𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸

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Ela incendiaria aquela escola.

Desde aos ossos de pedra fria ao coração dormente daquele castelo.

Ela brilharia, e se certificaria de que todos vissem.

Bruna Astera Brandão, descendente de Merlin e nascida do sangue-puro. Forjada numa vontade de ferro e determinação ardente. Aqueles que a admiravam juravam que fora esculpida por luz e prata, bela e brilhante e gloriosa.

Aqueles que a conheciam, porém...

Ela era feita de fogo cantante e abrasivo. Fogo que queimava através de seus olhos e que sussurrava em seu sorriso.

Que Merlin protegesse o mundo bruxo de sua neta.

O primeiro ano em Hogwarts era um momento importante. Não para as crianças que escolhiam Beauxbatons ou Durmstrang, a escolha dos estúpidos. Em Hogwarts, a ascensão era iminente; para os destemidos e ambiciosos.

E Bruna sabia o que fazer para ascender. Sabia para onde ir.

Sonserina. A casa dos grandes e vitoriosos.

Portanto, ela não se importou em comprar o próprio uniforme no Beco Diagonal antes da Seleção de Casas, ignorando os olhares de reprovação ou arrogância dos vendedores em sua direção.

Ela sabia o que queria, quando queria, e como queria. E se certificaria de que todos também soubessem quando entrou no Expresso de Hogwarts.

Ainda que algumas pessoas fossem mais estúpidas do que a maioria.

- Como sabe que é uma sonserina antes de pisar no castelo?

A garota se prostrara à entrada da cabine, as mangas de um suéter velho escoradas ao carregar duas malas, uma de roupas, e outra de livros. Bruna mal precisou pestanejar antes de afiar a língua.

- Da mesma forma que sei que com esses óculos e essa cara de nerd, você é uma corvina.

A garota piscou, como uma tonta.

- O que é nerd?

- Deus do céu - o livro sobre suas mãos se fechara com um suspiro, como se também inconformado. Ela esperava ficar na cabina sozinha, acomodada, sem precisar lidar com as crianças burras do mundo bruxo. Mas lá estava uma delas, sentando-se à sua frente.

- E caso esteja errada? - a garota ajeitou as malas sobre o compartimento acima dos bancos, titubeando na ponta dos pés antes de voltar ao corredor a aparecer com mais duas, o farfalhar de folhas secas e capas duras em seu encalço conforme ela se movia. Mais livros, aparentemente. - Ray Delveaux.

A garota estendeu a mão, a base dos dedos manchada de nanquim, mas Bruna a aceitou mesmo assim.

- Bruna. Bruna Brandão. E eu nunca estou errada.

Seus olhos se acenderam numa centelha prateada, o cristal nas lentes refletindo um brilho cinza sobre a compreensão distante nos olhos escuros, uma imagem ilegível sob águas profundas.

- Brandão... eu conheço esse nome.

O suspiro transbordou de seu peito como uma onda de resignação.

- Uma das descendências de Merlim. Sou alguma-coisa-neta dele.

Ela odiava aquilo. Como davam valor à ela, à seu nome, apenas pela sua descendência. Ela era mais do que um velho esquecido na história. Ela seria mais do que ele.

Mas Ray não fez nada mais do que assentir e tirar uma caixa embrulhada do bolso, estendendo a palma para ela.

- O que é isso? - bolinhas coloridas e sortidas balançavam em sua mão, cada uma com uma profusão de manchas e formas diferentes. Se fosse algo de baixo custo do mundo bruxo, ela não saberia dizer.

- Feijãozinhos de todos os sabores - Ray apenas despejou mais balas sobre a mão, como se fosse convencê-la a aceitar doces de estranhas.

- Você quer me envenenar? - ela vira uma criança comendo um feijão de sabor catarro vomitando sobre o próprio irmão, apenas para que o irmão vomitasse sobre ela, e então ela vomitasse novamente. Ela nunca mais botara os pés numa loja de travessuras novamente em sua vida.

- Não, eu tiro as balas de gosto ruim e deixo apenas as doces. Cada uma tem elevação mínima na coloração, mas dá pra distinguir usando uma lupa. Gosto de comer enquanto leio.

As balas pareciam saltitar sob o movimento do trem, dançando alegres sobre sua mão ao brilharem em tons de rosa e verde e azul e amarelo. Ray descansou o braço quando ela enfim escolheu uma, tingida de um vermelho vivo, vibrante, minúscula sob seus dedos.

Sabor de cereja e calda de morango, extremamente doce. Assim como ela gostava.

- Uma nerd útil, então.


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