here I stand, head in hand

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"Matar o Id, alimentar o Superego", Bruce sussurrou, a respiração entrecortada, o suor escorrendo pelo rosto. "Matar o Id, alimentar o Superego", repetiu.

Ouviu um graveto quebrar atrás de onde estava. Em questão de segundos, posicionou a flecha no arco e atirou na direção do alvo, sem pensar direito. Ouviu o som de algo caindo, e levantou a faixa que cobria seus olhos.

O invasor estava imobilizado no chão, um fio de sangue escorrendo pelo buraco da flechada.

Levantou o olhar e sorriu para Haj, que o esperava no alto do morro. Haj assentiu.

"Bem melhor, não é?" Bruce falou, levemente feliz. Era sua melhor performance.

"Senhor Wayne, não acho que tenha entendido o que nós fazemos aqui." Haj respondeu enquanto o guiava de volta ao mosteiro.

"O que quer dizer com isso? Atirar flechas sem enxergar, é incrível, por isso que estou aqui. Você me ensinou." Bruce tentava conter o sorriso orgulhoso. Sentia que finalmente, depois de anos, estava pronto para voltar.

"Você melhorou sim, aprendeu a arte." Haj o olhou seriamente. "Mas será que entendeu para que ela funciona?"

"Defender, nunca atacar. Já ouvi isso um milhão de vezes." falou entediado.

"E mesmo assim, eu me pergunto se você sabe o que significa. Você é uma arma, Bruce. Uma arma viva. Eu não acho que seja seguro você voltar para onde veio antes de dominá-la."

"Eu domino. Você não precisa se preocupar." Bruce lançou seu olhar mais confortante.

"Saber a usar, senhor Wayne, não é dominá-la. A dominação está aqui" Haj apontou para a cabeça de Bruce.

Bruce, desconfortável, parou, vendo Haj prosseguir sem ele.

"Eu estou indo embora hoje. Sabe disso, não é?"

"Sei", Haj respondeu. "É o que me preocupa."

"Um dia eu vou voltar e, nesse dia, o mundo vai ser um lugar melhor."

"É difícil confiar em você" Haj se virou para olhá-lo. "Quando acabou de abater um homem."

Bruce revirou os olhos, mas seguiu o monge. Estava tão frio quanto Pedrang poderia ser, aos pés do Himalaia. Ele podia ver a própria respiração em forma de névoa.

Ao chegar ao mosteiro, foi direto para seu quarto, um alojamento pequeno que mal cabia a cama de solteiro. Puxou a mala de debaixo da cama e colocou as poucas roupas lá, separando antes um conjunto social para vestir.

Não se despediu dos monges arqueiros, sabia que eles não aprovavam sua presença ali. Não era como um deles. Eles eram dignos, com uma moral concreta e inabalável, cresceram com pouco e estavam acostumados a dividir até a última migalha do pão. Bruce era só o americano rico aprendendo a lutar.

Por isso, foi embora tão silenciosamente quanto chegou, os passos mal faziam som contra o chão de madeira. Seguiu assim até o final da propriedade, de onde esperou para subir no trem que o levaria até o aeroporto.

Lá, tirou pela primeira vez em meses os documentos e o cartão de crédito.

Bruce T. Wayne

Passou o polegar pelas letras grafadas, havia se esquecido o que era a vida onde aquele sobrenome importava. Não só politicamente ou pelo respeito a fortuna, mas pelo o que o passado trazia. Lembrava de cada vez que se apresentara ou fora chamado e o olhar da pessoa mudava, reconhecendo no mesmo instante o órfão que perdera os pais assassinados.

Não mais.

Agora, Bruce poderia ser outra pessoa. Era a sua oportunidade.

Comprou a passagem para o próximo voo. Foram horas de viagem, duas escalas, observando as cidades pequenas pela janela do avião. Gotham, ele pensava. O lugar de onde fugiu a seis anos atrás, em busca de algo maior que ele que, na época, nem ao menos sabia o que era.

CasablancaWhere stories live. Discover now