Capítulo 6

Depuis le début
                                    

Se eu fosse uma criança de cinco anos, eu provavelmente começaria a chorar e rolar no chão, me contorcendo toda pra não entrar, mas como eu não sou, eu apenas o agradeci por ter me levado até a minha sala.

Ele sorriu, e depois de pegar no meu ombro e me desejar boa sorte, saiu andando.


E pra minha sorte a sala estava meio vazia, então entrei rapidamente e me sentei na carteira da frente ao lado da janela.

Havia um pessoal no fundo, que eu não estava nem um pouco interessada em conhecer.  Até porque lá estava ele, o gordinho pervertido.


Meu deus, ele estuda na minha sala, isso só pode ser um pesadelo.

Coloquei a cabeça para fora da janela para poder respirar, meu corpo estava prestes a entrar em colapso.

Meu coração ainda estava acelerado, e a vontade que eu tinha era de sair correndo daquela escola e nunca mais voltar, mas entendo que não há vitórias sem obstáculos.

Daqui uma semana eles esquecem.

Bom, é o que eu espero.

Tirei alguns cadernos de dentro da mochila e coloquei sobre a mesa, notei que alguns colegas ainda estavam  rindo de mim, mas fingi não me importar.

—– Gostei do suéter.

Uma voz meio rouca falou atrás de mim.

Virei o rosto e me deparei com uma garota ruiva de cabelos curtos. Seu olhar era verde fosco e ela estava usando preto, bem peculiar pra um primeiro dia de aula.


—– Obrigado, minha avó quem fez pra mim  — Tentei ser simpática


—– Quem te perguntou  — Ela respondeu com uma expressão apática.

—– Ninguém.


Virei o rosto pra frente, envergonhada,  e sentindo uma vontade incontrolável de chorar.


Não foi assim que imaginei minha entrada na escola. Minha cara queimava de tanta vergonha. Certamente esse não é o meu dia de sorte.

A primeira aula foi tranquila, tirando a parte que eu tive que me apresentar pra todo mundo, mas depois ficou mais leve.


Na hora do recreio a garota da língua afiada me acompanhou, e eu estranhei sua aproximação repentina já que ela tinha me tratado de uma maneira arrogante.

—– Pra onde está indo? — Ela perguntou seguindo meus passos

—– Não parece óbvio — Respondi um pouco intimidada.

—– Posso ir com você?

—– É que...

—– Ok, eu vou...

Ela nem me esperou responder.

Durante o trajeto até o refeitório, eu fiquei incomodada com algumas risadinhas, o que me deixou bastante constrangida. Dava uma impressão que todo mundo sabia do meu tombo de mais cedo. Transformaram o meu pequeno tropeço em um verdadeiro acidente trágico para minha imagem.


Como era o meu primeiro dia, eu não estava conseguindo lidar muito bem com as críticas. As pessoas me olhavam como se eu fosse uma criminosa que tinha acabado de ser transferida de outro presídio.


—– Parem de rir, bando de otários, ou vão ficar sem os dentes da frente — A garota que estava comigo disse para um grupo de garotos aleatórios.

E por incrível que pareça, os garotos ficaram sem graça e se afastaram.


Não sabia se agradecia ou se brigava com ela por ter se intrometido.


—– Vem, vou arranjar um lugar pra gente lá na frente — Ela falou me puxando pelo braço até o começo da fila.

Não sei que expressão ela fez para as garotas, mas elas liberaram espaço rapidinho.


Sentamos em uma mesa um pouco isolada de todo mundo. Onde tinha um espelho atrás que tinha uma visão privilegiada de toda a cantina.

Assim não precisaria de câmeras.

—– O que fez foi muito errado — Falei, enquanto ela tentava abrir a caixinha de suco com os dentes.

—– Aqueles idiotas estavam rindo de você, eu só tentei ajudar — Encolheu os ombros, despreocupada


—– Não só sobre os garotos, falo de cortar a fila, intimidar aquelas garotas

—– Olha, se estivéssemos no final, não ia sobrar nem migalhas pra gente, então cala essa boca e come.

Ela ordenou levando uma garfada até a boca.

—– Não fala assim comigo, e outra, eu não te pedi pra fazer nada por mim, você que saiu me puxando pelo braço.

—– E estava tão apertado que você não podia se soltar, pelo que eu saiba, não te obriguei a nada  — Ela alterou a voz, em seguida se levantou da cadeira.

Ela se inclinou na minha direção e me encarou profundamente, e eu senti seus olhos verdes me intimidar, e confesso que isso me deu um certo medo.

Brigas eram proibidas na minha antiga escola, mas eu não sei como as coisas funcionam por aqui.

—– Olha, o que eu estou tentando dizer, é que eu não te conheço

Ela levantou a mão, e eu fechei os olhos por impulso com medo de que ela fosse me bater, mas quando abri os olhos, percebi que ela só estendeu a mão.

—– Elizabeth.

—– Ana —  Apertei a sua mão e senti como se estivesse fazendo pacto com o demônio.

Depois disso, ela se sentou e começou a comer normalmente, e eu fiz o mesmo sentindo o meu corpo tenso.

DesilusãoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant