—– Continuo preferindo o "não sou igual a todo mundo", não vou encher minha roupa de lantejoulas e sair por aí bancando a descolada, estarei sendo falsa comigo mesma.

—– Tem razão filha, só foi uma ideia idiota, fico feliz que esteja usando o suéter da sua avó, com certeza ela vai ficar orgulhosa.


Dei um beijo em seu rosto, depois  peguei a mochila e sai pela porta.


Ser descolada não faz parte da minha personalidade, pessoas descoladas são confiantes, seguras e eu pareço um animalzinho indefeso no meio de um monte de lobos famintos.


Caminhei cerca de dez minutos até chegar no ponto de ônibus, uma maratona pra mim, nunca tinha andado tanto na minha vida. Me juntei as outras pessoas que estavam ali esperando, e evitei contato visual, mas senti os olhares direcionados para mim como se eu fosse uma estranha.


Bom, eu sou uma estranha"


Durante a espera, fiquei questionando sobre o suposto vizinho. Tem dias que não vejo ele. Será que ele viajou ou foi embora.


Será que ele estuda na mesma escola que eu?

Meu corpo estremece só de pensar.

Será que ele ficou chateado pela a forma como eu tratei ele aquele dia.

Bom se ficou, ele teve mais culpa do que eu, quem fuma perto da janela do quarto de alguém.

Eu sinto que ele fez de propósito.

Bom, melhor não pensar nisso agora, preciso está atenta porque hoje será um dia importante para mim, e nenhum pensamento ruim vai estragar.


Entrei no ônibus e me deparei com várias pessoas agrupadas, todas me olhando curiosas e confusas ao mesmo tempo.

E eu até que entendo elas, qualquer um olharia para uma garota usando um suéter verde e uma mini saia.

Eu estava parecendo uma personagem de anime.


E pra piorar não tinha lugar nenhum pra sentar. Vou ter que ficar em pé correndo o risco de ser assediada por um garoto gordo que não para de me olhar como se eu fosse um pedaço de torta.


Abaixei a cabeça e passei por ele, mas inesperadamente sentir a sua mão apalpar a minha bunda, o que me assustou de imediato , mas ao invés de reagir, fiquei totalmente constrangida e senti as lágrimas molhar os olhos.

Ninguém nunca tocou em mim dessa maneira.

Senti um desconforto tão grande, que poderia desmaiar a qualquer momento. O barulho das pessoas conversando ao mesmo tempo, o cheiro das misturas dos perfumes, tudo isso estavam me deixando aflita e enjoada.

"Psiu"

Pensei ter ouvido alguma coisa, mas com tanto barulho, era difícil saber de onde vinha e se era comigo.


—– Ei, garota!

Dessa vez tenho certeza que é comigo, porque eu era a garota mais próxima ali.

Olhei para trás, mas não vi ninguém olhando pra mim, o que é estranho, será que estou ouvindo vozes?


Decidi não dá ouvidos.

Até sentir alguém agarrar meu braço subitamente.

Uma pessoa me veio na cabeça.

Ele, o garoto dos olhos mais lindos que já vi.

DesilusãoWhere stories live. Discover now