The mark.

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A marca havia sido selada em Castiel para que conseguissem prender Deus e salvar o mundo do próprio criador, mas às coisas haviam saído do controle e Castiel precisava ser parado.
Pós 15x09, se o plano deles tivesse dado certo.

"Ele não é mais ele, Dean. Não é mais o Castiel que conhecemos, que você conheceu. Não há mais o que fazer. Você sabe. Eu sei. Precisamos ir atrás dele juntos, ele vai te matar se você for sozinho."

As palavras de Sam ainda soavam como um eco constante em sua cabeça, repetindo e repetindo isso inúmeras vezes a cada passo que dava. Ele sabia que o irmão tinha razão, ele sabia que não havia mais o que fazer, mas ele não podia simplesmente aceitar aquilo e seguir sua vida. Não se tratava de qualquer um, era Castiel. Seu melhor amigo. O que o tirou do inferno e se manteve com ele desde então. Seu companheiro. Seu.

Caminhando o mais calmamente possível para não fazer nenhum barulho, Dean adentra os escombros onde sabia que ele se encontrava. Cuidadoso e atento como sabia que devia ser. Um passo de cada vez com a adaga angelical em mãos. Não que ela fosse ser útil agora, mas era o que tinha. E no meio das ruínas de terra que dava acesso a entrada do inferno, Dean o viu. Não parecia inocente e carinhoso como Castiel sempre fora, seus olhos azuis estavam beirando o negro e a expressão doce já não existia mais. O sobretudo bege se fora há algum tempo, assim como o terno preto mantinha por cima. Do antigo Castiel apenas a camisa branca social se salvara. Já não tão branca como antes, já que estava coberta por sangue. As mangas dobradas na altura do cotovelo deixavam a marca avermelhada destacada na pele clara, parecendo vibrar na medida que seus punhos se forçavam fechados. Ele olhava para a parede vazia em sua frente e parecia esperar por algo que Dean não fazia ideia do que era.
Sam tinha razão, nada ali era ele. Não havia sobrado exatamente nada do velho Castiel, a não ser a casca de Jimmy.

- Eu sei que está aí, Dean. Não adianta se esconder, eu sinto você. - A voz soa familiar como sempre foi e Dean sente um respingo de esperança pulsar em seu peito. - Cada centímetro do meu corpo está lutando pra não te matar agora.

- E por que não faz? - Cansado de se esconder, Dean dá alguns passos e aparece sobre a visão de Castiel, vendo-o surpreso por ele realmente aparecer, virando para encara-lo. - Por que não me mata?

- Se soubesse como o sangue ferve dentro das veias desse receptáculo só com a idéia, vibrando em ansiedade e desejo de sentir a sua pele sendo rasgada pelas minhas próprias mãos, você não diria isso.

- Você não é assim, Cas. Não precisa ser.

- Deveria ouvir seu irmão, Dean. Deveria ouvir sua consciência. Você sabe que não tem como lutar contra isso, não vencendo essa batalha. - Ri sarcástico. - Você já esteve no meu lugar. Sabe como é tentador e imparável o desejo incontrolável pelo sangue, pela destruição.

- Eu sei. Mas eu sei que isso não é você. A marca faz isso, mas você é mais forte, você sempre foi. Não por ser um anjo, mas por ser você. Por ser o Castiel.

- Eu não sou mais o Castiel.

- Sempre vai ser para mim.

Dean não sabe de onde a coragem surge, mas só age sem ter tempo para pensar, e rompe a distância segura que mantinha e toca o ombro do ex-anjo.

- Eu sei que você está aí em algum lugar, Cas. Não precisa ser assim. Não precisa acabar assim. Lute contra isso. Lute contra a marca. Por você. Por tudo o que já vivemos. Por mim... - Suplica como nunca pensou que faria.

Castiel havia pego a marca para si para salvar o mundo, mas era peso demais para si. Assim como com Lúcifer, assim como com Caim, assim como com o próprio Dean, Castiel acabou sucumbindo a ela. E se entregando sem perceber. Sendo dominado por todas as sensações e desejos ocultos que ela carregava. E em um momento tudo explodiu. Mas Cas não desistiu de Dean quando esteve em seu lugar, e Dean não desistiria dele.

A risada sarcástica que ouve não era um bom sinal, sabia que deveria se afastar, sair dali, mas não o faz. E é arremessado com força contra a parede de terra, sentindo suas costas baterem contra as rochas que davam suporte para as paredes dali.

- Eu te dei tempo para sair, Dean, em nome de tudo o que vivemos, de tudo o que um dia eu senti. Mas você... você já está me irritando.

- Você teve mais de uma chance de acabar comigo e nunca fez, você está aí Cas, no fundo de todo esse ódio que essa maldição traz, mas eu sei que está aí e que pode me ouvir.

- Eu estou aqui, Dean, mas eu não me importo mais em sentir seus ossos se quebrando no meio dos meus dedos. Você não consegue lidar com isso? Que esse sou eu? - Soca o rosto do caçador e o segura pela jaqueta. - Acha que sou incapaz? Que sou fraco até com essa marca?

- Eu nunca achei isso, Cas. Mas eu acredito que você consiga vencer essa merda. Acredito que não precisa ter esse final.

- Você não é tão idiota, Dean, você sabe que não tem outro jeito. E você sabe que eu não quero lutar contra isso. Eu tô cansado demais pra continuar fingindo.

- Cas.

- Eu sabia que você viria atrás de mim, Dean. E eu queria que viesse. Eu preciso que você faça isso, que me prenda naquela maldita jaula e destrua a chave. Eu preciso que você me mantenha muito longe da Terra e de qualquer um que eu possa machucar. Principalmente de Sam... e de você.

- Castiel, não.

- No fundo você sabe que precisa fazer isso, e eu quero que seja você quem faça. Eu... odeio ainda mais essa versão de mim.

- Eu odeio que tenhamos chegado a esse ponto.

- Eu também, Dean. Mas era preciso, certo? - Força um sorriso e se afasta.

- Eu queria que houvesse outro jeito.

- Mas não há. Não um jeito seguro e que seja realmente eficaz. - Suspira e abaixa a manga da camisa social. - Eu imploro, Dean. Acabe com isso.

Dean respira fundo. Sabia que não tinha outro jeito desde o início, mesmo que precisassem daquilo no momento. Deus estava preso e sem ter controle de mais nada, mas a marca estava eternizada em Castiel, e ele precisava ser trancafiado também.
Sentindo suas mãos tremerem, o Winchester segura o braço de Castiel e caminha com ele pelas ruínas daquele lugar horrível, exatamente para a jaula que havia preparado para prender Jack há um tempo atrás e havia acabado deixando por lá.

- Não se sinta culpado por isso, Dean. Eu não quero machucar mais ninguém. Eu não quero deixar essa marca me enlouquecer ainda mais e me fazer agir como tudo o que eu mais odiei.

- Cas, eu... - Sem saber exatamente o porque, Dean arriscou. Mesmo sabendo que Castiel não conseguia controlar o instinto que estava o comandando agora, Dean o abraçou pela última vez. Um abraço de adeus, de despedida. O último. - Eu sinto muito.

- Não sinta. - É tudo o que o anjo diz ao sentir ser empurrado para dentro da jaula toda marcada por feitiço contra anjos, vendo o caçador a trancar por fora. - Obrigado, Dean.

Dean não quer olha-lo nos olhos, aquilo doía mais do que imaginava e não queria ter que dizer adeus, mesmo sabendo que aquilo já era um. Com as mãos ainda na barra de ferro da jaula, o Winchester sente a pele fria do ex-anjo contra a sua, segurando sua mão e chamando sua atenção.

- Vá. Por favor, vá. Destrua essa chave e continue fazendo o que sempre fez de melhor, salve pessoas, salve o mundo. Você é um herói.

- Você também é um, Cas.

- A minha história acabou aqui, Dean, mas a sua há muito para ser escrita ainda. Eu acredito em você.

- Por que você não tentou acabar comigo enquanto vínhamos pra cá?

- Porque matar você seria pior do que a morte pra mim, Dean. Por favor, vá. Eu não confio em mim nem dentro dessa cela. Vá. - Castiel solta a mão do caçador e vai para a direção oposta, virando de costas e gritando rudemente.

E Dean sabia que precisava ir.

- Adeus, Dean. - É tudo o que Castiel diz, ouvindo os passos do caçador se afastando.

Aquele era o seu fim.

Contos do anjo e o caçadorWhere stories live. Discover now