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Eu já fiz muita coisa suja na minha vida, e quando falo muita coisa não estou exagerando, mas tem algo que sempre soube evitar, as drogas. Desde muito cedo eu aprendi a repudia-las, porque minha mãe apesar de ter sido uma dama da sociedade, nas costas era uma viciada em drogas, ela não era uma mãe amorosa e muito menos atenciosa quanto as outras, ela até  tentava me dar algum tipo de afeto mas aquilo nunca chegou até meus olhos, ela era fria, passava metade do dia dormindo e a outra metade tentando preencher o vazio que era o fracasso da vida dela. Aos olhos dos que nos cercavam nós éramos uma família perfeita, mal eles sabiam as facetas escondidas por detrás dos nossos sorriso forçados, sim, eu também compactuei com aquele teatro de família perfeita, porque lá no fundo eu também queria mostrar pra todo mundo o quanto a nossa família era unida e feliz.

Até que um dia minha mãe morreu, as drogas a levaram. Mas chega um tempo que eu entendo a atitude dela, as vezes a vida chega a ser tão insuportável e sufocante que a única coisa que você busca é a libertação. E obviamente que o motivo da morte dela foi escondida, meu pai nunca deixaria que algo assim escapasse, eu era apenas uma criança quando ele me envolveu nessa rede de mentiras que ele mesmo construiu apenas para que nossa família não fosse mal vista, mas eu sempre soube da verdade, foi uma overdose que a matou, e não um ataque súbito do coração como ele tanto insiste em dizer.

Após esse episódio eu comecei a viver num vazio ainda maior, fui me tornando tão idêntica a minha mãe, fria, calculista, mimada, conservista das aparências. Eu fui preenchendo esse vazio e falta de afeto que eu sentia através das viagens de luxo pelo mundo, nas redes sociais, comprando roupas, sapatos, bolsas entre outras coisas que no final eu nunca usei, e isso sempre atraía atenção para mim, porque é isso que eu gostava, os olhos todos em mim. Eu praticamente tinha o mundo aos meus pés, e hoje me pergunto se todas aquelas almas vazias ainda se lembram de mim, se imaginam o que eu venho passando nos últimos dois anos, se sentem a minha falta ou apenas estão agradecidos poder terem se livrado de uma alma tóxica que se achava a dona do mundo, porque era assim que eu me sentia. Eu humilhei pessoas, destratei inocentes, não fui compadecente com as necessidades básicas dos que não tinham nada, se realmente existe um Deus olhando para mim nesse momento, deve saber que já paguei o suficiente nesse últimos dois anos sendo escrava desses colombianos, ele deve saber o quanto minha alma não irá aguentar mais nada se um desses nojentos conseguir me arrematar nesse leilão repudioso.

Hoje vendo todos esses olhos em mim, me olhando como se eu fosse algum animal de espécie exótica eu senti a mesma coisa que as pessoas que eu humilhei sentiram, cada recochetear desses olhares rasgam a minha alma e o pouco que sobrou de mim também se esvai.

O efeito da droga que injetaram em mim já está acabando e as dores dos hematomas já se fazem sentir, minha cabeça mal se dá ao prazer de sentir a tontera do entorpecente devido ao peso cansativo da máscara metálica que está sobre a minha cabeça. Essa máscara lembra muito aquelas que eram colocadas em escravos na época da escravidão, as correntes prendendo meus pescoço e meus pulsos são outro peso a parte. Sinto que a qualquer momento eu irei cair nesse chão gelado, e sei que ninguém fará nada par me ajudar, todos esses são tão doentes quanto o Ramiro, alguns até pior que ele, consigo ver e sentir isso.

QUEBRADA | Spin-off De Homens Implacáveis - DegustaçãoWhere stories live. Discover now