here I stand, head in hand

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Depois de todo aquele tempo, estava voltando para lidar com os problemas frente a frente, ele sozinho. O que tinha que ser feito, o que tinha que ser tomado de volta.

Tentou não se chatear quando saiu na sala de desembarque e não encontrou ninguém o esperando. Por que haveria alguém? Ninguém sabia ao menos se estava vivo, muito menos que estava voltando naquele dia.

Bruce então entrou em um táxi e disse o endereço da Mansão Wayne.

"Casa Wayne, hein?" o motorista disse, um sorriso brincalhão no rosto. "Ouvi dizer que o lugar está cheio de fantasmas."

O rosto bravo e pouco convidativo de Bruce fechou mais ainda. Ele não respondeu, apenas olhando a paisagem nostálgica de sua infância pela janela.

"Fantasmas e morcegos", o motorista acrescentou.

Bruce sorriu sarcasticamente.

"Como um casarão mal-assombrado", Bruca comentou vagamente.

"Sim", o taxista concordou. "O senhor está indo lá para que?"

Bruce analisou o homem. Meia-idade, acima do peso, cabelos brancos, rugas. Casado, a foto dos filhos pendurada no retrovisor. Crianças pequenas sorrindo felizes.

"Sou o jardineiro contratado."

"O senhor não se parece muito com um jardineiro", o homem comentou, olhando para as roupas caras de Bruce pelo retrovisor.

"E eu achei que conversar dirigindo não era recomendado."

O homem tossiu, o rosto vermelho e visivelmente ofendido. Não falou mais nada durante todo o trajeto, e o coração de Bruce se aqueceu, vitorioso.

Quando o carro parou, Bruce desceu e ficou longos minutos parado em frente à mansão, observando-a. Doía. Puxava algo muito amargo no fundo de seu peito. Era o lugar onde seus pais estavam enterrados. Depois de seis anos, ainda lembrava vividamente de noites intermináveis, dos seus gritos em discussões com o Alfred, da raiva e das fugas dos internatos e da última vez quando, sem avisar ninguém, colocara poucas roupas em uma mala pequena e saíra pelos fundos, sem deixar rastros.

Caminhou a passos longos até o portão da frente, respirou profundamente e apertou a campainha. A guarita estava vazia, mas a propriedade estava limpa e arrumada, o jardim cheio de flores e a grama cortada.

Alguns minutos se passaram até que alguém viesse lentamente, o rosto cabisbaixo.

Bruce não se conteve em sorrir largamente e acenar entusiasmado.

"Alfred!" gritou.

Alfred olhou confuso, inclinando a cabeça. Estava velho, cabelos brancos penteados e aparados, óculos redondos, sapatos limpos e engraxados, o terno e a gravata da cor preta, em luto.

"Alfred!" gritou novamente. "Sou eu, Bruce!"

Alfred se apressou, assustado. Olhou-o minuciosamente e, com o cenho franzido, abriu o portão.

"Senhor Bruce!" disse, a voz em um misto de surpresa, tristeza e alegria.

Bruce não se lembrava a última vez que havia sido abraçado, odiava qualquer contato físico ou aproximação, mas se sentiu aliviado quando os braços do mordomo o apertaram. Sorriu, abraçando-o de volta, sem jeito.

Quando se afastaram, Bruce pôde ver poucas lágrimas rolando pelo rosto de Alfred.

"Cristo, Bruce." falou, quebrando vários protocolos de mordomo. "Eu... o senhor ao menos sabe o que eu achei que havia acontecido?"

"Eu..." Bruce havia ensaiado o que diria desde a noite que fora embora. Agora, nenhuma palavra parecia adequada. "Eu não peço que entenda, Alfred, eu sei que é demais. Mas eu precisava disso. Precisava me encontrar para sobreviver e ser um homem melhor."

Alfred, ainda consternado, cruzou os braços.

"O senhor poderia ao menos ter me avisado."

"Eu sinto muito, Alfred." Bruce olhava para os pés, incapaz de olhar o mordomo nos olhos.

Alfred não disse nada por longos minutos, ainda o encarando.

"Estou feliz que tenha voltado, senhor Wayne."

Bruce apenas sorriu miseravelmente, o vento fazendo com que seu cabelo caísse sobre o rosto. Cruzou os braços.

"Entre, senhor. A casa tem estado vazia demais sem você."

Alfred colocou a mão em seu ombro e o guiou até a mansão, o trajeto que Bruce fazia desde criança, quando seus pais ainda estavam vivos e eram apenas um casal rico e feliz, não um mártir para um homem confuso.

Bruce deixou que o mordomo o entregasse uma xícara de chá quente e o esperou preparar o jantar sentado na poltrona de uma das salas. Seria a primeira vez em anos que comia algo parecido com o que estava acostumado: a comida caseira de Alfred.

Estava aquecido, a lareira com fogo, o chá nas mãos e a televisão ligada ao fundo, o volume baixo. No entanto, uma repórter desesperada chamou a atenção de Bruce. Ela estava em um lugar escuro, o cabelo despenteado, os olhos arregalados.

Bruce pegou o controle e aumentou o volume.

"É o quarto ataque do homem que se denomina Coringa. Até agora, foram contados nove mortos por ele, mas a contagem dos corpos ainda não terminou. A polícia estima que sejam pelo menos vinte."

"Alfred" Bruce chamou alto. "Quem é o Coringa?"

"Coringa?" Alfred apareceu na porta, com pães, geléia e uma torta em uma bandeja. "É um homem louco. Ele se veste de palhaço e sai para assombrar a cidade, senhor."

"Ele mata pessoas?"

"Sim, senhor." Alfred o olhou analisando, a forma que fazia quando Bruce, ainda adolescente, dizia que não iria voltar mais para a escola. "O que está pensando, senhor Bruce?"

"Hoje um taxista me disse que aqui só tem fantasmas e morcegos."

"Alguns não pensam antes de falar."

"Alfred, você poderia me acompanhar até o porão?"

O mordomo franziu o cenho mas concordou. Eles andaram pela casa, os móveis intactos da época que seus pais decoraram. Desceram as escadas ao fundo, uma escadaria longa de pedra, em um corredor úmido e escuro.

O porão era tão amplo quanto uma caverna. Água gelada gotejava do teto, Bruce olhou admirado. Morcegos se aninhavam aos montes nos cantos, a iluminação escassa. Nenhuma saída ou contato com o exterior.

"Obrigado, Alfred. Podemos voltar agora."

O mordomo assentiu, ainda confuso, e seguiram de volta ao andar de cima.

De volta a sala, a televisão não mostrava mais o Coringa, mas sim um homem grande, forte, os cabelos pretos curtos bem penteados para trás, olhando de cima para a câmera e... aquilo era uma cueca por cima da calça?

O Super-Homem. É claro que Bruce já tinha ouvido falar dele, passara noites em claro pesquisando sobre quem aquele homem era e o que estava fazendo. Era como uma obsessão. Um alienígena apto a destruir o mundo, com olhos de laser, super-força, super-velocidade e visão raio-x. Era... pura preocupação. Não é como se Bruce o admirasse, era medo da moral questionável de um homem que poderia se passar por Deus.

Gotham não precisava de outro maníaco fantasiado. Devia haver um jeito... de alguém como Bruce fazer alguma coisa. Depois de seis anos se preparando.

E bem, se alguém poderia vestir uma roupa, se dar um nome e sair salvando mundo como o Super-Homem fazia, então por que não?

Ele tinha dinheiro, conhecimento, estratégia, luta, uma caverna vazia cheia de morcegos e o Alfred.

"Alfred" Bruce chamou. "Eu tenho um plano. Quero dizer, não tenho ainda, mas vou fazer. O mundo será um lugar melhor e mais contido. Só precisa de alguém sério e sóbrio. Você vai me ajudar?"

"Tenho medo de te perder de novo se disser que não, senhor Bruce." 

CasablancaWhere stories live. Discover now