Capítulo 08 - Que nem você

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Não que me concentrar em Eduardo fosse uma boa alternativa. Eu não sabia me comportar muito bem na frente dele. Minha língua ficava coçando para perguntar se era ele que cantava no chuveiro. Minhas mãos queriam tocar aquele cabelo espetado para ver se ele era naturalmente espetado ou se ele tinha um ritual de gel todo dia de manhã. Eu queria sorrir toda vez que ele sorria, e ele estava sorrindo o tempo todo, o que era muito estranho. E fazia minhas bochechas doerem, sorrir tanto assim.

― Péssima – respondi.

― Por que péssima? – ele riu e meu sorriso o seguiu.

― Eu disse que eu não era muito boa em flauta...

― Quebrou copos, então?

― Não. Errei as notas. Continuo errando – dei de ombros. – Minha professora insuportável disse que não vou nem participar da apresentação final, se eu continuar assim.

― Acho melhor você começar a cantar, então – ele disse, fechando os talheres sobre o prato, simbolizando que tinha terminado de comer. – Ou não vai participar de nenhuma apresentação final.

― E aí o que eu vou dizer para meu pai? – choraminguei.

― Nada, porque você vai cantar e se apresentar, ora – ele interrompeu meu momento mimimi. – Quer dizer, você vai dizer “pai, apresentação, tal dia, tal hora, venha”.

― Eu não sei cantar, Eduardo – respondi. – Que coisa. É capaz deu quebrar copos de verdade.

― Duvido.

― É sério – terminei também meu almoço. Inclusive, eu já estava atrasada para o sacrifício. Digo, para a aula de flauta. – Eu nunca cantei.

― Nem no chuveiro? – ele perguntou, quando nós nos levantamos da mesa.

Senti uma pontada no coração. Que tipo de pergunta era essa? É MEU MOMENTO. Eu preciso perguntar para ele.

― Só no chuveiro. Você também can...

― Onde vocês vão? – Lila me interrompeu e eu quis dar um tapa nela. Não acredito!

― Pra aula – Eduardo respondeu. – No caso, eu vou pra bateria. Amanda vai pra flauta. Vocês não deveriam ir também?

― Ah! – Lila suspirou, como se desse conta da vida. – Nós já vamos. Nos encontramos mais tarde, então?

― Claro – respondi. Porém, a verdade era que eu ia adicionar os dois à minha lista de fuga. Logo abaixo de Bruno.

Eu e Eduardo saímos do restaurante em silêncio. O momento tinha passado e não era dessa vez que eu ia descobrir se era ele no chuveiro ou não. Nós viramos no corredor dos elevadores, ainda sem falar nada. Paramos na frente dos elevadores, esperando um chegar. O corredor estava vazio, o que fazia o clima entre Eduardo e eu ficar ainda mais pesado. Alguém quer uma fatia de torta de climão?

O elevador não chegava nunca. Se minha aula não fosse no sétimo andar, eu ia de escadas.

― Acho que vou de escadas – Eduardo disse. – Minha aula é no terceiro e está bem em cima da hora já.

Eu abri a boca para dizer que tudo bem, mas nesse exato momento vi Bruno saindo de uma das portas no final do corredor. Nossas visões se cruzaram e eu sabia que ele ia se aproximar no momento que Eduardo saísse de perto.

― Não! – respondi com um ligeiro desespero, segurando seu braço. – Por favor, fica só mais um pouco.

― Por que? – ele olhou em volta e, se percebeu Bruno, não disse nada.

Acampamento de Inverno para Músicos (nem tão) TalentososOnde as histórias ganham vida. Descobre agora