— Não... o senhor irá sobreviver...

— Carter...

— Sim majestade! — Apolo responde terminando de enfiar uma espada em algum dos homens.

— Leve-a daqui.

— Papai...

— Agora mesmo senhor.

Apolo segurou a minha mão e me puxou contra a minha vontade para longe de todo o caos, me trancando em um dos banheiros do andar inferior do castelo. Eu nunca havia me sentido tão impotente em toda a minha vida.

— Fique aqui! Irei buscar a sua família.

— Não! Eu tenho que ir junto... tenho que voltar... meu pai...

— Eu o trarei, juro com a minha vida.

— Eu já disse que vou! — digo tentando empurrá-lo e ele aperta meus braços.

— Cecília eu não aguento perder você! — ele grita fazendo-me paralisar.

— E eu não aguento perder mais ninguém! — respondo sentindo mais lágrimas descerem. — Se você voltar lá...

— Eu irei voltar para você.

— Já escutei isso antes.

— Eu prometo. — ele responde e me beija de forma ardente, como se estivesse se despedindo. — Eu amo você.

Não tive tempo de responder que também o amava de volta. Apolo trancou a porta e saiu correndo antes que eu pudesse impedi-lo. Os minutos que se passaram foram excruciantes. O barulho de gritos era insuportável.

Tentei abrir a porta de todas as formas e antes que eu torcesse a minha mão de tanta força que usava, o barulho da chave surgiu e Violetta entrou dentro do cômodo, com o braço machucado. Mamãe foi a próxima. O barulho cessou.

Nós três estávamos no chão, sem ressoar uma única palavra. Não havia nada a ser dito. Mamãe em algum momento se mexeu, como se sentisse que deveria dizer algo, mas não conseguiu. Ela não tinha forças, e nós também não. Apenas chorávamos em silêncio.

Senti meu coração se afligir ao ouvir a porta ser destrancada novamente, e quando abrimos, só havia o corpo de Bella ao chão. Não consegui olhar para a minha irmã. A dor pungente em meu peito me deixava estática. Mamãe a envolveu nos braços em uma cena inteiramente dolorosa, e eu olhei para a porta aberta por um bom tempo sem conseguir respirar.

Apolo não voltou.

Eu não queria sair. Não queria ir lá fora e encontrar o corpo do meu pai sem vida. Não queria descobrir a razão pela qual Apolo não havia mais voltado. Só queria acordar de todo o pesadelo em que eu me encontrava. Não queria ter que aguentar mais nada... não queria..., mas eu tinha que fazer. Papai havia me mandado ser forte, e eu seria.

Valente como um leão, forte como um dragão.

Me levantei sem saber como as minhas pernas reagiram. Ao início da estação eu era apenas uma princesa preocupada com qual penteado eu usaria para o baile de minha coroação. Agora, eu não sabia mais quem eu era. A única coisa pela qual eu possuía certeza, naquele instante, era de que eu precisava sair. Calar a minha dor e enfrentar a dura realidade em que eu me encontrava.

Dei um passo de cada vez saindo do banheiro, e ignorei a voz de mamãe e de Violetta ao fundo pedindo que eu voltasse. Peguei uma faca ao chão e engoli uma saliva. Os corpos dos homens que se encontravam no caminho me causaram repulsa, e eu agradeci mentalmente por todos os funcionários do castelo terem ido à Fortaleza Sangrenta. Não conseguia mais ver ninguém morrer.

Quando cheguei ao salão, parei de andar. Apolo estava ajoelhado ao lado do corpo de papai com a roupa coberta de sangue, não sendo possível distinguir se era dele ou de outras pessoas.

Larguei a arma ao chão e encontrei seus olhos escuros marejados. Saltei todos os corpos empilhados ao meio do caminho e me joguei nos braços de Apolo, chorando compulsivamente ao ver meu pai completamente imóvel.

— Eu não consegui salvá-lo... ele pediu que eu levasse suas irmãs e sua mãe primeiro... eu tentei...

As palavras dele foram interrompidas com um choro alto. Violetta correu em nossa direção completamente desolada e se jogou também ao corpo de papai. Tudo parecia girar em câmera lenta enquanto a reação de minha irmã passara de desespero para dor e raiva.

— Como ele pôde? Como ele pôde matar o nosso pai? — ela pega uma espada da bainha de um soldado morto ao chão e segura com força. — Onde está o corpo daquele desgraçado? Eu não me importo que ele esteja morto, eu irei fazê-lo em pedaços...

— Princesa Violetta... — Apolo sussurrou balançando a cabeça e nós nos entreolhamos ao perceber que algo estava errado.

— Carter? — ela incentivou, olhando ao redor em completo desespero ao perceber que o corpo do nosso tio não estava mais no local que deveria. O peito de Apolo sobe e desce em uma respiração pesada antes que ele pudesse soltar a pior notícia que poderíamos ter ouvido naquele exato momento.

— O corpo de Oliver desapareceu.

Inquebrável Coração Where stories live. Discover now