Never. H.S. - Capitulo 50

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Never. H.S.

Passaram-se segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses ou até anos que estou em casa á beira da Lucy. Estava-lhe a limpar a ultima ferida, eu penso que tenha passado 4 horas desde tudo que aconteceu...mas a verdade é que não tenho a certeza. Saiu da cama dirigindo-me á casa de banho, pôs a toalha em cima da sanita e voltei para o lugar que estava antes. A Lucy de vez em quando mexia as suas mãos, mas nunca acordará.

"Lucy." Murmurei.

"Acorda! Temos de partir á procura do teu pai."

Ela mexeu a mão, mas não abriu os olhos.

Juntei a sua mão com a minha.

Deitei-me no colchão velho, que rangeu.

Fechei os olhos e aproveitei o calor que vinha da mão da Lucy.

Ela já não está tao fria como estava á pouco.

Um progresso.

Sorriu, não sei porque.

Por talvez sentir a Lucy a ficar quente, por começar a viver?

Na verdade não sei, dava-me vontade de rir.

E comecei-me a rir, como uma pessoa que se ri de uma anedota seca que é contada pelo um amigo muito divertido.

E rir-me, até por a mão na minha barriga que já doía de tanto rir.

Alegria veio aos meus olhos, fazendo-os deitar pequenas lágrimas de me estar a rir.

Depois percebo que ninguém está a contar anedotas e que não tenho nenhum amigo divertido e que estou sozinha neste quarto com a mão dada, á minha filha que está num estado mau e que estou no quarto em que também o meu filho se encontra morto.

Depois de perceber isso tudo, a minha alegria foi se embora dando lugar á tristeza e solidão.

As lágrimas de alegria transformaram-se em lágrimas de tristeza. Caindo em flecha pelo meu rosto pálido.

Sento-me e olho á minha volta.

Levo as minhas mãos, á minha cara, cobrindo todo o meu rosto marcado pela tristeza.

'O azar pode ser a sorte. Só a precisas de encontrar.'

Ouço uma voz, que me alerta. Eu reconheço esta voz.

Mãe!

Ajoelho-me e olho para o teto.

"Mãe! Por favor! Diz-me que isto tudo vai passar! Diz-me que isto tudo é um sonho. Diz-me que o Harry está vivo e que eu o vou encontrar. Diz-me que a Lucy vai ficar bem. Diz-me!"

Levanto-me da cama, dirigindo-me á casa de banho.

Abro todas as gavetas, com tanta força que uma das portas saiu.

Vasculho aquilo tudo á procura do meu alimento.

Tiro tudo para fora, para encontrar mais rápido o objeto que quero para meu alimento de sofrimento. Aquele que te ajuda sempre que te sentes morta e que tens dor e essa passa para o teu alimento.

Os meus olhos observam o objeto deitado no chão á minha espera.

Pego nele, olhando-o com fome.

Olho para o meu braço. Este também já tem marcas do passado, está cheio delas. Todas elas bem visíveis.

Estou a imagina-lo cheio de sangue, cheio de perfurações feitas por mim. Feitas pelo meu sofrimento.

Pego na lâmina, encosto-a ao meu pulso, por cima de outra marca. Se já sofri no mesmo sítio porque não sofrer outra vez?

Ele foi aberto pelo sofrimento do passado e será aberto pelo sofrimento do presente.

Fecho os olhos e pressiono a lâmina na minha pele, perfurando-a.

Sinto a minha pele abrir novamente, sinto o ardor da lâmina a raspar na minha pele, fazendo-a rasgar. Sinto o sangue nas veias andar mais depressa, fazendo este sair do meu pulso e escorrer pelo meu braço.

Abro os meus olhos, observando o que tinha acabado de fazer.

O sangue saia do meu pulso com rapidez. A minha pele estava aberta, para deixar o sangue escorrer para fora.

Comecei-me a rir do que se estava a passar, parecia tudo magia que eu tinha acabado de fazer. Naquele momento pensei em ter magia. Mas a magia era o sofrimento em que eu estava.

NEVER. H.S. (Concluída)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora