QUARENTA E DOIS

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Passo praticamente toda a manhã explicando para o meu assistente tudo que ele precisa saber.

Como lidar com o pessoal do obra, para quem ligar e o que fazer em cada possível situação que pode aparecer.

A faculdade nos ensina muito, mas há coisas que só se aprende vivenciando. Para a minha sorte, ele parece bem mais interessado nessas novas obrigações do que parecia com as tarefas corporativas do escritório.

O garoto me enche de perguntas e fico feliz em responder tudo enquanto avançamos com cuidado pelo terreno enlameado.

Ele fica bastante confuso quando vê que em algumas partes do projeto não optei pelo mais prático e fácil, então detalho quando é melhor seguir o caminho rápido e quando é indicado seguir seu sexto sentido de arquiteto e ir com o que você acredita que melhor vai se encaixar ali, mesmo que seja mais trabalhoso.

Nós dois ficamos tão concentrados adiantando o trabalho que mal vejo a manhã inteira passar.

Ao meio dia, noto que o sol surge entre as nuvens cinzas e tiro meu cardigã, jogando-o na cadeira. O calor provavelmente vai voltar.

— E aqui nós vamos destruir essa parede — Explico a ele, apontando para a planta baixa aberta à minha frente na mesa.

Diego, que estava distraído olhando para alguma coisa atrás de mim, assente e se levanta, vindo para o meu lado.

Agora estamos ambos em pé inclinados sobre a mesa, de costas para as portas de vidro do salão. Ele se inclina para apontar alguma coisa e aproxima seu rosto do meu.

— E essa outra parede fica, certo? Por causa da viga de sustentação?

Eu abro a boca para responder, mas paro quando Diego coloca o braço ao redor da minha cintura e me abraça de lado, com mais intimidade do que jamais dei a entender que ele tinha comigo.

Encaro a mão dele, sem reação.

O que você pensa que está fazendo?

— Shhh, estou te ajudando a dar a se vingar — Ele sussurra no meu ouvido —,  Aidan Rael está vindo na nossa direção e pensei que poderíamos dar o troco pelo o que ele fez com você.

Meu rosto fica pálido. Ah não, essa é uma péssima ideia, terrível ideia.

— Você o quê...?

Eu ouço um pigarro forte e irritado atrás de nós dois.

— Hum... Estou interrompendo?

Eu dou um tapa forte na mão de Diego e giro o corpo, encontrando um Aidan nada feliz parado à minha frente.

Ele está completamente sério, as mãos enfiadas no bolso da calça na intenção de passar uma pose relaxada e fingir que não está puto — mas eu o conheço o suficiente para saber que está.

No lugar dele, eu também ficaria no mínimo incomodada se visse um desconhecido agarrando a pessoa que eu gosto daquele jeito.

— Aidan, oi! — Abro um sorriso sem graça. — Veio até aqui embaixo ver o progresso da obra?

Ele apenas balança a cabeça em negativa.

— Na verdade, vim ver você. Não respondeu as minhas mensagens o dia inteiro.

Diego ergue a sobrancelha e sorri com deboche, como que pensando em um comentário engraçado porém decidindo guardar para si mesmo.

— Desculpe, estive ocupada e não chequei o celular.

MORDE E ASSOPRAOnde histórias criam vida. Descubra agora