Prólogo

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Entrei em um bar e logo senti os olhares de alguns caras sobre mim, mas isso não me intimidou nem um pouco. Fui até o balcão e aguardei sentada o dono terminar a conversa que ele estava tendo com um cara, pra depois vir me atender.


Ele logo percebeu a minha presença e pediu para o cliente esperar um pouco.


Em seguida ele se aproximou de onde estava com um sorriso simpático nos lábios.


—– O que a moça vai querer desta vez? — Perguntou educadamente.

—– Sem formalidades, Tony, vou querer o de sempre.


Ele sorriu malicioso e em seguida foi até a prateleira e pegou uma garrafa de whisky.


—– O que você vendeu dessa vez ? — Ele brincou enquanto abria a garrafa e despejava a bebida no copo.


—– Nada, eu tenho dinheiro agora, digamos que estou fazendo alguns investimentos — Tentei parecer convicente desta vez

—– Investimentos, sei — Debochou

—– É sério.

Ele apoiou o braço no balcão e me observou beber todo o líquido de uma só vez.


—– Sabe que eu não concordo, não é? — Ele confessou preocupado com o meu exagero.

—– Com o quê?

—– Com isso.

Ele direcionou o olhar para a bebida que eu despejava no copo.


—– Ah, relaxa, eu sei me cuidar, tá,  não se preocupe — Dei batidinhas de leve no rosto dele, e subitamente ele agarrou minha mão e acariciou os meus dedos pra logo depois encarar os meus olhos

—– Só te vendo porque você é minha cliente vip e não quero perdê-la — Disse, me fazendo sorrir


—– Ei, se não for demorar muito aí, eu gostaria de ser atendido — Um cara resmungou ao lado


—– Bom, eu vou ali, terminar de atender aquele cara antes que ele comece a quebrar tudo — Tonny revirou os olhos, depois sorriu —  Já volto em.


Tony pode até ser um cara legal, atencioso e me tratar bem, mas não é bom confiar, não é bom confiar nos homens.

Tomei a terceira dose e senti o gosto amargo na boca, e o líquido começando a queimar no meu estômago.


—– Não faz isso com a sua vida, minha filha.

Uma voz soou do meu lado. Virei o rosto e vi o meu pai sentado.

—– E por quê não? tudo já está uma merda mesmo —  Ironizei

—– Mas você pode sair dessa, basta você querer


—– Eu não quero sair, aliás, estou fazendo uma coisa que gosto, que é beber.

—– Você não gosta de beber, gosta da sensação que a bebida te causa, alivia sua dor, é como um fuga emocional pra você, mas não é um bom caminho.


—– E daí? o que você sabe sobre isso você nem está vivo, você me abandonou primeiro que ele, e agora quer me ensinar sobre como devo viver , vai pro inferno.


Tomei o último gole, depois arremessei o copo vazio com raiva na imagem dele, mas o copo atravessou o mesmo e acertou a parede do outro lado.


O barulho chamou totalmente a atenção de Tony e das outras pessoas que estavam no bar.


—– Desculpa, eu..eu limpo —–  Gaguejei  um tanto atrapalhada e constrangida pelo incidente. Mas ao descer do banco, perdi  o equilíbrio e caí de cara no chão.

O que rendeu umas boas risadas.

—– Ops!

As risadas se intensificaram e eu me senti humilhada, com todos aqueles homens zombando de mim, e isso me encheu de raiva.


—– Pode deixar, Ana, eu limpo se não você vai acabar se machucando — Tony falou calmo apesar do constrangimento, depois ele buscou uma vassoura e uma pá.

Levantei um pouco zonza do chão, e tirei alguns notas do bolso da jaqueta, colocando-as sobre o balcão em seguida.


—– Antony, eu sinto muito mesmo, me perdoa — Implorei enquanto ele varria a sujeira que eu fiz.


Ele não respondeu, é claro, provavelmente com raiva da minha atitude inconsequente.


—– Tá, que se dane vocês todos, vão se ferrar ok...todos vocês...vão se ferrar...


Fiz um verdadeiro show naquele lugar, depois saí tropeçando em tudo e em todos.


—– Melhor chamar um táxi, você não pode sair por aí, desse jeito.

Meu pai falou, enquanto tentava acompanhar os meus passos.


—– O que aconteceu, o inferno não estava quente o bastante pra você? —  Ironizei sem olhar pra trás.


—– Falou comigo, senhora? — Perguntou uma mendiga sentada na calçada.

—– Não, eu...

Olhei  pra trás e não vi mais ninguém, depois voltei os olhos pra ela.


—– Eu estava falando sozinha —  Completei me dando conta da loucura que eu estava fazendo.

Depois que passei por ela, a escutei murmurar:


—– louca.

Ignorei o comentário dela e continuei andando, até porque eu era mesmo louca, e daqui uns dias, sou eu quem vou estar sentada junto com ela, perturbando os outros a troco de moedas para comprar bebida.

Se eu continuar nessa vida.

Para piorar a situação, um carro passou em uma poça e jogou água lamacenta em mim.


—– Filho de uma puta — Gritei, cuspindo e olhando para a minha roupa que estava toda encharcada  —  Fazendo uma breve reflexão de "Até que ponto eu cheguei".



Segui vagando como uma alma penada, no meio da escuridão, tropeçando nos próprios pés. Exposta a penumbra dos portes e ao frio da lama em meu corpo, me fazendo tremer.



Segui assim, até avistar um ponto de ônibus próximo, mas era do outro da rua, o que seria mais um desafio pra, já que eu mal me aguentava em pé, porém decidi ir mesmo assim, pondo a  minha vida em risco, afinal nada mais me importa, eu sou uma vergonha pra minha mãe e ela jamais vai querer olhar na minha cara depois de tudo que fiz ela passar.



Ao atravessar a rua, me assustei com a buzina de um carro, demorou um pouco para tomar uma decisão, a luz forte que vinha dos faróis cegava meus olhos me impedindo de distinguir a  minha real posição, quando decidi enfim sair da visão do carro, já era tarde demais


O mesmo me atingiu e fez com que o meu corpo fosse arremessado para longe até se chocar brutalmente com o chão.

Depois disso, soltei um breve suspiro e apaguei  completamente.

DesilusãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora