Visitando Princeton

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—BOMB—

Eu nunca fui um cara de muitas palavras.

Tive problemas quando criança quanto a me abrir e falar sobre tudo com minhas mães, e uma coisa que Mary e Willow sabem ser, é ser as pessoas com quem você pode contar tudo. Mas como iria contar às minhas mães que me zoavam na escola por não ter um pai.

Era um saco. Eu não queria magoá-las. Eu não queria entrar naquele assunto que tanto conversávamos, porque eu saberia que seria doloroso saber que o filho que criaram estava com vergonha de levar um deles pro dia dos pais na escola, estava com vergonha de contar  que não conseguia se abrir com elas sobre "assuntos de homem".

Eu fui uma criança bastante perturbada com esses tipos de pensamentos, até perceber que elas não sairiam do meu pé até desabafar tudo com elas. E foi o que eu fiz. Acho que nunca fui do tipo que chora também, mas nesse dia, me tornei um bebê chorão abraçado nelas.

Foi ali que decidi que nunca mais ter vergonha da minha própria família. E sempre dizer como sinto quando necessito dizer, porque foi o que elas me ensinaram.

Foi também quando conheci Janina Greco, que percebi que, às vezes, falar pode ser algo muito doloroso, que talvez só piore as coisas.

A primeira vez que nos falamos, eu já estava no meu último ano do ensino médio, ela no segundo, mas a primeira vez que a vi, foi no fundamental, um ano antes de ir para o ensino médio.

Ela almoçava embaixo de uma árvore no pátio da escola, enquanto ouvia algo nos fones de ouvido. Ela parecia entretida, olhando em um ponto fixo do gramado enquanto levava algumas uvas até a boca.

Minhas mães, Chill e eu, havíamos nos mudado há algumas semanas, e me surpreendi com a recepção que muita gente me deu desde tinha chegado.

Em menos de algumas horas, no primeiro dia de aula, já estava rodeado de pessoas fazendo interrogatórios sobre mim. Nunca gostei de muita atenção, mas tentava ao máximo não ser grosseiro com todos, e foi assim que iniciou minha fama de cara legal e simpático com todo mundo.

Mas em alguns momentos, eu só me pegava pensando em ser como a Nina. Um pouco invisível. Mal sabia eu de tudo o que havia por trás daquela garota calada e invisível, que ninguém fazia questão de notar.

Bom, eu notava.

Eu notava a Nina. Por um bom tempo, eu notei, desde que a vi pela primeira vez embaixo daquela árvore, ouvindo, eu sei lá o quê, naquela fones, e fui um covarde medroso de nunca ter conseguido falar com ela.

Eu tinha medo dela. Nunca vou confessar em voz alta, mas eu tinha. Janina Greco nunca sorria, nunca ria, nunca dava um "bom dia", nem falava com ninguém. As pouca vezes que ouvi sua voz foi pra mandar Samwell ou Cecília se foderem, e aquilo foi incrível. Ela nunca os deixou sem resposta. Nunca. Ninguém passava por ela a zoando, sem receber um bom xingamento dela.

Eu me culpo por nunca ter movido um dedo pra ajudá-la na época. Tinha medo de perder a boa postura de garoto legal que todos haviam me dado, porque eu sei que se fosse defender ela de Samwell ou dos babacas do time, eu iria socá-los até não sobrar nada, e eu já estava cansado de apenas olhar. Ela sabia se defender, mas eu queria fazer alguma coisa. Eu precisava fazer.

Eu tinha uma humilhante queda por Janina Greco desde o último ano do fundamental e nunca nem se quer a havia olhado nos olhos. Se ela me encarava, eu desviava nervosamente. Se eu ficava até tarde no Flipper, e Chill se virava para se despedir dela, eu só passava direto. É como se meu sistema operacional bugasse.

Contos de Greendale e RiversideWhere stories live. Discover now