Capítulo 10 - Aparições

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Sexta, 5 de maio.

Bom dia. Hoje foi o funeral do Miguel. Foi aqui como ele tinha pedido aos pais, eles estavam mesmo devastados. Perder um filho deve ser horrível. A mãe do Miguel teve umas complicações no parto dele e a partir daí não pôde ter mais filhos. Deus dá asas a quem não pode voar. Ela é uma mulher cheia de paciência, ótima para crianças.

No funeral vi o Miguel, ele estava mergulhado em lágrimas. Não sabia que os fantasmas conseguiam chorar, como ele disse, eles não sentiam nada, o que é estranho porque se ele não sentisse nada não viria falar comigo nem chorar por ver os pais assim, nada é nada, nem amizade nem amor por isso...
A minha mãe voltou da lua de mel mais ou menos duas horas depois do funeral. Ela ainda não sabia da notícia. Perguntou-me se tinha morrido alguém porque eu estava toda de preto, ela diz me sempre isto quando visto preto, enfim, eu respondi-lhe em lágrimas e contei-lhe o ocorrido. Ela e a mãe do Miguel eram melhores amigas desde a primária, talvez por isso é que eu e o Miguel éramos tão próximos. A minha mãe ligou-lhe para dar os sentimentos e disse-lhes para vir cá jantar, eles aceitaram. O Ricardo também estava cá, a minha mãe não perguntou nada acerca disso. Perguntei-lhe se ele podia ficar para jantar e a minha mãe disse que podia, sem problema algum.

Às oito horas eles chegaram e a minha mãe pôs a mesa. Ela não sabe cozinhar muito bem, o que me preocupou. Eu ofereci-me para cozinhar mas ela recusou. O jantar até estava mais ou menos, provavelmente ela aprendeu a cozinhar melhor na lua de mel ou foi apenas sorte, não sei. A cozinha vestiu-se de silêncio. Até que a mãe do Miguel perguntou se eu e o Ricardo éramos namorados. Eu e a minha mãe respondemos ao mesmo tempo mas respostas diferentes. Ela disse "são amigos" e eu disse "sim". Ela olhou-me com cara de tipo * porque não me contaste???? * Achei piada à cara que ela fez e pelos vistos a mãe do Miguel também.

Eles foram embora perto das dez horas, estivemos a jogar Uno até essa hora. Eu, a minha mãe e o Ricardo arrumamos a cozinha. O meu padrasto foi para o quarto, acho eu. A minha mãe resolveu fazer o seu papel e perguntou-me baixinho se o Ricardo tinha dormido cá, eu disse que sim. Ela não pareceu muito preocupada. Fez perguntas ao Ricardo sobre a sua família, que não havia muita coisa a dizer porque ele vive com o pai, o pai e a mãe são divorciados desde que ele nasceu, e o pai era muito ausente, estava sempre a trabalhar. A minha mãe perguntou-lhe se ele queria passar cá a noite na condição de ficar no sofá, ele disse, obviamente, que sim. A minha mãe disse para ele ficar no sofá mas não disse nada acerca de eu ficar também. Era muito desconfortável por isso a meio da noite fomos para o meu quarto.

Por volta das quatro da manhã, eu já estava a dormir e ouvi alguém a chamar-me. Acordei e vi o Miguel, fui até ele e estivemos a falar, dito isto pareço uma autêntica doida mas não quero saber, o Ricardo acordou com o barulho que eu fiz e chamou-me. Ligou a luz e foi buscar-me ao outro lado do quarto. Eu disse-lhe que estava a falar com Miguel mas ao que parece ele não consegue acreditar por mais que queira.

RefúgioWhere stories live. Discover now