03 • namorado

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•『 ♡ 』•

A falta de sono me importunava mais uma vez.

Eu não conseguia deixar de me recordar do passado. Quando aquela data se aproximava, era inevitável conter aquele tipo de sensação: um vazio imenso tomando conta de minha mente, como se a purificasse, e então, instantes depois, uma mancha se instalava na calmaria de meu ser e me dava altas doses de uma dor intensa.

Dores não físicas que me entristeciam.

Quando isso acontecia, eu me levantava da cama no meio da noite, buscava por um cobertor que costumava usar quando era criança e ia até a sala de estar para me sentar no sofá e permanecer dentro da escuridão e do silêncio noturno. Muitas vezes acabava adormecendo ali mesmo, abrindo os olhos no dia seguinte enquanto minha mãe me sacudia, pedindo para que retornasse para a cama.

Minha vontade não estava sendo diferente naquela noite. Com o mesmo cobertor infantil, abri a porta do quarto e decidi descer. Fazia isso porque tinha passado muito tempo com meu pai naquele cômodo, ouvindo enquanto ele contava suas histórias sobre as viagens que fizera antes de se casar com Sangah. As pessoas que ele conheceu, os prédios que visitou, os lugares que o fizeram ter um carinho especial por Cheonan, por sempre achar que seu lar era o melhor lugar para seu coração.

E seria o lugar onde ele permaneceria para sempre.

Suspirei, apertando o cobertor contra o corpo e, de repente, bati em alguém.

— Ah! Que susto! — ralhei, tapando a boca em seguida por quase ter gritado. — O que está fazendo?

Hyungwon estava parado no meio da escada. Tocou a tela do celular e a apontou para mim.

— Estou sem sono — ele respondeu e fez uma careta engraçada quando reparou nos meus trajes. — E você?

Talvez eu tenha ficado vermelho de vergonha, coisa que não seria notada apenas com aquela luzinha. Sorri, tentando disfarçar meu constrangimento.

— Também estou sem sono — respondi, encostando-me no corrimão como meu primo fazia. A luz do celular se apagou e ficamos em silêncio. Se eu não estivesse ouvindo o som da respiração dele, poderia jurar que meu primo não estava mais ali.

— O que fazia no escuro? — eu quis saber. Hyungwon tocou a tela do aparelho mais uma vez.

— Eu dei uma olhada nas fotos — ele apontou para a parede e para os quadros. — E estava só... pensando.

Sorri sozinho. Aquela era uma mania que Kihyun costumava ter. Por vezes eu o encontrei admirando as fotografias expostas na parede ou observando os álbuns que ele mantinha em seu quarto. Eram peças muito significativas.

A luz do celular se apagou, mas Hyungwon retomou a conversa.

— Como se sente depois disso tudo? — ele indagou. A minha mente estava concentrada na imagem do meu irmão naquele momento, por isso demorei a entender.

— Disso o quê? — perguntei.

— Nosso avô... e o seu pai — ele explicou. — Deve ser difícil.

Como se para ele também não fosse.

Respirei fundo, sentindo o vazio me ferindo de novo.

— Nós somos iguais, Hyungwon — eu disse de forma sincera. — É estranho que tenhamos passado por situações tão parecidas.

Era o que eu pensava.

Hyungwon iluminou a parede mais uma vez, concentrado nas fotos de Seoyah. Isso me fez lembrar do quão incrível ela tinha sido, sempre tentando agradar os sobrinhos, chamando-nos para passear com ela e ocupar um pouco do seu tempo. Antes de adotar Hyungwon, ela nos visitava sempre e passava horas conversando com Sangah. Talvez sobre sua carreira, talvez sobre como se sentia sozinha.

What Is Love - MX ver. | HyungKyunOnde as histórias ganham vida. Descobre agora