47_ Bilhete.

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Rain Miller

Eu sai do dormitório puxando as minhas malas e com o coração em pedaços.

Dei de cara com o Snape, ele parecia extremamente decepcionado, e ainda mais chocado por ver o meu rosto inchado, de tanto chorar.

- De todas as criações que eu já vi, você foi a que mais me decepcionou. - Falou ele com a voz severa, me entregando um papel que eu segurei firme.

Abri o papel e uma dor nova correu pelo meu corpo quando vi o que era.

O poema.

- Eu preciso que alguém acredite em mim, e eu preciso que você seja essa pessoa... - Implorei.

Ele me encarava com desdém, e então, apenas voltou a falar.

- Os seus pais estão te esperando lá fora. - Avisou antes de sair.

Estava chovendo.

O mundo parecia cair enquanto eu andava para a entrada do colégio.

Avistei os meus pais dentro do carro e comecei a andar até eles, sentindo a chuva me encharcar.

Vi uma pessoa correr até mim e parei pra observar quem era.

- Aly... - Sussurrei.

Ela me abraçou forte, e depois de tantos abraços falsos, de pessoas que eu não deveria ter confiado, aquele abraço me aqueceu.

Ela terminou o abraço e me encarou triste.

- Eu te perdoo. - Falou antes de ir embora.

Eu assenti com dor, ainda observando o lugar que ela entrou antes de entrar no carro.

Estava tocando uma música do Bruno Mars, mas o meu pai trocou de música e começou a tocar Para Elisa de Beethoven.

Às vezes, escutamos músicas que não sabíamos que amávamos, o mesmo acontece com pessoas.

- Eu não fiz nada... - Falei a verdade com o olhar baixo.

- Assim como das últimas vezes? - Retrucou a minha mãe com raiva.

Eu estava habituada com a arrogância e desprezo do meu pai, é o jeito dele "demonstrar amor", o que eu nunca vi, era a minha mãe falando com tanta repulsa pra mim.

Aquilo doeu mais que entrar na minha casa.

- Eu sei que vai parecer loucura, mas pela primeira vez, eu me senti bem em um lugar. Dessa vez, eu não fiz nada tão horrível quanto das últimas vezes. Eu não incendiei aquele escritório. - Tentei explicar para os meus pais.

Eles apenas me encararam sem reação, a decepção era demais pra acreditar na minha boca mentirosa.

- Eu quase me formei... - Ri desacreditada. - Eu me esforcei pra conseguir me formar, eu lutei pra ter boas notas, eu fiz amigos, eu me aproximei de tanta gente... eu tinha uma família.

Os meus pais não acreditavam em mim.

Entrei no meu quarto, e olhei em volta.

Eu estou aqui de novo, com todos os motivos pra me tornar aquela pessoa horrível mais uma vez.

Abri uma das minhas malas e vi a camiseta do Marcus. Eu tinha guardado ela. Peguei a mesma e cheirei sentindo o perfume dele se misturando com o meu.

Quando eu ia guardar a camiseta de volta, um pequeno bilhetinho caiu dela.

"E mesmo que a gente não dure para a eternidade, saiba, que você é, e sempre será o meu felizes para sempre.

- Marcus Ferrara, o SEU garoto do pepino e bilhetes."

Aquilo foi suficiente pra me fazer desabar, mais uma vez.

[...]

E agora, aqui eu estou.

Deitada no chão frio do quarto do meu irmão.

Eu conseguia escutar os meus pais conversando no quarto do lado.

- É inútil continuar tentando colocar ela em algum colégio, e pra ser sincero, eu não acho que qualquer escola vá aceitar ela. - Confessou o meu pai.

- Eu realmente pensei que seria diferente dessa vez... Quer dizer, ela demorou tanto pra ser expulsa, eu achei que ela tivesse encontrado o lugar dela. - Falou a minha mãe.

Eu suspirei e me virei para o lado sorrindo fraco.

- Não era suposto terminar assim, era? - Perguntei com a voz baixa.

- Nada termina poeticamente. Tudo apenas termina e a gente transforma em poesia. Todo aquele sangue que romantizaram nunca foi bonito, ele era apenas vermelho. - Respondeu o Lorenzo baixinho também.

- Sabe o pior da dor? - Ri soltando uma lágrima. - É que você precisa sentir ela pra entender.

Não teve resposta.

Eu me virei para o lado confusa, esperando uma resposta do meu irmão e abri a boca levemente.

Nada.

Não tinha nada.

Nunca teve.

Ouvi alguns barulhos na sala, o que me fez sentar no chão e encarar a mesinha que ficava do lado da cama do meu irmão.

Abri a primeira gaveta não esperando encontrar algo e arregalei os olhos, pegando o frasco que ele guardava as drogas.

Tinha um bilhete lá.

continua...

O Colégio InternoWhere stories live. Discover now