A minha maior aventura

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Amar sem temer é mais difícil do que pode parecer. 

Katsuki não demorou a descobrir o que isso significava. 

Ele se lembrava das noites de verão antes que antecediam a viagem para o acampamento quando ele e os amigos saíam de madrugada escondidos com suas bicicletas e pedalavam por ruas vazias às duas da manhã. 

Nos últimos dois anos, North aparecia com aquele carro azul. Na maioria das vezes Nahoya já estava ali dentro. Outras vezes, ele se sentava na janela e ficava pendurado, deixando o vento gelado da madrugada correr pelo rosto.

Katsuki sempre gostou da sensação de liberdade de percorrer as ruas durante a madrugada. Claro, quando não há nada a se perder, qualquer cenário é uma obra de arte.

Na primeira emergência, Katsuki e Izuku estavam dormindo na sala, vendo filmes. Izuku estava usando sua cânula, ligada ao carrinho de oxigênio. E mesmo assim seus pulmões queimavam como se ele estivesse se afogando numa piscina de cloro.

O avô de Katsuki se ofereceu para dirigir, mas aquilo era algo que o próprio garoto queria fazer. Já vira, àquela altura da vida, Nahoya e North ligarem tantas vezes um carro as pressas que pensou que poderia fazer igual.

Mas as mãos dos melhores amigos nunca tremeram daquela forma. 

Quando Izuku ficou internado, Katsuki imaginava que ele iria se recuperar rápido. 

Mesmo que houvesse certa preocupação velada dentro dos dias de espera para a alta do namorado, todas as vezes em que Katsuki finalmente podia aproveitar o horário de visitas, seu sorriso era genuíno.

Numa dessas vezes, Katsuki pôde ser o acompanhante de Izuku; poderia passar a noite toda com ele.

Aquilo, entretanto, trouxe para Izuku ainda mais tristeza. E ele não podia chorar, pois mal conseguia respirar para falar o suficiente.

Então, o garoto de olhos verdes pegou um caderno e escreveu: 

“Por que você veio ser meu acompanhante?”

Katsuki não entendeu a pergunta. Ele encarou o papel, confuso, e respondeu:

-Porque a sua mãe disse que eu podia! 

“Você deve ter coisas melhores para fazer, Kacchan. Eu não vou melhorar.”

Enfim, Katsuki concordou. Ele entendeu o que a primeira pergunta significava de verdade. Uma das mãos dele, quente como o verão em que eles estavam, segurou a mão gelada de Izuku e as entrelaçou.

-Vim ser seu acompanhante porque eu amo você.

Horas se passaram. Depois que a noite chegou e as enfermeiras vieram ver Izuku pela última vez, avisando que se Katsuki precisasse, bastava chamar, o garoto loiro se deitou na cama de hospital com Izuku. 

Aquilo fez o mais velho rir baixinho, seus olhos verdes cerrados e cansados, encarando Katsuki com admiração. 

-Kacchan - Izuku pediu de repente, no meio da noite, num sussurro mais baixo que o chiado das máquinas que o ajudavam a respirar. - Você pode me contar uma história?

Katsuki parou para pensar por alguns instantes sobre qual história poderia contar. Então ele sorriu, parecendo se lembrar de uma perfeita.

-Minha coisa favorita sempre foi quando meus avós me contavam suas histórias - ele começou. - Vovó era historiadora e Vovô, guia turístico. Por isso, os dois viajavam muito mesmo antes de se conhecerem. 

DEEP LOVE | BAKUDEKU/ KATSUDEKUWhere stories live. Discover now