Dei dois passos para trás e me virei para o lado, esperando ver o corredor, mas sinto que tive um pré ataque cardíaco ao ver, bem perto, o rosto tão familiar e conhecido de Rosé com seu sorriso gengival quase explodindo por suas bochechas.

"Por Deus, Rosé!" Digo em um tom um tanto alto e recuo um passo para trás, levando a mão em direção ao meu peito, puxando todo o ar que consigo e tentando acalmar meu coração. "São sete horas da manhã, sabia?"

Ela ri como se eu fosse sua diversão favorita. "E qual o problema de estar feliz e animada esse horário? Não é o esperado?" Curva seus lábios para o lado e mantém sua postura reta enquanto segura as duas alças de sua mochila.

"Não para mim." Retiro meu fone de ouvido.

Ela revira seus olhos. "Não enche vai." Empurra seu ombro no meu. "Tive que dar uma volta gigantesca por toda a escola só para vir com minha ilustre presença te desejar bom dia."

"Bom dia." Levanto as sobrancelhas e faço um sorriso forçado de orelha a orelha.

"Não faça mais isso de novo, fiquei com medo." Torce os lábios em uma expressão de que viu algo completamente esquisito.

"É minha cara, se acostume." Ri anasalado e fui para o seu lado para começarmos a caminhar pelo corredor em passos curtos.

"Eu sei que é, pode ter certeza que eu amo ela." Sorri com os lábios em uma curva que faz suas bochechas ficarem grandinhas como as de esquilo e coloca um braço em volta do meu ombro enquanto caminhamos como um casal torto de dois reais.

Quando eu disse que o destino me deu logo a pessoa mais contraditória de mim, eu estava me referindo exatamente a isso. Me imaginem com uma nuvem de trovões, chuva, raios e vento por cima de mim, de repente vem ela com seu sol gigantesco e brilhante e em segundos remove todas essas coisas indesejáveis do topo da minha cabeça. Consegue entender minha comparação? Tenho certeza que sim.

Nós nos conhecemos quando ainda éramos dois brotinhos no jardim de infância. Me lembro que chorei quando descobri que estava indo para a escola e não para o parque como minha mãe havia me prometido. A professora entrou em desespero ao ver que mesmo me mostrando vários brinquedos divertidos eu não iria parar de demonstrar minha infelicidade. Eu estava com o coração partido, queriam o que? Lembro também que só consegui me acalmar quando Rosé pegou em minha mão e disse que não precisava chorar pois minha mãe iria voltar. Depois disso nós começamos a crescer juntas, e quando digo isso me refiro a passar metade da minha vida ao seu lado. Somos como irmãs.

"Sua primeira aula é de...?" Ela diz cerrando os olhos e deixando a frase fluir em reticências por seus dentes enquanto paramos em uma das máquinas de doces da área da grande cantina para pegar dois Snickers, como faz todas as manhãs.

Assim como o resto do grande edifício conhecido como meu pior inimigo, o refeitório tem paredes brancas, todas enfeitadas com o brasão do nosso time esportivo e vários pôsteres. Várias mesas grandes e redondas e por fim a área com apoio de aço que passamos com nossas bandejas para receber o nosso almoço, que por sinal é horrível.

"Física, infelizmente." Digo colocando as mãos nos bolsos do meu moletom preto enquanto assisto ela abrir sua carteira e colocar as moedas na entrada da máquina uma por uma. "E a sua?"

"Acho que inglês." Por fim coloca toda a quantia de dinheiro e aperta os botões para esperar seu doce favorito descer, o que acontece em três minutos já que a mola parou e ela meteu dois grandes tapões no vidro na intenção de ser útil. E como se não tivesse acabado de rosnar para uma máquina, me ofereceu o doce com um sorriso gentil.

Eu sorri meio boba e neguei com a cabeça ao perceber a clara dualidade existente aqui e peguei o doce, guardando-o no bolso da minha calça jeans. Ela eleva uma sobrancelha ao perceber que eu estou sorrindo. "Qual a graça?" Morde metade de seu doce e voltamos a caminhar pelo corredor.

As Vantagens De Ser Invisível - JenlisaWhere stories live. Discover now