Capítulo 1 - Acordado ( ... )

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Local: no topo de um prédio de sete andares.


5 de outubro de 2022 - 19h-23min-47seg


O despertar foi súbito.

Estranho.

Desesperador.

— Não...!

No mesmo instante, meu corpo pendeu para frente em direção ao vazio, me obrigando a girar os braços instintivamente para trás na tentativa de recuperar o equilíbrio.

Dominado por uma aflição crescente, senti meu corpo se dobrar de modo involuntário, com o tronco se projetando para frente num ângulo de noventa graus. Os braços abertos tentavam compensar a perda de equilíbrio e eram jogados para trás.

Ôôôô....

Enquanto eu me desesperava diante daquele abismo à minha frente, forçava todos os músculos do meu corpo numa verdadeira luta para evitar a queda, teimando em girar os braços incessantemente como um maluco.

Eu vou cair...!

Meu coração batia acelerado, dando pancadas tão fortes no meu peito que pareciam me impulsionar para frente, ajudando a me inclinar para o lado errado como um órgão suicida. Até o vento soprava à traição, contra minhas costas, tornando ainda mais difícil balancear meu peso para manter o equilíbrio.

E meus braços ainda girando.

E girando.

E girando.

Até que, numa das últimas giradas de braços, finalmente recuperei meu centro de equilíbrio e consegui me inclinar para trás.

E com as pernas já bambas, recuei dois passos, terminando por cair de costas sobre a laje fria.

— Meu Deus, meu Deus, meu Deus...! — murmurei repetidas vezes, ainda sentindo o coração esmurrando minhas costelas por dentro.

Com a respiração ofegante, mantive as mãos no rosto e fiquei deitado. Decidi esperar alguns minutos até me acalmar e convencer meu coração a abrandar os pinotes, já temendo que ele pulasse para fora do peito como um alien encubado.

Passado um longo tempo, abri os olhos e encarei o céu. Estava limpo, começando a aparecer as estrelas. Era apenas o início da noite.

OK. Não posso ficar deitado aqui a noite toda.

Então, finalmente me levantei.

Já de pé, olhei ao redor. Eu me encontrava sozinho no topo daquele prédio. Estava ventando um pouco, mas a temperatura ainda era agradável. Olhei para mim mesmo. Apesar da escuridão não me permitir perceber todos os detalhes, ficava claro que eu vestia uma camiseta sem mangas e uma calça jeans, que se mostravam estranhamente apertadas demais no meu corpo.

Mas logo deixei a preocupação com meu vestuário de lado e passei a me preocupar com coisas mais urgentes.

Eu quase caí daqui de cima...!

Meu Deus! Eu podia ter morrido!

Com as pernas menos trêmulas, respirei fundo algumas vezes e me aproximei da beirada com todo o cuidado do mundo. Olhei para baixo e senti parte daquela vertigem retornar. Era uma queda de mais de vinte metros. Esse lugar devia ser o topo de um prédio de sete ou oito andares.

Meu Deus...! E eu acordei na beirada do prédio!

Que diabos aconteceu comigo?!?

Vamos lá... Respire... Fique calmo e pense...

Como eu vim parar aqui em cima?

Aliás, onde é aqui? Não conheço essa vizinhança.

Merda... não estou lembrando onde eu moro.

Ah, merda...!

Não estou lembrando nem do meu nome!

Ah, não!!! MERDAA!

EU NÃO LEMBRO DE NADA!!!!

Não... não... não...! Nada de pânico... calma... respira...! As respostas virão.

OK... Não me lembro de ninguém, mas eu sei onde estou.

Estou no... planeta Terra. Sistema Solar. É o terceiro planeta.

Droga, isso não é relevante...! Qualquer idiota sabe em que planeta está!

Falo português. Então, devo estar no Brasil.

Só não sei que cidade.

Calma... tenho que manter a calma...

É só descer lá para baixo e tudo vai se resolver. Tudo vai se resolver. Vou encontrar alguém que me conhece e voltar para casa. E vou saber onde eu moro.

E me lembrar de quem eu sou.

OK, vamos lá...

Consciência ViajanteWhere stories live. Discover now