Capítulo 54

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Elisabeth ria abertamente enquanto corria pela estrada. Conseguia sentir o coração acompanhando os ritmo, os músculos trabalhando, e os pulmões se enchendo de ar, mas incrivelmente nenhum deles parecia dar sinal de cansaço, ela estava correndo à toda velocidade em direção a base e mesmo assim mal estava ofegante. Soltou uma risada alta, mesmo sabendo que perderia fôlego com isso e começou a diminuir o ritmo. Não havia mais dúvidas, aquilo era estranho demais pra ser normal, e nada lhe tirava da cabeça que toda aquela resistência tinha haver com o soro que Allan injetou nela. Só esperava ter tempo pra tirar as suas dúvidas antes que o cientista tivesse que desaparecer.
Ela retirou a calça e a blusa que estava usando e colocou o vestido que tinha tirado de dentro da mala e carregado nas mãos esse tempo todo. O resto do caminho se concentrou em acomodar as armas no corpo e esconde-las da melhor forma possível. Manter o aspecto desalinhado e cansado também era fundamental para o plano, por isso jogou os sapatos no meio da estrada e saiu pisando no asfalto, que à essa altura já estava frio.
Uma luz forte de uma torre pequena que havia na base a atingiu antes mesmo que pudesse perceber que havia chegado, e cegou a sua visão por alguns segundos. Tinha chegado a hora de entrar no personagem.
Ela continuou caminhando com o rosto cansado, com as mãos acima da cabeça por ouvir os gritos dos soldados pra que deixasse de avançar, e fingiu desorientação. A luz ainda iluminava o seu rosto, e ela sabia que essa era a razão pela qual eles ainda não tinham atirado. Usar vestido, e o artifício de ser uma mulher frágil naquele momento era a sua carta na manga para entrar na base sem ser considerada um perigo. Ela cresceu em bases militares, e sabia que nenhum cidadão tinha permissão para entrar nesses lugares sem algum tipo de autorização, mas por conhecer tão bem esses ambientes, sabia que quase todos os militares não viam perigo algum em uma mulher, ainda mais quando ela estava no mesmo estado que Elisabeth se encontrava. Ali era um lugar deserto, então eles obviamente não deixariam ela à própria sorte.

-Senhorita! -exclamou um soldado, segurando no seu braço.-Preciso que se identifique...

-Eu...-uma lágrima escapou dos olhos dela, e a expressão de confusão tomou conta do seu rosto. -Eu estou perdida...eu...-engoliu em seco, como se a boca tivesse seca e começou a fraquejar nas próprias pernas.

-Preciso de ajuda aqui! - esse mesmo soldado gritou.

A luz forte se apagou, e outro soldado apareceu no seu campo de visão para ajudar à carrega-la para dentro. Mais fácil do que Elisabeth imaginou, ela ultrapassou as grades de arame e foi carregada para dentro da base militar sob o olhar dos soldados curiosos que ali estavam. Demonstrar pouco força, também diminuía o interrogatório deles antes que finalmente decidissem permitir a sua entrada. Conhecia os procedimentos, e estar bem significaria uma quantidade enorme de perguntas, seguido da analise do grau de periculosidade que ela apresentava, todavia, se estivesse a ponto de um desmaio eles procurariam reanima-la antes de exigir qualquer resposta.
Observou discretamente tudo o que havia ao redor, e deixou-se ser guiada para dentro da base pelos dois soldados. Era óbvio que eles a estavam levando para a enfermaria, então quando viu que o caminho estava livre e vazio o suficiente, apoiou o peso nos ombros dos dois, ergueu as pernas no ar e usou o peso e a gravidade para rodopiar e derrubar os dois no chão. Elisabeth não tardou em finalizar o serviço ou perder tempo com brigas, pressionou a têmpora de ambos e desmaiou os soldados de forma rápida e silenciosa.
Abriu a primeira porta que achou com cuidado, e arrastou os corpos com força até o que parecia ser um dormitório.

-Argh! Que peso! O que eles colocam na comida de vocês? -resmunga, movendo os ombros. -Hum...vamos ver...é...você é menor...então vai me emprestar a sua roupa.

Andar de vestido por aí não seria discreto, e muitos menos confortável para fugir de uma prisão. Então ela trocou mais uma vez de roupa e tratou de amordaçar e amarrar os dois homens caso acordassem antes da hora. Não havia uma forma de trancar a porta daquele quarto, por isso antes de sair ela realmente torceu pra que o dono não decidisse passar por ali durante um bom tempo. Sim, agora tinha chegado a parte mais complicada do plano, e a única que não tinha a mínima noção de como elaborar: onde exatamente estava Allan? Não tinha conseguido reunir essa informação, mas pelo o que Richard tinha comentado sobre a operação contra o povo de Black Rose, havia mais de um general responsável por aquela base. Até agora o General Clarke e Collins foram os dois à serem descobertos, e com certeza ajudaria muito que nenhum dos dois estivessem ali naquele dia. Porque eram os únicos que poderiam reconhece-la sem esforço algum.
Arrumou a boina verde na cabeça para esconder os cabelos e saiu andando pelos corredores com passos apressados. Precisava ser rápida, e pensar numa solução antes que os soviéticos chegassem, porque ela sabia que naquela altura eles já deveriam estar procurando por Oliver. Vagou um tempo pelos corredores, lendo as placas que identificavam as salas à procura de alguma pista. Mas sabia que não encontraria: "Allan está preso aqui" escrito em uma delas. Por isso, depois de muito pensar e andar apreensiva pelos corredores, Elisabeth tomou a decisão mais estúpida do mundo e deixou-se ser guiada pelas placas com passos decididos. Ela iria cometer uma loucura, da qual provavelmente se arrependeria depois, mas com a limitação dos recursos que tinha seu cérebro já tinha calculado que aquela seria a melhor opção.
Becker soltou um suspiro alto quando chegou ao destino final, tinha seguido as placas até ali sem nenhum problema. Os soldados que cuidavam daquela base supostamente deveriam estar rondando por ali, mas naquele horário ou a maioria estava indo dormir, ou trocando de turno com aqueles que estavam lá fora. A questão é que até ali não tinha cruzado com nenhum soldado que pudesse estragar o seu disfarce antes do tempo, e foi isso que a fez girar a maçaneta da porta com certa tranquilidade de que ninguém estava perto o suficiente para ouvir o que aconteceria.
   A idéia era com certeza arriscada, mas se tornou ainda pior quando reconheceu a figura do homem sentado no fundo da sala, atrás de uma mesa de mogno escuro, exatamente no local onde o general da base deveria estar. Não havia uma placa indicado que o general deveria necessariamente estar ali, mas juntando o conhecimento que tinha das estruturas da maioria das bases, às informações que encontrou no caminho, ela sabia que estava no lugar indicado, e os olhos do general Clarke encontrando os seus foi claramente uma confirmação.
     Ela travou por alguns instantes, digerindo a variável que o seu cérebro não tinha calculado, e depois adentrou a sala e fechou a porta.

Agent Becker 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora