabe disso.
Quando Vinnie volta, duas horas mais tarde, estou na cama, abraçada aos travesseiros e ainda pensando nisso.
O olho quando ele senta ao meu lado, já de banho tomado, e falo:
─ Katie me ligou hoje.
Ele não fala nada por um bom tempo. Por fim, ele respira fundo e se deita de frente para mim.
─ O que ela disse?
─ Muita coisa. ─ sorrio fraco. ─ E eu respondi pouca coisa.
Seus olhos não deixam os meus, nunca.
─ Não vou perdoar as coisas que ela fez assim, rápido. Não mesmo. ─ continuo. ─ Mas, apesar das coisas que ela me fez, acho que ela é digna do meu perdão, entende? Ela é minha irmã, cacete. Pode demorar um dia, um mês, um ano ou onze anos, mas acho que algum dia vamos ser a dupla de irmãs que eu queria que fôssemos desde o início.
O sorriso dele cresce aos poucos.
─ O quê?
─ Eu fico bobo com você, Tessa. ─ ele se remexe, encosta a testa na minha e fecha o olho. ─ Você é tudo o que eu sonhei, Tessa Channing.
Escondo meu rosto na curva de seu pescoço, e ele ri.
─ Não se esconde, Alteza. ─ ele se afasta, e levanto o rosto, o olhando. ─ Não consigo esconder o quanto eu te amo, então nem vem me pedir.
─ Eu não seria louca de pedir isso. ─ falo, baixinho. ─ Eu te amo, seu loiro biscoiteiro.
─ Ei! Eu não sou biscoiteiro coisa nenhuma! ─ ele se defende, se ajoelhando do meu lado, em posição de ataque.
─ E quem posta vídeo de toalha no banheiro é o quê? ─ questiono.
Ele não responde. As mãos dele vêm para a minha barriga, fazendo cócegas.
─ Vinnie! Pelo amor de Deus, para! ─ peço, entre um fôlego e outro. Eu definitivamente não consigo lidar com cócegas. ─ Aaron! Ajuda!
Aaron Liebregts pode ser considerado o novo maior traidor de toda a América do Norte, porque, ao invés de me ajudar, ele ficou parado na porta rindo por uns segundos, e depois se juntou a Vinnie e começou a fazer cócegas nos meus pés.
─ Eu odeio... vocês... dois! ─ falo, puxando respirações fortes e tentando me livrar dos dois idiotas em cima de mim.
─ Que nada, eu sei que você ama a gente. ─ Vinnie diz.
E, mesmo ali, refém daqueles dois brutamontes me torturando com cócegas, eu sei que a resposta é: verdade, amo mesmo.
Katie não é mais um fator na minha mente agora.
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