As cores do nosso amor

O presente

— Naruto, já disse que não posso participar desse concurso — Hinata suspirou prolongadamente. — Eu nem tenho mais um material significativo.

— Não seja por isso. — Naruto correu ao quarto e retornou com um kit novinho de pintura.

Hinata olhava do material — com diversas cores, telas novas, pincéis — para Naruto várias vezes, sem conseguir responder nada. Estava surpresa ao extremo para emitir qualquer som.

— Você não precisava fazer isso! — finalmente conseguiu formular uma resposta.

Que não era exatamente a que ela gostaria de oferecer ao garoto que a presentou com tudo o que Hinata mais amava.

— Você não gostou, hime? — Naruto retrucou, um pouco decepcionado. — Eu posso trocar!

— Não, que isso — Hinata o abraçou. — Eu amei, é só que, eu não quero te dar trabalho...

— Você foi a melhor coisa que me aconteceu, Hina. — Naruto deslizou a mão pelos cabelos macios de Hinata. — Eu só quero te ver feliz.

— Você é tão bom pra mim. — ela disse, emocionada, enquanto tentava em vão conter algumas lágrimas que já davam sinal de vida.

— Hime, por favor, prometa que vai ao menos participar. Eu vi que a primeira fase é meio que no escuro, eles avaliam a obra sem conhecer o pintor. — Naruto enxugou uma lágrima solitária que insistia em permanecer no rosto de Hinata. — Podemos bolar uma estratégia até eles divulgarem os resultados.

Hinata assentiu, se era assim, ela aceitaria. Afinal, nem ao menos tinha certeza se iria ou não passar na fase eliminatória. Ela só não sabia que seria aprovada. E, a partir dali, teria que enfrentar o pai cara a cara se realmente quisesse viver seus sonhos.

(...)

Algumas semanas se passaram, enquanto Hinata e Naruto aguardavam o resultado da primeira eliminatória. Que consistia em apresentar uma obra pintada recentemente com tema livre. No caso, Hinata escolheu o retrato de Naruto, aquele mesmo em que ela pintou em seu quarto. Apesar de não ter todas as cores que gostaria naquele momento, aquele retrato foi pintado com a alma e representava um sentimento que só crescia em seu coração. Por isso Hinata optou por apresentá-lo, mesmo com Naruto alegando que ele era feio demais e que sua cara iria estragar tudo.

— Você é lindo, quantas vezes terei que dizer? — Hinata retrucou, pela enésima vez, olhando para Naruto.

— Você é suspeita, hime. Porque gosta de mim! — ele resmungou, cruzando os braços, pirracento.

— Se eu tiver que ganhar essa competição, será pintando o que eu amo; e Naruto, eu amo você.

Ele ficou mudo, perdeu o ar, as pernas fraquejaram.

Hinata acabara de dizer que o amava? A cabeça girava e girava, ele pensava estar sonhando.

— Você. Me. Ama? — questionou pausadamente, ainda tentando assimilar o que ouviu.

— Amo — Hinata afirmou com segurança.

Naruto suspirou e sorriu com os olhos brilhantes demais. Ele tentava conter as lágrimas que já queriam cair.

— Eu sonhava com o dia em que me diria isso. — Naruto a abraçou forte e afundou a cabeça na curva do pescoço de Hinata. — Porque eu te amo demais, hime; e não é de agora.

— Eu sei. — ela sorriu, beijando suavemente seus lábios. — Desculpe se demorei a retribuir.

— Não peça desculpas. — Naruto acariciou seu rosto. — Só... aceite ser minha namorada. — finalmente tomou coragem para pedi-la em namoro.

Hinata sorriu grande e pulou no pescoço de Naruto, sua alegria transbordava pelos poros.

— Até que enfim, achei que estava me enrolando!

Naruto coçou a nuca constrangido e tirou uma caixinha de dentro do bolso, ele estava esperando o momento certo. E o momento era aquele.

— Quero que use isto, para que todos saibam que estamos juntos. Pode ser? — ele mostrou um anel com uma pedrinha azul clara e colocou delicadamente no anelar de Hinata. — A pedrinha azul é para você se lembrar de mim — e sorriu, com os olhos apertadinhos, depois pegou o outro que ele usaria. — Já esse, com o desenho de lua, é por causa dos seus olhos, que na verdade me iluminaram quando eu estava na completa escuridão.

Hinata, que já estava completamente rendida, não mais conseguiu controlar as lágrimas de felicidade.

— Naruto, eu te amo... Você, você é o melhor namorado do mundo!

Naruto a puxou para si e iniciou um beijo lento e profundo, saboreando o prazer de ter Hinata em sua vida.

— Agora eu preciso falar com seu pai para namorarmos com a permissão dele. — anunciou temeroso.

— Tudo bem, eu vou conversar com ele antes, tá? — explicou. — Não quero estragar tudo.

Naruto assentiu e a agarrou mais uma vez, querendo nunca mais acordar daquele sonho.

(...)

Os dias avançam rápidos demais, Naruto continuava fazendo acompanhamento com Inoichi, tinha voltado aos poucos a praticar esportes e estava visivelmente melhor. Tudo graças ao apoio e o carinho de Tsunade, Jiraiya, Shikamaru e Hinata, que sempre estavam por perto nos momentos bons e ruins. Os padrinhos, em suas crises de choro à noite, já o amigo e a namorada, em todos os outros momentos que podiam estar presentes.

Inclusive, Hiashi aceitou razoavelmente bem o namoro da filha do meio com Naruto. Eles tinham preparado um almoço em conjunto com as duas famílias e agora os pombinhos namoravam com permissão e até com uma certa liberdade. Pois o pai de Hinata pensava que assim ela deixaria o amor pela pintura de lado, já que tinha um namorado. Engano dele, pois Naruto era o primeiro a incentivar o talento artístico de Hinata.

Enquanto isso, Hinata continuava usando a casa de Naruto como refúgio para pintar; e, ele, consequentemente, permanecia posando para a namorada artista. Estava indo tudo bem para o casal, até que o resultado da eliminatória finalmente saiu, obrigando Hinata a tomar uma decisão: apresentar-se ao júri do concurso e seguir para a próxima fase, sabendo que teria de enfrentar o pai. Ou desistir de tudo e permanecer nas sombras, como a bela covarde que ela achava que era.

Sobre a decisão de Hinata, ela sabia, se desistisse, decepcionaria profundamente Naruto e a si mesma. Mas o que poderia fazer? O pai realmente estava irredutível e Hinata seguia ciente de que a calmaria que imperava em sua vida, era somente por ele achar que a filha tinha desistido de vez da pintura. Era uma paz fingida, alicerçada na areia, era como a quietude entre a chuva e o trovão.

Hinata não conseguia raciocinar e tomar uma decisão acertada.

— Hime... — a voz de Naruto soou preguiçosa e despreocupada. — Temos até amanhã para preenchermos sua ficha cadastral.

E foi aí que tudo começou a desandar.