O garoto azul, anos depois;

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Palavras de baixo calão, apologia a depressão, piadas sexuais/menção de sexo;

Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes que julgar necessárias! ♡
>> Tenha uma boa leitura:)

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O garoto azul, anos depois;

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O garoto azul, anos depois;

Cinza.
Cinza cimento, sufocante e pesado; A melancolia azulada ofuscada pelo cinza massante.

Gio flutuava. Não sabia onde.
O céu nublado pré tempestade se confundia com o mar cinza petróleo abaixo de si.
Não sentia desespero, mantinha o peito cheio de ar, braços e pernas estendidos ao navegar sem rumo tão lentamente quanto um barco sem vela o faria.
Devagar, deixou a água salgada molhar a mandíbula, bochechas e então maçãs do rosto, afundando até que, por fim, a ponta de seu nariz mergulhasse também.
No fundo daquele infinito azul, Gio manteve os olhos entreabertos, respirando normalmente mesmo que submergisse para cada vez mais longe do ar puro.
Suspirou e bolhas dançaram ao seu redor, rodopiando até a superfície.
Seus olhos pesaram conforme encostou um pé na areia, cercado pela escuridão. O outro pé firmou sua base antes que se permitisse sentar por alguns segundos.
Respirou uma última vez antes de reabrir os olhos azuis, atordoado ao reconhecer o insuportável e insistente ruído de batidas contra a porta de seu quarto.

"Puta que... Ela fez cópia da porra da minha chave de novo."
Ele grunhiu contra seu travesseiro.
"Eu já ouvi, inferno!"
Esbravejou em voz rouca, mau humor digno de uma manhã gelada de segunda, não fossem duas da tarde de sábado. Gio abriu a porta ao mesmo tempo que o colega de apartamento, Victor, apareceu de seu quarto vestindo apenas roupa íntima e meias, expressão sonolenta.
"Boa tarde, vocês dois."
Leah cruzou os braços, aborrecida.
Gio a analisou de cima a baixo.
Usava os mesmos coturnos de sempre, aqueles que adicionavam pelo menos três centímetros aos dez já os separando. Tinha sua saia rodada até os tornozelos e uma blusa branca de mangas bufantes presa para dentro do cinto. Um bóton rosa com os pronomes "Ela/Dela" vivia espetado ao lado do peito, mesmo que não precisasse mais estar lá, necessariamente.
Enquanto isso, o irmão vestia a mesma bermuda cinza escuro e camisa estampada com caveirinhas há pelo menos duas semanas.
"Ugh... É sério que você deixou ela fazer outra cópia da chave?"
Victor reclamou, voltando para dentro.
"Eu não deixei."
Gio respondeu alto, lançando um olhar assassino à gêmea.
"Se eu não vier acordar, vocês não levantam, aparentemente."
Ela arqueou as sobrancelhas lilás, repreendendo-o conforme seus cachos tingidos balançavam seguindo os movimentos irritados.
"Não. E é pra continuar assim."
O mais baixo copiou a pose da irmã, recostado contra o batente. Leah parecia saudável, rosto corado e salpicado por sardas leves.
"Eu trouxe café."
"Leah."
Ele grunhiu outra vez, ainda sonolento e mal humorado.
"Se depender de vocês dois, você morre de fome e o Victor de diabetes por tanto fast food. Eu já 'tava passando na cafeteria que a Mel trabalha, de qualquer jeito."
A irmã cortou, suspirando em seguida. Ela demorou para falar novamente, mãos ajustando o cinto sem necessidade.
"Olha, o fim de ano 'tá aí, Gio, tem um monte de vaga 'pra venda de natal, e-"
Gio levantou o dedo indicador, interrompendo sua fala antes mesmo que a terminasse.
"Se você veio aqui pra me mandar trabalhar, Leah, pode levar o que 'cê trouxe contigo."
Leah levantou o olhar irritado até o irmão, suas narinas se expandindo ao falar.
"Eu ia falar que eu ainda tô guardando o seu lugar no violão pro meu vídeo novo."
Retomou com firmeza, o sotaque italiano agora como um bônus à fala passivo-agressiva.
Gio se calou.
"Eu não tenho violão."
Ele murmurou após alguns segundos fitando os olhos penetrantes da mais alta. Abaixou o rosto, por fim, acovardando-se na própria mentira.
"Tem. Tem sim, mas 'cê largou embaixo da sua cama na casa da mãe e agora 'cê finge que nunca soube toc-"
Gio se apressou e fechou a porta antes mesmo que Leah pudesse responder, evitando o assunto com seu habitual tom sarcástico.
"Bom dia, pra você, anjoca."

Beijos na esquina da Rua CintilanteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora